Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense sábado, 24 de dezembro de 2022

PERU NA CEIA DE NATAL: COMO A AVE, ORIGINÁRIA DO MÉXICO, SE TORNOU O PRATO TÍPICO DA CEIA

 

 

Como o peru, originário do México, se tornou o prato típico de Natal no mundo todo

O peru também foi associado quase instantaneamente ao almoço de Natal, possivelmente porque ele atinge seu tamanho adulto no outono e normalmente as aves são abatidas no meio do inverno do hemisfério norte

BBC
Zaria Gorvett - BBC Future
postado em 24/12/2022 10:18
 
 

Este texto foi originalmente publicado em dezembro de 2021 e republicado após atualização.

Em 25 de dezembro de 1406, o bispo de Salisbury, no Reino Unido, sentou-se à mesa para sua ceia de Natal.

Richard Mitford, já idoso, teve uma vida agitada, cheia de altos e baixos. Ele chegou a trabalhar em um alto posto na residência do rei Ricardo 2°, para depois ser preso na Torre de Londres por traição.

Mas agora Mitford vivia alegremente seus últimos anos.

A refeição era modesta, pelos padrões costumeiros do bispo — apenas 97 pessoas foram convidadas. O cardápio era abundantemente carnívoro e parecia mais um zoológico. Havia metade de uma vaca, três carneiros, 24 coelhos, um porco, metade de um javali silvestre, sete leitões, dois cisnes, duas galinhas d'água, quatro patos-reais, 20 narcejas (aves pernaltas com longos bicos que balem como cabras), 10 capões (frangos capados) e três marrecos.

Naquele ano o dia de Natal ocorreu em um sábado — um dia de adoração, no qual tecnicamente as pessoas deveriam comer apenas peixe. Por isso, o bispo também encomendou alguns animais aquáticos.

Ao todo, foram servidos aos convidados 50 arenques-brancos (em conserva, como filés enrolados), 50 arenques-vermelhos (arenques tão salgados que assumem coloração vermelho-cobre), três longas enguias-do-mar, 200 ostras e 100 caracóis.

Naquela época, não havia garfos, e as pessoas não usavam pratos individuais nas refeições. Os garfos ainda não haviam chegado à Inglaterra e os pratos somente seriam inventados no século 17.

"É uma grande cerimônia", afirma Chris Woolgar, professor emérito de história e estudos documentais da Universidade de Southampton, no Reino Unido, que estudou extensamente os hábitos culinários de Mitford.

"São alimentos nobres sendo exibidos", acrescenta ele, explicando que havia garçons cortadores trabalhando para empilhar alimentos para os convidados.

Mas uma carne foi excluída da coleção de animais natalina de Mitford: não havia peru assado.

Esse prato, na verdade, somente surgiria na Inglaterra décadas depois — e apenas se tornaria um clássico de fim de ano no início do século 20.

O lado bom

Woolgar tomou conhecimento de Mitford quando trabalhava como arquivista na Universidade de Oxford, no Reino Unido, em 1979.

Naquela época, ele estava catalogando os relatos domésticos de grandes residências — registros que descreviam os gastos culinários dos lordes, damas e bispos em detalhes.

Ele rapidamente percebeu a visão detalhada que esses registros poderiam fornecer sobre a vida na era medieval e reuniu suas descobertas em um livro chamado The Culture of Food in England, 1200-1500 ("A Cultura do Alimento na Inglaterra, 1200-1500", em tradução livre).

Os relatos de Mitford revelam, por exemplo, como a sua alimentação era imensamente variada. Em apenas um ano, ele consumiu 42 tipos diferentes de peixes, incluindo arraias, peixes miúdos, robalos, carpas, bacalhau, lagostins, enguias, cadozes, hadoques, pescadas, cavalas, lampreias, tainhas, percas e lúcios.

Mas, embora os nobres tenham sempre passado bem, um aspecto da vida — que inclui o Natal — havia acabado de melhorar para todos no final do século 14. Foi um efeito colateral inesperado de uma tragédia global: a Grande Peste.

Antes da Peste, a maioria das pessoas sobrevivia principalmente à base de alimentos preparados com cereais, como pães e uma espécie de mingau feito de trigo picado fervido com leite ou caldo de animais.

