Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Literatura - Contos e Crônicas quarta, 09 de março de 2022

PEDRAS PRECIOSAS (CONTO DO MARANHENSE HUMBERTO DE CAMPOS)

PEDRAS PRECIOSAS

Humberto de Campos

 

 

 

Segurando o almirante pela manga da casaca impecável, a Baronesa forçou-o a sentar-se, de novo:

 

— Não, senhor, não pode ir; tem que contar-nos, agora, a virtude de todas as pedras preciosas exibidas pelas senhoras que aqui se acham.

 

— Eu? — obtemperou o ilustre marinheiro, levando a mão clara ao peitilho espelhante da camisa:

 

— Sim, senhor. É este o seu castigo.

 

E imperativa:

 

— Sente-se!

 

Generalizada, de novo, a palestra, a Viscondessa de São Germano indagou, com sincero interesse:

 

— É verdade, almirante é certo, mesmo, que a ágata é "porte-malheur"?

 

— É verdade, afirmam isso... — acrescentou Madame Sampaio Gomes.

 

O almirante contestou:

 

— É uma invenção recente, essa, D. Violeta. Os antigos, pelo menos, não dão notícia dessa propriedade. Plínio, que a ela se refere longamente, atribui-lhe a virtude de tornar os atletas invencíveis. Os egípcios indicavam-na como infalível contra mordedura das víboras, dizendo-se, mesmo, que as águias a colocavam no ninho para afugentar as serpentes, que lhes perseguiam os filhos.

 

— E o rubi? — indagou a Baronesa.

 

— O rubi é a pedra dos espíritos esclarecidos. Teofrasto aponta-o como um dos incentivos misteriosos da inteligência, circunstância que a levou, ao que parece, a ser adotada como pedra simbólica dos bacharéis. Outros acreditam que ele preservava contra a peste, contra os venenos, e contra outros perigos da vida. É, mais ou menos, como a esmeralda.

 

— Como a esmeralda?

 

— Sim. A esmeralda fortalece, também a inteligência, e cura, segundo Plutarco, as mordeduras de cobra. Alberto, o Grande, recomendava-a contra a epilepsia e Cornélio Agripa contra as hemorragias.

 

Foi por essa altura que a encantadora D. Ritinha, que até então se limitara a sorrir, fazendo companhia ao contentamento dos outros, aventurou, cândida:

 

— Mas, há pedras portadoras de desgraças; não há, senhor almirante?

 

— Dizem que a opala é desse número, minha senhora; mas eu não creio.

 

— Não crê?

 

E entre a atenção geral:

 

— Pois, olhe, há dois anos, meu marido ia sendo vítima de uma dessas pedras de mau agouro. Esteve muito mal!

 

— E que pedra foi essa? Pode-se saber?

 

A moça não lhe sabia o nome; a Baronesa correu, porém, pérfida, em seu auxílio:

 

— Era o carbúnculo; não era, Dona Ritinha?

 

A jovem senhora, desabituada àquele meio supercivilizado, bateu com a cabeça, confirmando, ingênua, a horrenda perversidade:

 

— É isso mesmo; era o carbúnculo. E compadecida:

 

— Quase ele morre, coitado!...


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