Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Coluna do Calixto - Onde Reminiscências, Viagens e Aventuras se Encontram segunda, 04 de março de 2019

PERDIDO EM PERÚGIA COM GPS

 

PERDIDO EM PERÚGIA COM GPS

Robson José Calixto

 

 De Roma para Perúgia, na Itália, são precisamente 02h27min de trem até à Estação Central. Eu sempre me esmerei em planejar as viagens de férias da família, antecipadamente e, se possível, de forma bem detalhada. Tinha visto no Google Street que da estação ao Hotel que escolhera, o Umbria, o que recomendo, era pouco mais de 10 min andando e puxando mala. Acreditei.

 

Tínhamos comprado um chip de celular internacional em Roma, com internet, e funcionara muito bem. Então chegando à Perúgia era só puxar as malas, sem precisar pegar qualquer táxi, pensei eu e convenci meus familiares. Chegamos à estação, puxamos nossas malas pela plataforma, descendo e subindo as escadarias, até à saída da estação. O ponto de táxi ficava à esquerda. Só dez minutos a pé, ligamos o Google Street que mostrou as setas, com base no Sistema de Posicionamento Global - GPS. Porém observamos de pronto que atravessar aquelas vias muito movimentadas e de calçadas estreitas seria um problema. Tentamos pela esquerda: complicado. Fomos para a direita e conseguimos atravessar a rua que passava longitudinalmente à frente da estação, mas a partir dali era tudo em subida e curvas, ruas e escadarias. A ala feminina reclamou. Era o início da tarde, o sol estava forte e fazia bastante calor, suávamos. Insisti para que prosseguíssemos. Uma rua em curva e apareceu uma escadaria bem longa. Seria complicado subir aquilo degraus todos com nossas malas. Falei com minha esposa e minha filha: - “Voltemos para a estação. Vocês ficam lá, com as malas, e eu vou a pé ver se encontro hotel.”

 

Deixei-as sentadas em um banco de mármore dentro da estação e segui a pé. Voltei ao ponto onde encontramos a escadaria longa e subi por ela, chegando a uma rua bem movimentada em curva, limitada também por um paredão de pedra em curva, de um lado, e uma balaustrada finada de metal que me permitia ver uma espécie de parque urbano, do outro. Segui em frente no sentido que as setas me indicavam ao longo dos nomes das ruas. Entrei em uma área residencial, que me deu acesso ao parque. Caminhei através dele, saí por um dos seus lados e de cara novas ruas em curvas, subidas e descidas, calçadas estreitas, o tempo passava, o sol a pino, eu suava.

 

Parei e comecei a pensar..., tem algo errado. Não pode ser isso. Eu já devia ter chegado em algum ponto de referência. Parei para observar com muito mais atenção as setas que me eram mostradas pelo Google Street e percebi que quanto mais seguia por elas, mais o tempo para chegar ao lugar de destino, Hotel Umbria aumentava. Resolvi, então, seguir no sentido contrário das setas e o tempo começou a diminuir. Concluí que a bússola do aplicativo devia estar invertida, ou seja, o norte indicado era para sul. Tentei acerta a orientação do GPS e nada. Já tinha perdido muito tempo.

 

Decidi seguir no sentido contrário e buscar, ao menos, a estação rodoviária, de onde nos dias próximos iríamos para Gubbio, a cidade medieval mais bem preservada da Itália, e Assis. Pelo Google Earth eu vira ainda em casa que o hotel que nos hospedaríamos não era longe da estação rodoviária.

 

Voltei tudo por onde passara anteriormente e continue por novos caminhos, ruas, escadarias e vielas, perguntando, de vez em quando, às pessoas ao longo do caminho: - “Dov'è la stazione degli autobus?” (Onde fica a estação rodoviária?). Elas me indicavam e eu seguia sob o sol forte, no sentido contrário das setas do Google Street. Às vezes o aplicativo me mostrava as setas, ao contrário, para os lugares certos, às vezes ele se perdia e me fazia dar voltas, ou me levava para lugar nenhum.

 

Finalmente cheguei à estação, cansado, molhado de suor. Lá de cima dava para ver no horizonte a parte mais nova de Perúgia, de forma mais espalhada. Descansei um pouco, usei o banheiro da estação para aliviar a bexiga, já convencido que aquela história de dez minutos a pé era balela, tinha que ser táxi mesmo. Estava ali, então comprei logo nossas passagens para o dia seguinte visitar a cidade de Gubbio – essa será outra história a ser contada.

