BRASÍLIA - Em resposta à fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disse, na abertura da etapa paulista do 6º congresso do PT, ser vítima de uma conspiração incriminatória da operação Lava-Jato, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) emitiu uma nota neste domingo em que classifica o discurso do petista como uma “ameaça” e defendendo a “marcha serena da Justiça”.
A nota é assinada pelo presidente da ANPR, José Robalinho Cavalcanti, que defende a operação Lava-Jato. Ele diz que as investigações são “técnicas e impessoais” e que uma prova é a semelhança entre o discurso de Lula, de vitimização, e de outros réus. Cavalcanti também afirma que o argumento de que há “uma conspiração universal contra o ex-presidente Lula não se sustenta em fatos”.
Na conclusão da nota, Cavalvanti lamenta a declaração de Lula, de que, se eleito presidente mais uma vez, poderia mandar prender pessoas que publicarem notícias infundadas sobre sua suposta prisão. Cavalcanti afirma que tal declaração não é “digna de quem foi por oito anos foi o supremo mandatário do país”, e que as ameaças não irão deter “qualquer agente de estado ou a marcha serena e impessoal da Justiça”.
Na última sexta-feira (5), Lula usou a abertura da etapa paulista do 6º congresso do PT para se depender de acusações, ainda que não tenha citado diretamente o ex-diretor da Petrobras Renato Duque. Ele disse que nunca pediu dinheiro a empresários e afirmou que a mídia e a Lava-Jato firmaram um “pacto diabólico” contra sua pessoa.
— Essa mesma imprensa que dizia que o PT acabou, dizia todo dia: amanhã, o Lula vai ser preso. Faz dois anos que eu ouço isso. Se eles não me prenderem logo, quem sabe um dia eu mando prendê-los por mentir — declarou o ex-presidente, que participou do evento ao lado de José Mujica e ainda criticou Bolsonaro, a quem chamou de fascista, e João Dória.
Confira a íntegra da nota da ANPR:
“As investigações e processos da Lava-Jato são sérias, técnicas e impessoais. Se prova precisasse disso, é só observar que o discurso do ex-presidente Lula é exatamente o mesmo de dirigentes de outros partidos políticos, também investigados e processados na Lava-Jato.
O argumento de que há uma grande conspiração universal contra o ex-presidente Lula não se sustenta em fatos, muito menos uma conspiração, a que a cada testemunho de um ex-aliado com conhecimento interno da matéria a defesa e o ex-presidente acusam de também participar.
Todos, segundo a defesa, mentem. Apenas o ex-presidente falaria a verdade.
A ampla defesa permite todos os argumentos, é direito de qualquer réu alegar o que quiser. A justiça - independente e técnica - decidirá.
O ex-presidente sabe muito bem que chefes do executivo não 'mandam prender' ninguém em um estado de direito. A justiça é que o faz.”
José Robalinho Cavalcanti, presidente da ANPR