O delineado de arranha-céus de Águas Claras e o moderno desenho que o Noroeste vem ganhando levam a assinatura de um dos grandes nomes da arquitetura de Brasília. Os traços são o legado que Paulo de Melo Zimbres deixa para a capital do país. Na madrugada de ontem, o arquiteto, que também projetou o Jardins Mangueiral, morreu aos 86 anos, devido a uma pneumonia. Ele deixa cinco filhos, sete netos, três bisnetos e muitos discípulos e admiradores.
Paulo Zimbres casou-se duas vezes. O caçula do primeiro relacionamento seguiu os traços do pai. O arquiteto Marcos Zimbres, 56, recorda emocionado os momentos que passou trabalhando ao lado dele. “Foram quase 20 anos juntos no escritório. Talvez, por isso levei muito puxão de orelha, mas tudo para o bem. Era um pai atencioso, preocupado e uma verdadeira inspiração”, afirma. A paixão pela arquitetura era uma constante. “Ele nunca parou de trabalhar e nem quis. Sempre dedicado, ele acreditava muito no urbanismo, na capacidade de fazer melhorias no convívio humano.”
Nascido em Ouro Preto (MG), Zimbres graduou-se em arquitetura pela Universidade de São Paulo (USP), em 1960. Ao longo da carreira teve trabalhos publicados em revistas como Projeto, Acrópole e AU (Arquitetura e Urbanismo) e projetos reconhecidos em bienais de arquitetura. Venceu a disputa de projetos da nova sede do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do DF (Crea-DF). “No ano passado, falei com ele sobre a segunda etapa da sede. Aprovamos a primeira porque gostamos do resultado. Era um profissional renomado e, nesse momento, merece ser exaltado por tudo o que fez. Brasília perdeu um profissional e tanto”, ressaltou a presidente do Crea-DF, Fátima Có.
Por meio de nota, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Brasília (CAU-BR) lamentou o falecimento do arquiteto e urbanista. O presidente do CAU-DF, Daniel Mangabeira, afirmou que o Brasil perdeu um grande profissional, um homem gentil que deixou um belíssimo legado construído Brasil afora. “Deixou em todos os arquitetos, com quem trabalhou, uma mensagem de amor à profissão e à vida”.
O engenheiro Eustáquio Ribeiro teve o prazer de estar com Zimbres nos últimos dias de vida. Ele se refere ao colega de trabalho como um dos grandes expoentes da arquitetura. “A arquitetura fica menor com a morte dele. O Paulo morreu em plena atividade. Uma pessoa extremamente ética, leal e de competência invejável”, destacou.
Academia
Além de arquiteto, Paulo Zimbres também fez história como professor da Universidade de Brasília (UnB), onde lecionou de 1968 a 1991. A reitora Márcia Abrahão prestou uma homenagem em nome da instituição. “Ele emprestou talento e dedicação a obras que são a cara de Brasília e também da UnB. Seu legado continuará trazendo beleza a nossas paisagens e, na universidade, inspirando os futuros arquitetos”.
Ex-secretário de Cultura do DF, Silvestre Gorgulho é outro que lembrou a importância do arquiteto para a capital. “Uma perda muito grande para Brasília.Trabalhou com afinco para modernizar e dar melhores condições de vida para a população do Distrito Federal. Um artista da arquitetura.”
Águas Claras
Em entrevista publicada pelo Correio em maio de 2017, Paulo Zimbres escreveu um artigo em que fala sobre o projeto de Águas Claras. Com o título Cidade necessária, ele descreveu como pensou a região administrativa e comentou sobre a polêmica mudança na densidade populacional.
“Esperavam que fizéssemos superquadras. Mas, entendendo que era uma cidade com mais atividades e uma liberdade maior que a do Plano Piloto, decidimos que ela abrigaria áreas mistas, ou correria o risco de virar um dormitório e perdesse no uso do metrô. Pensamos em uma cidade mais complexa, mais rica em atividade e com menos restrição de uso. Propusemos até um setor de indústria e áreas comerciais com liberdade de se fazer no térreo dos condomínios.
Como a Rua Augusta, em São Paulo. Pensamos em uma densidade de 300 habitantes por hectare”, explicou o arquiteto.
O velório de Paulo Zimbres será hoje, a partir das 8h, na capela 1 do cemitério Campo da Esperança, da Asa Sul. O sepultamento está marcado para as 11h.