Ali pelos meados dos anos oitenta, passou pelo Cabaré da Rainha, propriedade de Maria Tamborete, uma menina – na verdade nem tão menina assim – que se chamava Aparecida da Glória dos Santos.
Atributos físicos desejáveis possuía poucos, fora a boca de Sophia Loren e os olhos azuis de Xuxa.
Mas, isso quase nada importava. Era requisitada por um exercício seu e inspirador, sendo por ele que eu lhe pus em nossa turma de adolescentes o apelido de Glorinha Priquito de Pedra, depois simplificado apenas para Gê-Pê-Pê.
Explico a alcunha: quando Gê-Pê-Pê queria, dava uma trancada no pé da pomba do camarada, sendo muito mais fácil arrancar a Excalibur da pedra, que tirar o ferro de dentro dela.
Porém, meu amigo Jânio Sebinho, então aluno de Medicina no Recife, bem menos leitor de romances que eu, dizia “o primeiro pê é de ‘prende’, e o segundo de ‘pica’.”
A fama desse aperto já corria o sertão.
Certa feita, numa tarde amistosa, quente e das conversas lacônicas do mês de novembro, o velho Mané de Toinho Queixada, que chegara viúvo do Sudeste havia apenas dois dias, sabendo da fama desafiou seu compadre Ciço do Serrote dizendo “agora pronto! Pois, eu tiro meu pau na hora que quiser tirar”.
A teima começou em uma roda à mesa de cachaça na Bodega e Bar Leve Mais, de Seu Tião Caristia.
Teima vai e teima vem, apostaram a quantia de cinco garrotes e tiraram para o cabaré de Maria Tamborete, rua principal abaixo. Os compadres e mais uma turma de uns dez bebinhos, todos torcendo por Mané de Toinho Queixada; afinal, ele prometera desmanchar o produto da aposta em aguardente com limão e queijo de coalho assado.
O cabaré nem tinha aberto de fato naquele dia – ainda estava no meio da tarde – quando a passeata barulhenta chegou com Mané e Ciço à frente.
Maria Tamborete, a Rainha, só concordou em abrir a exceção cobrando uma taxa extra.
Dinheiro da aposta casado dentro de um chapéu, sobre a mesa e sob a atenção da dona do cabaré, mandaram chamar Gê-Pê-Pê.
Glorinha chegou ainda ajeitando os cabelos assanhados. Estivera dormindo desde um pouquinho depois do almoço.
Ciço lhe contou o caso da aposta e Maria Tamborete autorizou, já lhe entregando o valor extra cobrado.
– Se eu vencer a aposta, lhe pago outro extra – prometeu Ciço para ouvir um “pode deixar” de Glorinha.
Assim entraram num quarto Mané de Toinho Queixada e Simão dos Bodes, escolhido por Ciço como “inspetor da foda”.
Gê-pê-pê entrou uns quatro minutos depois.
De fora se ouvia Mané falando alto “tome rola, danada! Tome rola!”
Os bebinhos apreensivos exultaram quando ouviram o grito de Simão:
– Parece que Mané gozou!
Ciço não contou conversa e gritou de volta “agora tire o pau, que eu quero ver”, e arrematou:
– Segure aí, Glorinha, que tu num vai se arrepender.
– Agora não, que isso aqui ‘tá bom demais – gritou Mané de dentro do quarto.
E haja o tempo passar, o tempo passar, o tempo passar…
Lá para as oito da noite Ciço resolveu entrar no quarto na companhia de Maria Tamborete.
Encontraram Mané sobre Gê-Pê-Pê subindo e descendo, feito um menino de primeira foda.
– Que porra é essa, cumpádi Mané? Se não consegue tirar a pomba diga logo. Você perdeu a aposta.
– Na aposta eu disse que tirava quando eu quisesse, e eu ainda não quis – o compadre respondeu sem olhar sequer de banda.
– Glorinha, minha fía, você tá bem? – perguntou Maria Tamborete.
– Rainha, eu pensei que era para segurar só uma vez. Mas já vai bem numas cinco gozadas desse corno – respondeu meio angustiada, e acrescentou depois:
– Mas o pior nem é apertar o priquito quando noto que ele quer fugir – confessou fazendo uma caretinha.
– E o que é o pior? – quis saber a dona do cabaré.
Glorinha fez uma cara de tédio misturado com tristeza e choramingou:
– É esse outro batendo punheta quase na minha cara.
Quando disse isso deu uma relaxada e na displicência de Gê-Pê-Pê, Mané puxou a pomba para fora dizendo “eu também não aguento mais essas siriricas de Simão. Retiro-me”.
Ganhou a aposta.
Deixou o cabaré nos ombros dos bebinhos rua principal afora.
(De coisas que eu ouço sobre fatos do meu Sertão do Seridó)