POLISSEMIA
A. C. Dib
Maria branda
que, com doçura,
planta,
junto ao banco de areia,
a palma branca,
que aplaudo.
Aplaudo Maria branca
sentada nua
no banco branco
daquela praça
cheia de graça,
digna de palma.
Alma minha
és tua Maria,
dona da planta
de folha longa
e perfumada, e a trajar
só um colar...
E eu, a olhar
e a lastimar
tua distância
espiritual,
mas, sempre, a colar
em tua sombra...
Maria manga,
zombeteira,
do enamorado, enxovalhado,
que enxuga lágrima
na própria manga,
e sangra, e sangra...
Maria Godiva
chupando manga.
e o meu pesar
a aumentar,
no velho peito
ardendo de despeito...
Maria corre
pelos campos em festa,
tal qual gazela,
fogosamente,
espevitada e despida,
febrilmente...
Folha de caderno
toda branca e sem rabisco
essa donzela
arisca,
mas, diz o ditado:
quem não arrisca...
Eu a pesar,
na balança do desejo,
prós e contras.
E a liberal Maria,
atordoante,
pelada e peluda!
Quadro setecentista
Árcade, sem bucolismo.
Total lirismo!
Quadro emoldurado
e pintado, com pimenta,
por Bocage.
Maria intensa,
de negra mata densa,
aos poucos me mata
e ensandece, e adoece,
e me emudece.
Misto de ardor e dor.
Maria anja,
cítrica laranja,
de blusa e saia
cor de laranja, e invisível.
Eu, insensível,
mas, inapelavelmente, cativo.
Maria tentação
do poeta tísico,
romântico e punheteiro.
Corpo de violão,
do qual lança mão
o primeiro aventureiro.