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» Mapeamento de 12 bens tombados como patrimônio cultural do DF |
O desenho modernista e o conceito de cidade-parque que orientam a construção do Plano Piloto garantiram a Brasília o título de Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco. Entretanto, para além do Eixo Monumental entrecortado pelas asas Sul e Norte, a capital federal cresceu urbanisticamente. As antigas cidades-satélites se estruturaram como regiões administrativas e constituíram seus próprios bens patrimônios. E foi com essas representações culturais que a pesquisadora Daniela Pereira Barbosa, formada em design, fez um inventário dos bens tombados do Distrito Federal localizados fora do Plano Piloto: Catetinho; Museu Histórico e Artístico de Planaltina; Igreja de São Sebastião de Planaltina; Pedra Fundamental de Planaltina; Museu Vivo da Memória Candanga; Relógio de Taguatinga; Igreja São Geraldo no Paranoá; Centro de Ensino Metropolitana; Igreja São José Operário na Candangolândia; Casa da Fazenda Gama; Caixa d’Água da Ceilândia; Centro de Ensino Médio e Centro Cultural Teatro da Praça de Taguatinga.
Em sua tese de doutorado em Arquitetura e Urbanismo, defendida na Universidade de Brasília, ela mapeou 12 bens arquitetônicos com tombamento distrital em diferentes regiões administrativas. A publicação está disponível para consulta no acervo da UnB. Além disso, ela está desenvolvendo um catálogo cartográfico com a identificação dos 12 pontos pesquisados. Em entrevista ao Correio, Daniela defende a importância de dar visibilidade ao tema.
O que motivou a escolha da sua tese e como foi o processo de curadoria?
Quando entrei na pós-graduação percebi uma lacuna com relação à pesquisa sobre o patrimônio cultural de Brasília, envolvendo justamente as cidades-satélites. Eu sabia da existência de alguns bens patrimoniais localizados além do Plano Piloto, como o Catetinho, a Caixa d’Água da Ceilândia e o Museu Vivo da Memória Candanga. Com mais pesquisas, descobri outros bens tombados fora do plano, mas também constatei a falta de informações detalhadas sobre eles. Foi assim que a vontade de investigar esse processo patrimonial cresceu. Vale lembrar que esses tombamentos foram realizados majoritariamente em nível local, ou seja, não foi o Iphan. A única exceção é o Catetinho, tombado em 1959 pelo Iphan. Além de sistematizar as informações, tratei esses bens como um conjunto representativo do patrimônio de Brasília para além do Plano Piloto, tive contato com arquivos históricos do processo de patrimonialização desses bens, os chamados dossiês de tombamento.
Há uma injustiça com os tombamentos que você mapeou?
O Plano Piloto de Brasília sempre “rouba a cena”, por assim dizer. É um espaço carregado de alta simbologia, que contém uma série de palácios modernistas e monumentos que remetem a nomes emblemáticos, como Lucio Costa e Oscar Niemeyer. Os bens que mapeei contrastam com o Plano Piloto nesse sentido, em especial pela sua simplicidade plástica. Por exemplo, alguns deles são singelas construções em madeira que remetem ao período da construção de Brasília, como a Igreja São Geraldo no Paranoá, o Centro de Ensino Metropolitana e a Igreja São José Operário na Candangolândia. Outros são equipamentos públicos em pleno funcionamento que foram tombados pela sua simbologia comunitária, como a Caixa d’Água da Ceilândia. Mas é interessante notar, e isso eu coloco na minha pesquisa, que a discussão sobre a inclusão de outras manifestações culturais do Distrito Federal para além do Plano Piloto chegou a integrar a proposta inicial do reconhecimento de Brasília como Patrimônio Mundial pela Unesco, na década de 1980.
Que locais foram cogitados?
Além do Plano Piloto, estudava-se a preservação de antigas fazendas no território, centros históricos de cidades originariamente goianas, antigos acampamentos de obras e a paisagem natural do Distrito Federal. Nessa proposta inicial, não se previa o tombamento de construções isoladas, mas de características gerais dos espaços, por exemplo, o sistema viário e o gabarito de Regiões Administrativas derivadas de antigos acampamentos de obras. Porém, a falta de visibilidade desse patrimônio é latente. Acredito que haja até mesmo um desconhecimento da população, de modo geral, da própria existência desses bens e de sua história, o que reforça a proeminência do Plano Piloto no contexto cultural de Brasília.
Como esses elementos dialogam com a robustez do patrimônio do Plano Piloto? É possível integrar as referências?
Em minhas análises, verifiquei que a monumentalidade de Brasília, representada principalmente pelo Plano Piloto, fez parte da construção discursiva sobre a importância desses bens localizados em outros pontos do DF. Está tudo bastante relacionado, pelo menos no nível do discurso. O tombamento do Catetinho ainda em 1959, ou seja, antes da própria inauguração de Brasília, mostra isso de forma bastante evidente. É uma referência direta à monumentalidade da capital, ainda vindoura. Ainda assim, o discurso de tombamento expresso na documentação dos dossiês que investiguei não enfoca apenas na monumentalidade de Brasília como suporte simbólico, pois trabalha com demandas locais específicas, demandando visibilidade daqueles locais e daquelas pessoas no âmbito do Distrito Federal.
Que locais poderia citar como exemplos?
Percebe-se, por exemplo, a demanda por maiores investimentos no local para o fomento do turismo, como no tombamento do Museu Histórico e Artístico de Planaltina e no da Casa da Fazenda Gama. É uma estratégia interessante, pois buscou-se incentivar a valorização e exploração turística de locais centenários em Brasília, uma cidade recente. A história, como sabemos, não é linear, e a valorização desses espaços localizados em núcleos satélites buscou reforçar a sua própria importância e demandas no DF. Assim, é essencial que haja a visibilidade desses espaços e de sua história, e espero mais trabalhos com essa discussão sobre a amplitude e a pluralidade do patrimônio cultural de Brasília. Temos desde construções centenárias a igrejas de madeira e torres modernistas, e todo esse acervo cultural merece ser conhecido e preservado.
Daniela Pereira Barbosa prepara catálogo cartográfico
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1 - Catetinho
2 - Museu Histórico e Artístico de Planaltina
3 - Igreja São Sebastião de Planaltina
4 - Pedra Fundamental em Planaltina
5 - Hospital Juscelino Kubitshek de Oliveira — HJKO
6 - Relógio de Taguatinga
7 - Igreja São Geraldo no Paranoá
8 - Centro de Ensino Metropolitana
9 - Igreja São José Operário na Candangolândia
10 - Casa da Fazenda Gama
11 - Caixa d’Agua de Ceilândia
12 - Centro de Ensino Médio - EIT/CEMIT e Centro Cultural - Teatro da Praça de Taguatinga