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A comemoração teve direito a comidas e trajes típicos e foi organizada no Espaço da Família da Abrace. A mãe, Camilla, e o pai, Rodrigo, eram só sorrisos na hora do parabéns
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O Hospital da Criança de Brasília recebeu ontem uma festa junina muito especial. Teve traje caipira, chapéu de palha, paçoca, pé de moleque, bandeirinhas e balões. As estrelas da comemoração tinham muito a celebrar: Lis e Mel, gêmeas siamesas separadas há pouco mais de um mês, completaram um ano. Médicos e familiares participaram do arraial e festejaram o primeiro aniversário das irmãs, mas, principalmente, a sequência de vitórias e de conquistas alcançadas desde 27 de abril, quando elas passaram pela complexa cirurgia, inédita no Distrito Federal.
A festa com o tema São João teve direito a bolo, balões e brinquedos e foi organizada no Espaço da Família da Abrace, dentro do Hospital da Criança, onde as meninas continuam internadas. A celebração foi intimista, mas Mel e Lis estavam vestidas à caráter, com vestido de quadrilha e chapéu de trancinhas. Foi assim que elas receberam convidados mais que especiais: os médicos que lidam diariamente com elas no HCB. O neurocirurgião Benício Oton, acompanhado da mulher e de uma das netas, esteve na celebração, assim como o anestesiologista Luciano Fares, que também levou a mulher e os filhos. A fisioterapeita Lilian Santos, enfermeiros e residentes fizeram questão de presenciar as gêmeas apagando a velinha. Da família estavam os avós, tios e bisavós de Lis e Mel. Tudo era festa.
A avó materna das meninas, Odiléia Vieira, não segurou a emoção. “Passa um flashback de tudo o que passou. É a gratidão por tudo o que o hospital fez por elas, pelo carinho de todo mundo. Especialmente hoje, que tem um pouco mais de um mês que foram separadas. Isso é emocionante”, disse.
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O anestesiologista Luciano Fares é um dos mais apegados às pacientes
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Gratidão
Antes de assoprar as velinhas, uma pausa. Com Lis no colo do pai, Rodrigo Aragão, 30 anos, a mãe das gêmeas, Camilla, segurou Mel e pediu a palavra. Agradeceu a Deus, à família e a toda a equipe do HCB, que “tornou possível terem chegado até aqui para comemorar o aniversário de um ano das meninas”. Feliz e dona de uma serenidade digna de admiração, Camilla disse considerar os profissionais uma extensão de sua própria família. Por um momento, ela foi interrompida por gritinhos de uma sorridente e falante Mel. Foi como se a menina quisesse agradecer também.
Católicos, os pais finalizaram o momento com uma oração. Os convidados deram as mãos, rezaram um Pai-Nosso, uma Ave-Maria, e depois cantaram os parabéns, para a felicidade das meninas, que sorriram e cantaram junto. “Comemorar um ano com elas separadas era um sonho que eu não sabia se ia se realizar. Então, para mim, é fantástico”, celebrou Camilla.
“A gente está comemorando o nascimento e o renascimento das meninas. Agora, a expectativa é que elas corram, brinquem, quebrem a casa. Esperamos sempre o melhor, que elas tenham saúde e possam sair para a rua, ir ao shopping e brincar”, disse o pai das gêmeas. “O momento é bastante emocionante. Hoje é especial, sabendo que elas estão alçando voos, se recuperando bem e que, daqui a pouco, estarão em casa”, comentou o avô materno, Edilson Neves, 49 anos.
Procedimento
Depois de uma gestação arriscada, na qual alguns médicos sugeriram ao casal que abortasse, Camilla diz que em nenhum momento se arrependeu de dar à luz. Mês a mês, a família comemorou a vida das gêmeas com direito a decoração lembrando personagens infantis, como super-heroínas e Mamãe Noel (veja galeria).
Passados 12 meses do nascimento, Lis e Mel estão bem. Venceram a cirurgia e o período da UTI. Agora, estão internadas na enfermaria, onde trocam diariamente os curativos e são estimuladas nas sessões de fisioterapia.
O procedimento de extrema complexidade realizado nas gêmeas foi dividido em 36 etapas, entre as 6h30 de 27 de abril e as 2h30 do dia seguinte. O sucesso foi intensamente comemorado pelos pais das crianças e pela equipe do Hospital da Criança de Brasília.
O procedimento de separação começou a ser planejado desde a gravidez, quando o médico Benício Oton confirmou, por meio de exames, que a operação seria viável. Elas compartilhavam apenas uma pequena parte do cérebro, que poderia ser retirada sem danos. A expectativa é que elas se desenvolvam e tenham uma vida independente.