Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Estadão quarta, 19 de maio de 2021

PROJETO DE NEIL LaBUTE COM DEZ MONÓLOGOS, REVELA A COMPLEXIDADE HUMANA

 

Projeto de Neil LaBute com dez monólogos revela a complexidade humana

No espetáculo ‘Dez por Dez’, que poderá ser visto gratuitamente no site do Teatro Unimed, a partir de quinta, o elenco fala direto para câmera, sem interrupções

Ubiratan Brasil, O Estado de S.Paulo

19 de maio de 2021 | 05h00

Homem confessa sua paixão pelo futebol a ponto de se envolver em brigas nos jogos do filho na escola, enquanto mulher revela sua participação em um triângulo amoroso formado pela amiga e o namorado. Eis duas histórias de um conjunto de dez monólogos que formam o espetáculo Dez por Dez, atos confessionais cuja franqueza verbal tira o fôlego do público, que poderá acessá-los gratuitamente no site do Teatro Unimed, a partir de quinta, 20.

Escritos pelo dramaturgo e cineasta americano Neil LaBute, os monólogos foram criados em 2014 especialmente para exibição no Audience Channel, na TV americana, e seguem uma regra básica: com duração de dez minutos, cada um traz o elenco falando diretamente para a câmera, em tempo real, sem cortes ou edições - a interpretação, sempre limpa, necessita revelar rapidamente o conflito.

 

“Além de ser um excelente exercício de atuação, permite ao ator criar um vínculo com o espectador”, comenta Leopoldo Pacheco, intérprete de um homem de meia-idade que, no discurso, logo se revela uma pessoa racista e homofóbica. Trata-se de um dos diversos perfis humanos com que LaBute exerce a habilidade para narrar dramas sem reservas ou moralismo (conheça os demais abaixo).

  
Leopoldo Pacheco vive o homem que se revela racista em 'Dez por Dez'. Foto: Pedro Pupo

A reportagem acompanhou a filmagem de sua cena, no sábado à tarde, no restaurante Casimiro, localizado no edifício onde está o Teatro Unimed, na região da Avenida Paulista. Foram quatro tomadas em que Pacheco ofereceu variações sutis na interpretação até atingir o ponto ideal. “Foi maravilhoso retomar um trabalho que remete ao teatro, depois de mais de um ano afastado dos palcos por causa da pandemia”, disse ele, visivelmente emocionado. “E justo com o texto sobre um homem horrível, mas que infelizmente reflete bem o que muitos pensam na realidade.”

“LaBute compôs um arco de emoções, que vai do drama à comédia”, observa Guilherme Leme Garcia, diretor das dez atuações que foram filmadas por seu irmão, o cineasta e diretor de fotografia Gustavo Leme. Juntos, eles se mantêm fiéis ao conceito original do projeto, filmando os atores estáticos, em preto e branco, com o olho na câmera. Mas acrescentaram detalhes sofisticados. “Fomos em busca de uma estética documental da fotografia, a partir de trabalhos de nomes como Cartier Bresson, Peter Lindbergh, Annie Leibovitz”, observa Gustavo. 

De fato, LaBute apresenta um retrato do homem contemporâneo que, por sua natureza contraditória, consegue deixar o mundo fora do eixo. A forma direta de sua escrita, porém, já lhe rendeu comentários pouco elogiosos (misógino, chauvinista, moralista), mas seus defensores garantem que LaBute traz em suas observações sobre os homens algo que outros autores contemporâneos ainda não trabalharam com autoridade: o senso de pecado.

“Eu pretendia que Dez por Dez se parecesse com uma experiência bonita, conectada, totalmente realizada, e não apenas uma peça que estava sendo lida para o público por atores talentosos ou conhecidos”, disse LaBute ao Estadão, em entrevista realizada por e-mail. “As palavras são sempre essenciais para mim - elas são a porta de entrada para tudo o que faço ou tento fazer, então sou muito cuidadoso com o que escrevo e tento apresentar ao público.”

A observação encontrou eco entre os atores brasileiros envolvidos no projeto. “LaBute endereça a fala”, comenta Denise Fraga. “O texto é muito direto, simples, e dá a impressão de se tratar de uma pessoa falando naturalmente, sem artimanhas dramatúrgicas. São dez janelas com pessoas falando direto para você. O plano-sequência de 10 minutos dá mais crueza e coloca o espectador como um terapeuta, um amigo, enfim, outro personagem.”


 

Denise Fraga faz a mulher que viveu eventos trágicos.  Foto: Pedro Pupo

“O texto é divertido e, ao mesmo tempo, profundo”, complementa Ícaro Silva, intérprete do homem que relata o sonho bizarro que teve com uma mulher que viajou ao seu lado, em um avião. “Os monólogos dialogam com nosso tempo, que é encarado de frente.”

Denise contou ao Estadão que decidiu participar do espetáculo quando chegou ao final de seu texto - ela vive uma mulher que, depois de eventos trágicos, revela o desejo pelo suicídio - e, ao final, busca a cumplicidade do espectador para ajudá-la a desistir desse desejo. “Essa mulher sente algo muito comum hoje, que é atingir um limite, o momento em que não se sabe mais como prosseguir. Guilherme pediu para que me aproximasse da dor dessa mulher. Ela tem uma avaliação sobre si mesma assustadoramente lúcida, muitas pessoas vão se identificar, pois são pensamentos que passam pela cabeça das pessoas.” 