Ilustração de javali sendo servido
Alamy
Na Idade Média, era servida no Natal uma cabeça de javali esfolada e costurada novamente

"Havia muito pouca proteína na alimentação, em termos de carne ou laticínios", afirma Woolgar, acrescentando que muitas pessoas se alimentavam de doações de famílias ricas ou asilos.

Havia, por exemplo, a esposa de um funcionário público de Norfolk, no Reino Unido, que fornecia alimentos todos os dias para 13 camponeses — número cuidadosamente escolhido pelo seu simbolismo cristão — mas apenas pão e arenque.

"A pandemia matou as pessoas, e não os animais. Por isso, o equilíbrio mudou muito a partir dali", explica Woolgar. De repente, a carne retornou ao cardápio da população e todos queriam comer como um nobre no Natal.

Criação de Frankenstein

Acredita-se que uma das principais e mais populares carnes para as festas natalinas na Idade Média seja ainda mais antiga — a cabeça de javali em conserva.

A preparação do prato devia ser extremamente trabalhosa. A cabeça do animal era normalmente apresentada com uma maçã na mandíbula e elaborada decoração com ervas.

"A cabeça de javali trago nas mãos,

com guirlandas alegres e pássaros cantando!

Peço que me ajudem a cantar todos vocês que estão neste banquete!

A cabeça de javali, pelo que sei,

É o prato principal de toda esta terra!

Onde quer que esteja, ela é servida com mostarda!..."

Mas, apesar da popularidade do prato — que é amplamente ilustrado em cenas natalinas da época — não se tem muita certeza de como ele era realmente preparado. O que se sabe é que era um processo terrível.

A carne curada podia então ser picada e misturada com toucinho e especiarias para fazer uma espécie de recheio em camadas, que poderia ser usado para rechear novamente a cabeça.

Todo o conjunto precisaria então ser firmemente amarrado com tecido de musseline, para criar novamente a forma de uma cabeça, e depois fervido por horas sobre uma camada de cenouras, pastinacas e cebolas. Para decorar, acredita-se que ela pudesse ser coberta com fuligem para simular o pelo do animal.

Afirma-se que o prato terminado teria um sabor delicioso de torta de carne de porco e era muitas vezes servido com "músculo" — carne dos ombros do javali, preservada em cidra, vinho ou vinagre.

A festa começou originalmente como um banquete de Natal comum para membros da faculdade que lá permaneciam durante as festas e, desde então, evoluiu até tornar-se uma celebração anual, no último sábado antes do Natal.

Ilustração de clube de ganso
Alamy
Vitorianos foram os pioneiros dos 'Clubes de Gansos'

Outro prato medieval levemente macabro era o "pavão dourado", que envolvia esfolar um pavão mantendo suas penas e a cabeça. O corpo era então assado e, por fim, colocado de volta no lugar.

Mas o prato tinha fama de não ser muito saboroso. Aparentemente, o sabor era uma mistura de galinha e faisão, mas a carne das aves mais velhas poderia ser dura e seca.

Independentemente das carnes específicas e outros pratos servidos nos banquetes de Natal da Idade Média, Woolgar explica que os molhos que os guarneciam provavelmente não sofriam grandes alterações.

Diferentemente dos molhos ricos e brilhantes preferidos hoje em dia, os molhos da época, em sua maioria, eram misturas ácidas feitas de vinho ou vinagre aromatizado com ervas.

Uma dessas criações era o "molho Cameline", feito de canela — que era muito popular e surpreendentemente abundante — fervida no vinagre com pedaços de pão. Era o ketchup da época, tão popular que podia até ser comprado pronto.

"Mas deve ser como o primeiro gole de cerveja — você acaba se acostumando. Tudo se torna desejável quando as outras pessoas estão consumindo."

Narceja
Alamy
No século 14, a ceia de Natal poderia incluir dezenas de tipos diferentes de carne, incluindo aves pouco conhecidas, como a narceja

Novo produto de importação

Em 1526, um jovem proprietário de terras de Yorkshire, na Inglaterra, voltou para casa após uma longa viagem. William Strickland havia navegado para o Novo Mundo em uma viagem de descobertas, onde comprara seis aves com aparência estranha de comerciantes nativos americanos.

