Vez por outra, um Basta! retumbante torna-se mais que necessário. Quando Francis Fukuyama anunciou a proximidade de uma nova era, onde uma relativa paz propiciaria a emersão de uma apatia generalizada, não apenas política e econômica, mas também e principalmente nas vertentes empresarial e pessoal, muitos não o compreenderam. Mas o fato está aí: do ponto de vista pessoal, as sequelas das mudanças econômicas acontecidas nas últimas décadas são terrificantes. Muitos, por terem ficado passivamente observando o passar da carruagem, perderam a noção do que seja personalidade, com ela também se esvaindo o conceito de dignidade da pessoa humana.
O consultor Solano Portela Neto, reconhecido por suas contundentes advertências, escreveu: “Se você está com uma vida profissional de escravidão e apatia; se você é um daqueles que vai acordar algum dia apenas para perceber que sua vida foi roubada por uma organização qualquer; se você não almeja a conquista de uma independência que lhe permita dedicar mais tempo a você e aos seus, não precisa preparar-se para os tempos que já se encontram entre nós. Você profissionalmente já quase não existe”.
O arremate do dito acima pertence ao psiquiatra Laing: “Eles perderam a visão, o gosto, o tato e o olfato, e com eles foram-se também a sensibilidade, a ética, os valores, a qualidade, a forma; todos os sentimentos, os motivos, a alma, a consciência e o espírito”.
A releitura de uma conhecida fábula de La Fontaine é pertinente para muitos que teimam em esconder a cabeça embaixo dos tapetes. Conta ela que um bravo leão se apaixonou pela filha de um velho lenhador, de formosura exemplar e seios exuberantes, sem silicone de qualquer espécie. Pedindo a mão da jovem em casamento, para poder usufruir bem do resto, o bravo leão ouviu uma sonora negativa, em função de suas afiadíssimas presas. Após uma dolorosa extração dentária geral, reiterou perante o lenhador sua intenção, ouvindo nova recusa, por causa das suas amoladas garras. Após arrancar as dez unhas, sem mais garras nem presas, retornou à moradia do lenhador para um novo pedido. O velho, percebendo o leão sem garras nem presas, abdicado de sua própria natureza e com uma completa desestruturação cívica, arma-se com um porrete de bom tamanho e esmaga sua cabeça.
Eis um lema que deve servir para pessoas e instituições, estados, municípios e nações: “Saiba controlar seu destino, senão alguém fará isso por você, de uma maneira sempre perversa”. E o saudoso Abraham Maslow, agora reeditado para gáudio de seus continuadores, não deixa por menos: “Se você se contentar com menos do que pode ser, será infeliz pelo resto da vida”.
O meu melhor Amigo, Filho do meu Pai, já dizia, quando caminhava pelas bandas do Oriente, que aquilo que semeamos é o que iremos colher. Às vésperas de um pleito eleitoral 2022, que todos se percebam autores e atores de uma mesma história, a brasileira, que necessita ser prorrogada através da bravura de sua gente e do destemor dos seus governantes, sem achincalhações nem deboches, as críticas necessárias se tornando concretas através de mecanismos nunca circenses. Tampouco desairosos, nem acanalhados. Jamais temerosos diante das bravatas dos incultos.