Amigo pessoal de Pelé, o fotógrafo Luiz Alberto Andrade (1936-1998) teve acesso privilegiado à intimidade do maior atleta de todos os tempos, morto aos 82 anos na última quinta-feira. Um acervo inédito de quase 3 mil fotos do Rei do Futebol, ao qual a reportagem do GLOBO teve acesso, acaba de chegar ao Brasil, graças ao esforço dos familiares da viúva do profissional, a jornalista Eugênia Fernandes, que faleceu em setembro do ano passado. As imagens estavam guardadas em estantes no apartamento do casal, em Paris. E nunca tinham sido divulgadas até hoje.
Luiz Alberto conheceu Pelé ainda no Brasil. Nascido em Santa Catarina, o repórter fotográfico se mudou para a capital francesa nos anos 1970, quando trabalhava para a revista Manchete. "(Luiz Alberto) 'descobriu' o Rei muito jovem e eles tinham laço de amizade bastante forte", escreveu a tradicional revista France Football, em 20/6/1998, em matéria sobre a morte do fotógrafo brasileiro. "Muitos jornalistas contataram Pelé graças à boa vontade de Luiz Alberto, e as entrevistas duravam muito mais tempo".
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O acervo é composto por pequenos slides de fotos, separadas por caixas temáticas, com data e descrição datilografadas pelo próprio fotógrafo. Compreendem da década de 1970 à de 1990, quando Pelé teve uma vida intensa no exterior. Em 1974, após deixar o Santos, o Rei foi difundir o futebol nos Estados Unidos, onde defendeu o New York Cosmos (1974-1977).
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Em solo americano, o jogador se dividia entre vários endereços, como o espaçoso apartamento em Manhattan, com bela vista para os arranha-céus da ilha, e a casa de veraneio em East Hampton, região próxima a Nova York. Lá, como fica evidente nas imagens, Pelé se sentia à vontade, como poucas vezes um astro de sua grandeza poderia estar devido ao assédio de fãs e imprensa.
De Edson a Pelé, o rei do futebol
Por causa dessa cumplicidade de Pelé e Lulu, como o fotógrafo era conhecido, esse acervo se difere tanto do que já foi visto sobre o Rei. Na calma de East Hampton, Pelé cuidava da casa, fazia churrasco, descansava à piscina e recebia amigos. Em uma dessas idas, em agosto de 1990, o ex-jogador se arrisca ao violão, aparece assando carne, alimentando os bichos e retocando a pintura da casa.
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O fotógrafo também registrou bastidores de encontros de Pelé com personalidades, como Muhammad Ali, em 1977, ou Franz Beckenbauer, seu companheiro de Cosmos. Viagens a trabalho, de compromissos publicitários e até a intimidade na relação com seus filhos (há registros de aniversários e jantares) e esposas ou namoradas. Como a apresentadora Xuxa, com quem se relacionou nos inícios dos anos 1980. O fotógrafo registrou viagens do casal a lugares como Nova York, Paris e Berlim.
Preservação
Agora, os parentes buscam uma forma de preservar esse rico acervo, que estava arquivado em um apartamento em Paris, onde o casal viveu desde a década de 1970.
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— Trouxemos quase 200 quilos de material fotográfico em malas. Uma revista francesa nos procurou para adquiri-lo, mas a gente acredita que essas fotos merecem estar no nosso país, onde nasceu Pelé, mas precisam ser preservadas — conta Rosina Wagner, única irmã de Eugênia, que guarda as imagens em sua casa em Copacabana, no Rio de Janeiro.
Luiz Alberto morreu pouco depois da partida entre Brasil e Escócia, na primeira fase da Copa do Mundo da França. Poucos dias antes, recebeu uma vista em seu apartamento que fez questão de fotografar ali mesmo, na sala de estar. Era Pelé.