PRIMEIRA MIGRAÇÃO
Olavo Bilac
Sinto as vezes ferir-me a retina ofuscada
Um sonho: - A Natureza abre as perpétuas fontes;
E, ao dano criador que invade os horizontes,
Vejo a Terra sorrir à primeira alvorada.
Nos mares e nos céus, nas rechãs e nos montes,
A Vida canta, chora, arde, delira, larada.
E arfa a Terra, num parto horrendo, carregada
De monstros, de mamuts e de rinocerontes.
Rude, uma geração de gigantes acorda
Para a conquista. A uivar, do refugio das furnas
A migração primeira, em torvelins, transborda.
E ouço, longe, rodar, nas primitivas eras,
Como uma tempestade entre as sombras noturnas,
O estrupido brutal dessa invasão de feras.