O nosso maluco mais beleza nos deixou ontem.
Acary perde um dos seus patrimônios humanos mais caros.
E eu me lembrei agora de quando um deputado estadual, tentando a reeleição para Assembléia Legislativa do nosso estado, apertava-me o juízo a fim de votos através do meu apoio em Acary, não respeitando a minha vontade de ficar à margem naquela eleição.
Eu disse para ele “não insista que não vou me meter nessa campanha. Mas, se você quiser, eu tenho um amigo, Paulo Benício, que na última eleição municipal ficou na suplência da Câmara de Vereadores”.
O deputado se mostrou interessado e nós marcamos um encontro entre ele e Paulo Benício, no sábado à noite, lá no Bar de Augusto.
Na hora marcada o deputado, que voltava de Caicó, chegou em minha casa e nós marchamos para o encontro.
Eu liguei para Paulo. Em poucos minutos ele chegou com aquele cabelão, um short dois números a mais que o ideal, uma camiseta sem gola idem e, nos pés, um par de tênis estranhos.
Eu o apresentei com as pompas merecidas, tecendo os melhores elogios ao “homem público Paulo Benício”, enquanto ele próprio ia repetindo muito sério “isso! Isso!”, concordando comigo.
O deputado, cheio de cerimônias, levantou-se e apertou a mão de Paulo chamando-o de senhor, reiterando o prazer que era conhecê-lo. Mas olhou para mim um pouco desconfiado, tanto pela aparência, quanto pelo microfone meio enferrujado na mão do meu amigo.
Já Paulo, com aquele jeito meio bruto dele, disse logo “vamos ao que interessa. Quanto você tem pra me dar pelo apoio?”
O deputado se mostrando assombrado lhe perguntou quantos votos ele tivera.
– Nove! – rasgou Paulo orgulhoso e ainda mais sério. – Eu fiquei na vigésima sétima suplência – respondeu com aquele seu jeito de valorizar ainda mais as tônicas das palavras.
Ao saber o potencial político e a posição de suplente de Paulo, o deputado olhou para mim e exclamou com olhar de tristeza:
– Jesus…
– Vou deixar vocês fecharem o negócio – falei me despedindo e deixando-os lá, planejando o pleito.
O certo é que Paulo, reencontrando-me no outro dia, “p… da vida” com o deputado, falou-me com raiva:
– Aquilo é um liso! Pedi quinhentos mil reais, e ele veio me oferecer um guaraná – disse pondo os dois cantos da boca para baixo, fazendo uma careta de insatisfação. – Num me traga outro daquele nunca mais! ‘Tá ouvindo?
Deixará saudade no coração do nosso povo.
Fará discursos nas praças do céu.
O outro Jesus com certeza lhe dando a mesma corda, que este aqui sempre deu.