Numa das passagens de mais liberdade poética de “Leopoldina, independência e morte”, que estreia nesta quarta-feira (8), no CCBB, a personagem histórica retratada em cena — interpretada pela atriz Sara Antunes — entende, já no fim da vida, e com certo amargor, que jamais deixou de ser uma “moeda de troca” ao longo de sua trajetória como imperatriz e mulher de Dom Pedro I. “Nós, princesas, somos dados que são jogados”, diz a mulher, enquanto reivindica para si a autoria da independência do Brasil. Há razão para a ficção.
— Ela era muito amada no país. Existiu até certa mobilização, nos bastidores da política brasileira, para que Leopoldina assumisse o Império e Dom Pedro fosse mandado para Portugal — afirma Damigo. — Ao longo do tempo, porém, ela foi sendo apagada, a ponto de hoje mal ser citada nos livros didáticos.
A provocação em torno do papel político da imperatriz Leopoldina permeia a trama do início ao fim, como ressalta o autor, quase com um caráter “pedagógico”. Dividida em três partes — encenadas por Sara, a protagonista, e Plínio Soares, intérprete de José Bonifácio, além da musicista Ana Eliza Colomar, que faz inserções sonoras ao vivo —, a narrativa pincela momentos importantes na transformação de uma princesa, cujo destino havia sido delineado previamente pela família, numa espécie de estadista.
— A história daria um maravilhoso filme hollywoodiano, inclusive com direito a fugas em carroças — diz Marcos Damigo.
No texto que leva aos palcos, o autor e diretor reserva à sua protagonista um papel primordial nos rumos que o Brasil tomou.
— Leopoldina foi uma mulher que tentou tomar as rédeas da própria vida nas mãos e, com isso, acabou realizando a independência do Brasil — defende Damigo. — As pessoas, quando assistem, perguntam: “Mas ela fez tudo isso mesmo?”
Centro Cultural Banco do Brasil (Teatro I): Rua Primeiro de Março 66, Centro (3838-2020). Qua a dom, às 19h. Até 23 de fevereiro. R$ 30. 12 anos.