PAPAI NOEL – Um poema de Jansen Filho
Por que, Papai Noel, no seu gesto sensato,
Você sempre esqueceu o meu pobre sapato,
Meu sapato marrom que o tempo desmanchou?
Foi você quem me fez triste e desiludido,
Porque, nos meus natais de menino esquecido,
Esperei tanto tempo e você não chegou!…
Você foi muito bom para as trêfegas crianças,
Só não foi para mim que vivi de esperanças,
Desejando abraçá-lo e você não chegava.
Neste último Natal, preso à bondade sua,
Você com seu fardel andou de rua em rua…
Porém não quis passar no bairro onde eu morava
Recordo-me de tudo: o meu bairro tristonho
Cobria-se de paz, vestia-se de sonho,
Para a celebração da missa universal!
E esperei por você desesperadamente!
E você não me quis trazer um só presente,
Fazendo cada vez mais triste o meu Natal!
Os meninos na rua, exibindo presentes,
Cada qual mais feliz, aguardavam contentes,
A festa matinal, quando o galo cantasse!…
Assistindo ao ferver de tantas ironias,
Cruzava as minhas mãos geladas e vazias
E pedia a JESUS que o Natal não chegasse!
Depois ia dormir magoado e insatisfeito,
Acordava, pensando encontrar no meu leito,
Um soldado de chumbo, um revólver de pau…
Mas era tudo em vão…A mágoa continuava!
Despertava a chorar e a chorar esperava,
Sem jamais perceber que você fosse mau!
Como é triste esperar e viver na incerteza!
Nunca tive um Natal de esplendor e beleza,
Porque, sobre o colchão do meu berço de cobre,
Sonhava com você e você não trazia
Um retalho de luz à minha choça fria!
Um pouco de prazer ao meu Natal de pobre!
Esperei-o demais e perdi-me na espera!…
E quando o desengano encheu minha tapera,
Eu chorei de desgosto e revolta também…
Lembrando a malvadez dos seus ínfimos atos,
No fundo de um caixão joguei os meus sapatos
E resolvi de vez não mais lhe querer bem!…
Fui crescendo e sentindo as mutações da vida!
Hoje, vendo passar a quadra colorida,
Salpicada de azul e plangências de sinos,
É que vejo que estou distante do passado
E já certo de que, no meu bairro encantado,
Você só existiu para os outros meninos…
Dissipou-se, de todo, a bruma dos segredos…
Hoje, sei que você nunca trouxe brinquedos,
Nem jamais possuiu cabelos de algodão,
Nem sandálias de lã e nem barbas de prata…
Mas quisera voltar àquela infância ingrata,
Porque nada é melhor que viver na ilusão!
Foi você quem me trouxe a primeira esperança,
No florido jardim dos meus dias de criança,
Quando a vida sorria, à flor do meu destino!
Mas, depois de esperar por você tantos anos,
Cobriu-se o meu viver de tédio e desenganos
E passei a sofrer meu drama de menino!
Mesmo assim ao saber que você não existe,
Eu não posso ficar sorumbático e triste,
Nem devo blasfemar! Você sabe por quê?
Porque sonho volver àquela doce idade,
Viver no mesmo bairro, à luz da soledade.
Esperando o Natal, e pensando em você.