Fazia um calor daqueles em Sevilha, na Espanha, e Bruno Dieguez tinha algumas horas para aproveitar a cidade, em meio a uma viagem de trabalho. Saiu batendo perna pela região do hotel e, quando deu de cara com uma barbearia com pinta de tradicional, resolveu entrar para dar um tapa no visual. Cruzar aquela porta foi um caminho sem volta. O professor universitário e diretor de comunicação de uma empresa especializada em hotelaria descobriu, naquele momento, o quão rico esses ambientes podem ser e passou a colecionar visitas a barbearias ao redor do mundo.
Depois disso, vieram outra experiência parecida em Siena, na Itália e, finalmente, a definitiva, em Santa Mônica, nos Estados Unidos, quando Bruno dedicou ainda mais tempo para explorar as barbearias. De lá para cá, já foram 16 estabelecimentos no Brasil e no mundo, devidamente registrados em sua página no Instagram (@zeugch).
Para dar conta do hobby, o professor desenvolveu algumas estratégias. A primeira delas diz respeito a um fator natural: <QL>o crescimento do cabelo. Ao programar uma viagem, ele lança mão de uma matemática para que os fios estejam prontos para serem cortados enquanto estiver no destino. E, para chegar até os endereços mais interessantes, faz pesquisas pela internet ou busca informações com locais, quando tem menos tempo a perder zanzando pela cidade. Foi assim que chegou até uma barbearia “secreta” em Paris.
— Estava chovendo, e queria algo perto do hotel. Consultei a concierge, e ela me mandou a um lugar com atmosfera daqueles bares em que você tem que ser convidado para entrar. A funcionária do hotel, inclusive, havia me dito que eu teria uma surpresa, o que aconteceu ao final do atendimento. Fui convidado a cruzar uma porta que dava num bar cheio de gente. Chamei um amigo que mora em Paris para conhecer, e até ele ficou surpreso com o espaço — lembra Bruno.
Outra experiência inusitada se deu do outro lado do mundo. Em viagem pelo Japão, o professor não poderia abrir mão de testar as tesouradas daquele intrigante país e entrou num espaço pinçado durante as suas andanças. Só esbarrou num detalhe: o idioma.
— Ninguém falava inglês, exceto algumas palavras-chave, e o jeito foi explicar por mímica o que eu queria — diz Bruno, adiantando que o resultado final foi aprovado. — Mas interessante mesmo foi observar todo o gestual. O cabeleireiro quase não tocava em mim, parecia que estava flutuando. Além disso, o local era extremamente silencioso.
Encarar tantas barbearias diferentes tem seus riscos. O resultado, digamos, mais infeliz foi em Nova Orleans, nos Estados Unidos. Bruno foi à cidade para um casamento e, ao passar por um estabelecimento que julgou “pitoresco”, decidiu experimentar.
— O barbeiro me perguntou o que eu queria, e pedi que sugerisse algo. Estava cansado e não prestei muita atenção <QL>no que ele estava fazendo. Quando vi, estava com um bigode triangular, no formato de uma asa-delta, bem esquisito — descreve. — Por sorte, estava todo mundo bêbado no casamento e ninguém reparou.
A vantagem é que, entre erros e acertos, Bruno aprendeu a “farejar” os melhores lugares e não esconde o jogo sobre os critérios. Um dos primeiros pontos a serem observados, segundo ele, são as estratégias de comunicação. Um bom site e uma conta caprichada no Instagram costumam ser indicativos positivos. Ao visitar o local, vale dar uma conferida na decoração e nos instrumentos que estão sobre a bancada de trabalho. O mesmo olhar clínico deve ser direcionado aos profissionais que lá estão.
— Quando se trata da primeira visita, não ser atendido logo de cara pode ser vantajoso. Com isso, você ganha tempo para observar as técnicas de trabalho dos atendentes. Eu mesmo já usei uma desculpa para deixar a barbearia, depois de perceber que as pessoas estavam cortando o cabelo dos clientes com total descaso — conta, frisando que, para a experiência ser boa, o barbeiro precisa estar fazendo aquilo de que realmente gosta.
Com o passaporte recheado de carimbos, Bruno não olha com menos interesse para as barbearias em solo brasileiro, incluindo os endereços no Rio, onde mora. De tão apaixonado por esse tema, o professor já chegou a comemorar o seu aniversário num desses locais:
— Foi numa barbearia em Botafogo, que fica numa casa com um quintal na parte de trás. O espaço foi transformado em área de convivência, com uma mesa de sinuca. As pessoas começaram a chegar, e eu ainda estava cortando o cabelo. Acharam que eu era louco, mas adoraram.
Agora, Bruno anda com todas essas vivências debaixo do braço, na expectativa de transformá-las num programa de TV. O mote seria contar as histórias desses endereços, por meio de seus donos e clientes.
— É um universo muito grande. Certamente renderia ótimas histórias —diz, ao vender o seu peixe.
Difícil discordar.