 

Se cheguei à estação poderia chegar até o hotel, engano meu. O Google Street, ao contrário, me dizia por onde seguir e era ali perto da estação da rodoviária. Fui e voltei pelas ruas, mas não conseguia achar por onde subir, por onde entrar. Tentei uma entrada e nada, voltei. Acabei desistindo. Apontei o Google para voltar à Estação Central e ele me jogou para dentro de um túnel cujo calçamento era por demais estreito, perigosíssimo para mim, retornei até à estação rodoviária e resolvi fazer o caminho oposto por onde viera.

 

Segui por vielas, ruas lindas arborizadas sem calçadas sendo quase atropelado pelos carros, alcancei o paredão de pedra e margeei a longa escadaria e desci reto até à estação de trem. As duas estavam agitadas e preocupadas, se passaram quase duas horas e meia que eu saíra. Disse para elas que tentei, tentei, até achava que não era culpa do Google Street, pois deviam faltar informações mais precisas, as ruas eram descontinuadas, às vezes não se ligavam diretamente, bifurcações, para cima e para baixo, muitas curvas, a numeração também não era muito precisa.

 

Pegamos um táxi e começamos a subir a cidade, até alcançar uma posição que víamos lá de cima que a parte antiga de Perúgia, onde ficava o Hotel Umbria, era uma cidadela, com ruas estreitas, duvidei que qualquer carro entrasse por elas. E certamente se passaram mais de dez minutos até chegar lá.

 

O táxi nos deixou bem próximo a uma das entradas da cidadela. O motorista explicou que o carro dele não passava por ali, que era só seguir, em subida, pela rua formada por pedras alinhadas e aplainadas, como em paralelepípedos mais estreitos, que a entrada do hotel era bem próxima. Puxamos nossas malas pelas rodinhas e chegamos até ele. Com entrada aconchegante, muito bem localizado, com um café da manhã bem bom, pago à parte. A varanda do apartamento parecia um jardim antigo. Três camas não muito confortáveis, mas também não muito ruins. O banheiro tinha água bem fria, salvo pelo chuveiro elétrico, esperávamos mais, dava para o gasto. Eles tinham uma parceria com restaurante próximo. Os atendentes do hotel bem amigáveis, de pronto deixaram que guardasse na geladeira uma vacina que estava tomando contra alergia.

 

Deixamos nossas coisas e subimos pelas ruas em aclive até alcançarmos a rua principal – Corso Pietro Vanucci -, plana, agitada, com muitos cafés e torterias, restaurantes com mesas ao ar livre e toalhas de coloridos vivos, lojinhas, museus e catedral. Rua bem aconchegante, nos animamos e a tensão das horas anteriores se dissipou. Em rua paralela havia uma feirinha artesanal, onde compramos um pedaço de salaminho AL tartufo de Norcia maravilhoso, que nos acompanharia em parte da viagem pela Itália. Fomos de um lado ao outro da Corso Vanucci. Minha filha comprou uns itens básicos na loja da Benetton, em promoção.

 

Tiramos fotos, mas como já entardecia e algumas atrações estavam se fechando, resolvemos dar uma chegada no Supermercado COOP, onde compramos frango e batatas fritas quentes, um pouco de pão e queijo, suco, chocolate e sorvete, para um jantarzinho e descanso, após um dia agitado.

 

No dia seguinte o filho do dono do hotel nos levou de táxi até a rodoviária, a um preço módico em euros. Ele nos avisara que a estação rodoviária era muito próxima e era mesmo. Expliquei para ele que no dia anterior tentara chegar até ela, mas existiam muitas curvas, subidas e descidas, que me confundira e o ônibus não nos esperaria se chegássemos atrasados.

 

O carro dele estava em estacionamento próximo à murada da cidadela, de onde podíamos ver a cidade em paisagem, seus telhados e Igrejas, bem próximo à entrada onde o taxista nos deixara no dia anterior. Descemos as vielas e reconheci rapidamente lugares por onde tinha passado, na busca do hotel. Chegamos uns dez minutos antes de o ônibus partir, o que permitiu confirmar a plataforma de onde ele partiria.

 

Quando voltamos de Gubbio, o mesmo cara que nos levou de carro à rodoviária, nos deu um mapa e nos indicou se seguíssemos pela Via Corso Pietro Vanucci, na direção da Piazza Italia, encontraríamos um sistema de escadas rolantes que nos levaria direto à estação rodoviária. Dito e feito. Assim, descobri que o Google Street de fato me indicara que ali perto da rodoviária havia uma passagem para chegar ao Hotel Umbria, todavia como havia uma murada que servia de antepara, perpendicular, à saída das escadas rolantes, não conseguira reconhecê-la.

 

No terceiro dia de nossa chegada à Perúgia, visitamos a cidade de Assis, chegando de ônibus, após 01h15min de viagem, até de forma mais fácil que pensara.

 

Brasília, 03 de março de 2019.


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