Improvisos de Pinto do Monteiro, denominado de A Cascavel do Repente, em cantorias diversas
Lá no meio da caatinga,
Sem moradia vizinha
Bem na beira de um riacho
Um pé de palmeira tinha.
Meu avô, nesse lugar,
Começou a trabalhar
E chamar de Carnaubinha.
Parece que estou vendo
Um homem cortando cana;
Uma engenhoca moendo
Os três dias da semana.
Fazer cerca, queimar broca,
Raspar milho e mandioca,
Da massa, fazer farinha;
Comer com mel de engenho,
Ai, que saudades que eu tenho
Da minha Carnaubinha.
Ninguém deve ignorar
Porque Pinto do Monteiro
Largou de mão a viola
E passou a usar pandeiro
O volume é mais menor
E o pacote mais maneiro.
Eu admiro o tatu
Com desenho no espinhaço,
Que a natureza fez
Sem ter régua, nem compasso
Eu tenho compasso e régua,
Pelejo, porém, não faço.
Sua terra é muito ruim
Só dá quipá e urtiga
Planta milho, o milho nasce
Não cresce nem bota espiga
De legume de caroço
Só dá sarampo e bexiga.
Homem deixe de história
Que se eu for ao Pajeú,
Dou em Jó e dou em Louro,
Em Zé Catota e em tu,
E fico no meio da rua,
Cantando e dançando nu.
Em dezembro, começa a trovoada,
Em janeiro, o inverno principia,
Dão início a pegar a vacaria:
Haja leite, haja queijo, haja coalhada!
Em setembro, começa a vaquejada:
É aboio, é carreira, é queda, é grito!
Berra o bode, a cabra e o cabrito;
A galinha ciscando no quintal,
O vaqueiro aboiando no curral;
Nunca vi um cinema tão bonito!
Esta palavra saudade
Conheço desde criança
Saudade de amor ausente
Não é saudade, é lembrança
Saudade só é saudade
Quando morre a esperança.
Saudade é tudo e é nada
Saudade é como o perfume
Eu só comparo a saudade
Com o peso do ciúme
Que a gente carrega o fardo
Mas não conhece o volume.
Se você fosse uma franga
Eu ia pegar-lhe agora
Botar os dois pés em cima
As asas servir de escora
Dar-lhe um beliscão na crista
E o resto eu digo outra hora…
* * *
Pinto de Monteiro cantando com João Furiba:
João Furiba
Se você quiser ter sorte
na sua mercearia,
coloque uma etiqueta
em cada mercadoria
e ponha meu nome nela
que conquista a freguesia.
Pinto do Monteiro
Triste da mercadoria
que nela tiver seu nome!
Pode vir um guabiru
Com oito dias de fome,
Caga o pão, mija no queijo,
Passa por cima e não come
No vídeo abaixo, Severino Pinto e Lourival Batista cantando de improviso o gênero Meia Quadra.
Constante da Coleção Música Popular do Nordeste, com 4 discos, lançada em 1972.
A abertura da cantoria é feita por Lourival.