Ou pelo menos foi assim que Strickland contou posteriormente como havia introduzido o peru na Inglaterra, embora sua história nunca tenha sido confirmada.

Décadas depois, o rei Eduardo 6° (1537-1553) permitiu que ele incluísse a ave no brasão da família — a primeira ilustração já feita de um peru no mundo ocidental.

Recentemente, foram encontradas evidências adicionais dessa história. Em 1981, arqueólogos escavavam um local chamado Paul Street, no centro da cidade de Exeter, no sul da Inglaterra, e encontraram ossos de peru. Na época, o achado não foi considerado muito significativo. Mas, em 2018, uma nova análise revelou algo surpreendente.

Portanto, eles não eram perus comuns — poderão ter sido alguns dos primeiros perus da Inglaterra.

Embora esse novo tipo de ave tenha levado séculos para cair no gosto do público em geral, os perus fizeram sucesso imediato junto à elite. Eram muito apreciados principalmente por serem exóticos. Como o colorido pavão, originário da Índia, ter peru na mesa era um símbolo de status importante.

Tumba de bispo
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Bispo Mitford celebrava todos os 12 dias do Natal e recebia 137 pessoas para celebrar a "12ª Noite" – a noite de Reis, uma festa maior que a do dia de Natal

O peru também foi associado quase instantaneamente ao almoço de Natal, possivelmente porque ele atinge seu tamanho adulto no outono e normalmente as aves são abatidas no meio do inverno do hemisfério norte.

Nos séculos que se seguiram, o peru se tornou parte importante dos banquetes de Natal da classe mais abastada, embora nem sempre fosse necessariamente o astro do espetáculo.

Até que surgiu o escritor Charles Dickens (1812-1870).

Dickens gostava muito de perus e escreveu sobre eles no seu Conto de Natal, onde o avarento Ebenezer Scrooge (atenção: spoiler!) observa seus erros cometidos e muda sua vida, acabando por providenciar um enorme peru de última hora no dia de Natal para seu funcionário mal remunerado.

Pouco depois da publicação do conto, em 1843, o guia turístico e amigo de Dickens George Dolby prometeu ao escritor um peru espetacular para o seu almoço de Natal — o melhor de todo o condado de Herefordshire, na Inglaterra. Foi aí que aconteceu o desastre.

Dolby acabou por descobrir que o cesto havia sido transferido ao longo do caminho para uma carroça, que pegou fogo, destruindo todo o seu interior. Dickens referiu-se posteriormente ao incidente de forma bem humorada, especialmente porque os restos carbonizados haviam sido distribuídos para famílias pobres locais como um delicioso almoço de Natal, ainda que levemente queimado.

Entre as muitas tradições, credita-se atualmente a Dickens a popularização do peru como clássico de Natal. Mas a preferência mais comum na época era o ganso assado. Seu concorrente mais exótico somente se tornaria o almoço festivo disseminado quase 100 anos depois, porque ele precisava de um incentivo final.

Tanque de criação
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No século 14, os peixes de água doce eram muito valiosos e uma parte importante das festas natalinas

Na década de 1920, os avanços da produção de alimentos trouxeram reduções dos preços. Pequenas fazendas foram absorvidas pelas grandes e surgiram máquinas agrícolas de ponta.

Uma década mais tarde, os perus finalmente tornaram-se acessíveis para as pessoas comuns — ainda que custando cerca de uma semana de salário — e, nos anos 1930, eles superaram outros tipos de carne, tornando-se o prato principal entre os assados típicos do Natal.

Mas pode ainda haver uma evolução por vir. Em algumas partes do mundo, surgem os primeiros sinais de que os perus não são mais considerados apenas ceias de Natal ambulantes, mas sim aves muito sociáveis e afetuosas que adoram massagens no pescoço. Segundo alguns relatos, eles podem ser realmente carentes de atenção.

Os perus são tão amistosos que até jogam futebol — ou, pelo menos, gostam de perseguir e bicar objetos redondos. Agora, algumas celebridades estão incentivando as pessoas a adotá-los em vez de comê-los. E outros estão defendendo os perus como animais de estimação.


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