AUGUSTO FERNANDES
JULIANA ANDRADE
ESPECIAIS PARA O CORREIO
Publicação: 25/11/2018 04:00
Desde 1972, Celso Vendramini alegra as festas das crianças: %u201CPrecisa ter vocação e gostar de criança. Sem isso, não tem Papai Noel%u201D |
Ele tem a barba branca e comprida, veste roupa vermelha e carrega um saco cheio de presentes. Sim, estamos falando do Papai Noel. No shopping, ele faz sucesso. No meio das lojas e do vaivém de pessoas, adultos e crianças fazem fila para tirar uma foto ou entregar uma cartinha para o bom velhinho. Com o Natal batendo à porta, cresce a caça dos estabelecimentos comerciais pelo personagem mais simbólico deste feriado. De acordo com estimativas de empresas de recrutamento de Papais Noéis, pelo menos 42 devem atuar até 25 de dezembro nos shoppings da cidade.
O mercado envolvendo a contratação de candidatos para interpretar o símbolo natalino deve movimentar aproximadamente R$ 250 mil este ano. Com salários que variam de R$ 6 a 12 mil, os profissionais trabalham entre seis e oito horas por dia, com direito a uma folga por semana. “É a figura que melhor caracteriza o Natal. Além da imagem comercial, traz uma mensagem de alegria e esperança para as crianças. Por conta disso, o movimento nos shoppings sempre é grande nesta época do ano”, comenta Wânia Cristina de Moraes, sócia-proprietária do Grupo Ciranda, agência de empregos no ramo há mais de três décadas.
A empresa tem 10 profissionais no quadro. Para corresponder à expectativa do público, um bom Papai Noel tem que cumprir uma série de requisitos. “O processo seletivo começa no meio do ano. Fisicamente, é importante que ele seja gordinho, tenha a barba natural e bem cuidada. Se tiver olho claro, é ainda melhor. Ele também tem que ser simpático, ter paciência, saber ouvir e conversar, além do mais importante: gostar de crianças”, destaca Wânia Cristina.
Atendendo a todas as exigências, Olídio dos Santos, 62 anos, prepara-se para o seu 32º Natal como bom velhinho. O que começou como alternativa para conseguir uma renda extra, hoje é uma paixão. “Para mim, é uma honra. Você lidar com criança é muito bom. Criança é sincera, quando ela gosta de você, ela gosta, e quando não gosta, não gosta”, observa.
Olídio dos Santos Pereira tem 62 anos e, há 30, se fantasia de Papai Noel durante as festas de fim de ano |
Ao longo desses anos, muito mais do que dar presentes, Olídio também encontrou boas histórias. Muitas engraçadas, outras de encher os olhos de lágrimas. “Uma vez, uma senhora de mais ou menos uns 80 anos não parava de me olhar. Perguntei se ela queria falar comigo e ela disse que sempre sonhou em me encontrar, mas nunca teve condições de vir ao shopping ver o Papai Noel. Mas, naquele dia, ela tinha”, conta, emocionado.
Apesar de gratificante, o Papai Noel não tem trabalho o ano todo. Por isso, Olídio aproveita ao máximo a época natalina, e até deixa de comemorar a data com a mulher, os filhos e as netas, em Sobradinho. “Na noite de Natal, eu também trabalho. Já tem mais de 30 anos que eu não passo o feriado em casa, porque saio para entregar os presentinhos”, comentou.
Dedicação
A quantidade de Papais Noéis em Brasília, contudo, vai muito além daqueles que ficam nos shoppings da cidade. Caso também sejam considerados os que levam alegrias a escolas, creches, hospitais e outros espaços, esse número pode chegar perto de 100. “Muitas pessoas querem contribuir para a magia dessa data e tornar verdade os sonhos e as fantasias das crianças. É algo mágico”, conta Natália Amante, sócia-proprietária da empresa de entretenimento infantil Hora do Agito.
Viver o bom velhinho no Natal faz o policial Edclai Figueiredo da Silva entrar em um universo mágico |
Os três velhinhos que fazem parte da empresa vestirão a roupa vermelha principalmente no dia 24 de dezembro. “É cada vez mais comum os pais contratarem os nossos Papais Noéis para entregar os presentes. Mas vai além disso. Cada Papai Noel recebe um perfil da criança. Dessa forma, ele consegue cativar ainda mais. Um conselho do pai que a criança muitas vezes não escuta, se dito por esse personagem, tem um resultado enorme”, destaca Natália.
É dessa forma que Celso Vendramini, 72, tenta fazer da data um momento único para cada menino e menina. Papai Noel desde 1972, ele sabe a receita perfeita para ser um bom velhinho. “Precisa ter vocação e gostar de criança. Sem isso, não tem Papai Noel. É maravilhoso”, garante.
Empresário e morador de Curitiba, ele vem alegrar a garotada brasiliense há três anos. Contudo, por mais que tenha entregue pirulitos, carrinhos e bonecas durante todo esse tempo, seu pedido favorito não foi o de uma criança. “Perguntei para uma mãe o que ela queria e ela disse que queria a família dela de volta. Era uma jovem, de uns 25 anos, com um filhinho de mais ou menos seis. Me comovo toda vez que eu falo”, lembra.
Desejo dos velhinhos
Mesmo representando uma figura de esperança para muitas pessoas, quem faz o Papai Noel também tem as suas vontades. Há 12 anos se fantasiando, o policial Edclei da Silva, 42, espera um país melhor. Para as crianças, ele deixa um recado: “nunca deixem de acreditar”. Ao trocar a farda da corporação pelas grandes vestes vermelhas do Papai Noel, Edclei encontra calmaria em meio à agitação como militar. “É um prazer para mim. É algo muito agradável que me completa. É o extremo da minha vida do resto do ano e que, hoje, faz parte da minha rotina”, ressalta.
Para Edclei, a data sempre foi importante. Além de muitos abraços e fotos, o exercício de Papai Noel também traz para o seu cotidiano muita humanidade e solidariedade. “Às vezes, chega alguém desestimulado e sabe que, na verdade, é um ser humano que está ali por trás daquela roupa. Então, eu levo a mensagem dizendo que o Natal simboliza o nascimento de Cristo, a esperança, a paz, a certeza de que dias melhores virão e é nisso que eu acredito, de verdade”, destaca.
“É um prazer para mim. É algo muito agradável e que me completa. É o extremo da minha vida do resto do ano e que, hoje, faz parte da minha rotina”
Edclei da Silva, policial e Papai Noel há 12 anos