O poeta Carlos Rabelo conversando com Francisco Nogueira Lima
Carlos Antônio Rabêlo é um amigo especial, pois sendo poeta se emparelha a outros intelectuais do ramo. É merecedor, portanto, desta homenagem. Sobremodo por ser cavalheiro que sempre andou, de fato, pela estrada da virtude.
Conheci o cidadão que irei aqui louvar, quando há cerca de nove anos participamos do Conselho de Administração da AABB-Recife e formamos “aquela parelha”.
Somos afins na arte de apreciar os tira-teimas com as letras, principalmente pelo gosto das piadas escritas e prosas pitorescas. Foi meu coautor, com Célio Pereira da Silva, no livro: “Realmatismo – Um time de coroa”, focando as culminâncias dos “véi” que amam a pelota.
Rabelo está ligado a uma confraria de beletristas de São José do Egito, que é a Capital da Poesia de Pernambuco e, também, o “Berço da Poesia”.
Dentre os cobras que viveram e os que vivem por lá: Dirceu Rabêlo, Antônio Marinho, os irmãos Batista, Mário Gomes, Cancão, Jó Patrióta, Rogaciano Leite, Zé Catôta e outros.
Meu amigo é hábil no trato das rimas e na filosofia popular, artes que domina desde jovem. Aqui e ali, porém, as “lambanças” lítero recreativas dele costumam tirar a gente do sério, oferecendo-nos coisas engraçadíssimas.
De sua vida pregressa pouco poderei falar. Deus me livre! Só sei que passou pela vida profissional e com pleno sucesso, sobremodo como gerente de agências do Banco do Brasil de onde é aposentado e se formou em Direito.
Mas, foquemos um pouco de sua arte. Certa feita trocamos comentários sobre um sonho tenebroso que vivi. Na cena onírica eu me via comprando um jazigo. Contei ao poeta e ele disparou este poema, a respeito do assustador momento. E fez a remessa acompanhada de um bilhete:
Ainda bem que você em matéria de premonição tú num tá com nada! Mas, como gostei do seu texto, sob a ótica literária, naturalmente, fiquei inspirado e fiz esse poeminha pra você.
“Amigo, a morte virá,
Isso é muito certo,
mas deixe que ela venha
como veio a vida,
sem aviso,
sem tempo,
sem lugar,
sem que a gente saiba,
sem um antecipado arquivo
onde ela caiba.
Há outra passagem que nos liga: o livro “REALmatismo”, nome que foi sugestão do muito inteligente e não menos safado Mirandinha, Eu só fiz a letra do hino, disse Rabelo.
Na produção formando um trio: eu, ele e Célio Pereira da Silva. Vivemos experiência cheia de risadas homéricas.
O título: “REALmatismo, que deve ter encabulando a turma do famoso clube da Espanha: o Real Madrid, pois Rabêlo deu-lhe o título de: “Real-matismo – Um time de Coroa”. Ou seja, uma equipe formada por atletas reumáticos, todos assanhados velhotes.
O livro dos velhotes reumáticos
Agora vem a coisa séria. O que me inspirou a crônica. Aos 26 de fevereiro de 2013, comentei com ele sobre um verso de Orlando Tejo, desafiando um amigo com o seguinte mote:
“Costuma andar de marcha a ré
na estrada da virtude.”
Se alguém partir a pé
É capaz de se atrasar.
Se resolver não chegar
Vai andar de marcha ré.
Não é preciso ter fé
Demonstrar beatitude
Na velhice ou juventude
Quem pra trás vive a andar
Por certo não vai passar
Na estrada da virtude
Andar pra trás não adianta
Pois não contempla o futuro
Se o passado não censuro
O porvir é que me encanta
Da semente nasce a planta
O fruto é a plenitude
Quem com o tempo se ilude
Volta a ser um zé-mané
Se andar de marcha ré
Na estrada da virtude.