PEDRAS PRECIOSAS
Humberto de Campos
Segurando o almirante pela manga da casaca impecável, a Baronesa forçou-o a sentar-se, de novo:
— Não, senhor, não pode ir; tem que contar-nos, agora, a virtude de todas as pedras preciosas exibidas pelas senhoras que aqui se acham.
— Eu? — obtemperou o ilustre marinheiro, levando a mão clara ao peitilho espelhante da camisa:
— Sim, senhor. É este o seu castigo.
E imperativa:
— Sente-se!
Generalizada, de novo, a palestra, a Viscondessa de São Germano indagou, com sincero interesse:
— É verdade, almirante é certo, mesmo, que a ágata é "porte-malheur"?
— É verdade, afirmam isso... — acrescentou Madame Sampaio Gomes.
O almirante contestou:
— É uma invenção recente, essa, D. Violeta. Os antigos, pelo menos, não dão notícia dessa propriedade. Plínio, que a ela se refere longamente, atribui-lhe a virtude de tornar os atletas invencíveis. Os egípcios indicavam-na como infalível contra mordedura das víboras, dizendo-se, mesmo, que as águias a colocavam no ninho para afugentar as serpentes, que lhes perseguiam os filhos.
— E o rubi? — indagou a Baronesa.
— O rubi é a pedra dos espíritos esclarecidos. Teofrasto aponta-o como um dos incentivos misteriosos da inteligência, circunstância que a levou, ao que parece, a ser adotada como pedra simbólica dos bacharéis. Outros acreditam que ele preservava contra a peste, contra os venenos, e contra outros perigos da vida. É, mais ou menos, como a esmeralda.
— Como a esmeralda?
— Sim. A esmeralda fortalece, também a inteligência, e cura, segundo Plutarco, as mordeduras de cobra. Alberto, o Grande, recomendava-a contra a epilepsia e Cornélio Agripa contra as hemorragias.
Foi por essa altura que a encantadora D. Ritinha, que até então se limitara a sorrir, fazendo companhia ao contentamento dos outros, aventurou, cândida:
— Mas, há pedras portadoras de desgraças; não há, senhor almirante?
— Dizem que a opala é desse número, minha senhora; mas eu não creio.
— Não crê?
E entre a atenção geral:
— Pois, olhe, há dois anos, meu marido ia sendo vítima de uma dessas pedras de mau agouro. Esteve muito mal!
— E que pedra foi essa? Pode-se saber?
A moça não lhe sabia o nome; a Baronesa correu, porém, pérfida, em seu auxílio:
— Era o carbúnculo; não era, Dona Ritinha?
A jovem senhora, desabituada àquele meio supercivilizado, bateu com a cabeça, confirmando, ingênua, a horrenda perversidade:
— É isso mesmo; era o carbúnculo. E compadecida:
— Quase ele morre, coitado!...