Nascido em Detroit, em 1961, Neil LaBute estreou no cinema em 1997, com Na Companhia dos Homens, cuja virulência masculina contra mulheres frágeis cravou-lhe a fama de misógino. Mas logo a força de sua dramaturgia se impôs - críticos entusiastas logo compararam suas peças às de Strindberg, Ibsen e Albee em início de carreira. A maioria, no entanto, o equipara a David Mamet. O segredo, portanto, está na carpintaria do texto. “A prosa de LaBute é meticulosamente construída”, atestou, certa vez, Monique Gardenberg, que dirigiu Baque em 2005, primeira montagem brasileira de um trabalho do dramaturgo. “Cada detalhe é cuidadosamente revelado no momento certo, como em uma equação matemática, e, quando o castelo está todo construído, LaBute o destrói sem piedade.”

Monique está à frente da Dueto Produções, empresa que produz Dez por Dez, aumentando a sequência de peças escritas pelo autor americano. “São espectros que revelam a complexidade da natureza humana”, comenta Guilherme Leme, que já dirigiu outro espetáculo de LaBute, A Forma das Coisas, em 2010. Ele e Gustavo são responsáveis pela adaptação dos textos, buscando sempre referências mais próximas ao público brasileiro.


 

Ícaro Silva interpreta o rapaz que tem um sonho bizarro. Foto: Pedro Pupo

No ano passado, uma versão de Dez por Dez foi encenada nos Estados Unidos via Actor’s Studio que, desde 2013, em sua unidade de St. Louis, homenageia LaBute com um festival anual de novos talentos do teatro. Por ser um conjunto de monólogos, o projeto ganhou mais destaque diante do isolamento social provocado pela pandemia de covid

“O tipo de performances teatrais filmadas que cresceram desde o ano passado traz indicativos da intimidade que eu estava tentando alcançar com a série”, conta LaBute, na entrevista. “Uma pessoa falando diretamente para outro espectador (ou espectadores) é o que tenho visto nos últimos doze meses ou mais.”

Zeloso de sua escrita (“as palavras são o tijolo e a argamassa da minha profissão - eu as amo e as trato com o maior respeito”), LaBute curiosamente se revela dividido com a improvisação dos atores quando encenam seus textos. “Permito a improvisação que, às vezes, é ótima, mas outras, não. Não gosto da possibilidade de que alguém acredite que pode rapidamente ter uma ideia, palavra ou frase melhor do que aquelas que tenho lutado para criar por um longo período de tempo. Mas, quando consegue, é como mágica e adoro isso.”

Questionado, na entrevista, sobre se considerar um autor político, LaBute primeiro se revelou surpreso com a pergunta, para então dizer que não. “Estou muito mais interessado na geografia do desejo e em como meus personagens se relacionam (ou não) entre si do que com sua atitude política”, justifica.

A cada semana, serão exibidos dois novos monólogos de Dez por Dez no site do Teatro Unimed. E os primeiros serão os de Angela Vieira e Johnny Massaro. A visualização é gratuita e o público será convidado a colaborar com doações para o Fundo Marlene Colé, em prol dos trabalhadores do teatro em situação de insegurança alimentar devido aos efeitos da pandemia.


 

Os atores e seus personagens

 

  • Angela Vieira - mulher de 60 anos conta sobre um momento do seu passado, quando viveu uma relação que se resumiu a um único beijo, que a marcou para o resto da sua vida.
  •  Leopoldo Pacheco - homem de 60 anos expõe sua resistência a mudanças de hábitos e costumes na sociedade. Aos poucos, revela-se um racista conservador e intolerante com imigrantes.
  •  Denise Fraga - mulher de 50 anos relata uma sequência de eventos trágicos em sua vida e revela, explicitamente, o desejo pelo suicídio. 
  •  Eucir de Souza - homem de 50 anos discorre sobre o orgulho de estar casado há 30 anos, não suportando separações nem enlaces no mesmo sexo. Logo, revela-se um homofóbico radical.
  •  Pathy Dejeus - mulher de 40 anos conta como era frequentemente espancada e abusada emocionalmente por seu marido. Ela foge de casa e acaba se relacionando com outra mulher.
  •  Bruno Mazzeo - homem de 40 anos tem um filho que joga no time da escola e, acompanhando um dos jogos, ele se envolve em uma séria briga com outro pai. 
  •  Chandelly Braz - jovem de 30 anos fala sobre um acidente de trânsito em que uma amiga morreu enviando uma mensagem para o namorado. 
  •  Ícaro Silva - homem de 30 anos conta sobre o incômodo com a vizinha de poltrona em uma viagem de avião. Quando dorme, sonha que vivem uma relação amorosa bizarra.
  •  Luisa Arraes - menina de 20 anos é traída pelo namorado e passa a ter relações afetivas sem sentido, como forma de vingança.
  •  Johnny Massaro - garoto de 20 anos, incomodado com a iminência da calvície, revela um profundo amor pela mãe, acreditando ser a única mulher que o aceitará careca.

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