O Brasil entra em ação nos Jogos Olímpicos Paris-2024 antes mesmo da Cerimônia de Abertura oficial do evento. E caberá a uma jovem arqueira dar início à participação brasileira amanhã, a partir das 4h (horário de Brasília). Ana Luiza Caetano tem 21 anos, é natural de Maricá e pode ser considerada um dos maiores talentos da modalidade que já surgiram no país.
Apesar da pouca idade, Ana Luiza tem uma trajetória repleta de conquistas: é bicampeã brasileira (2021 e 2023), medalhista de bronze nos Jogos Sul-Americanos (2022) e na Copa do Mundo de Medellín (2022), disputou os Jogos Pan-Americanos de Lima-2019 aos 16 anos e detém todos os recordes brasileiros nas categorias de base.
— Por enquanto, deixei essa ideia de lado para viver outro sonho. Como sou atleta militar de alto rendimento na Força Aérea Brasileira, preciso residir no país e minhas saídas pelos próximos cinco anos serão apenas para treinar ou competir — explica.
A relação de Ana Luiza com o esporte começou aos sete anos, no Rio Yacht Club, em Niterói, quando conheceu a vela. Foi graças à modalidade que pode conhecer todo o litoral brasileiro, fazer sua primeira viagem internacional, aprender mais sobre sustentabilidade e se tornar escritora.
O lado escritora
As experiências enquanto velejava eram registradas em um diário de bordo e compartilhadas com amigos e familiares. Seu avô apresentou os textos a uma editora, que decidiu transformá-los em livro: “Bons Ventos: Diário de Aventuras Iradas”.
Pouco tempo depois, recebeu novo convite no meio editorial: escrever um livro paradidático voltado ao público infantil. “Eureka” aborda os valores olímpicos, o folclore brasileiro e a conscientização ambiental, e rendeu um convite para participar de uma mesa-redonda na Flip, em Paraty.
Os excelentes resultados obtidos no início do atual ciclo olímpico davam sinais que Ana Luiza estava pronta para assumir um papel de protagonista no tiro com arco brasileiro. Mas certas atitudes do então treinador da seleção nacional, o italiano Alberto Zagami, foram a afligindo e a deixando menos à vontade nos treinos, a ponto de abandonar a equipe.
— Oficialmente, fiquei um ano afastada. Finalizei o ano de 2022 com a seleção, não fiz parte em 2023 e voltei no início desta temporada.
O tempo mostrou que Ana Luiza tinha razão nas queixas quanto ao comportamento de Zagami junto aos atletas. O treinador enfrentou diversos problemas de relacionamento com outros arqueiros e acabou desligado da Confederação Brasileira de Tiro com Arco (CBTArco), que optou por promover Wallace Silva, das categorias de base, a comandante da seleção masculina adulta e a recontratar o cubano Jorge Carrasco na feminina. A mudança no corpo técnico não veio a tempo de Ana Luiza disputar o Pan de Santiago-2023, mas ao menos trouxe de volta a esperança de participar de Paris-2024.
— O sonho nunca morreu. Trabalhei para isso mais do que nunca em 2023, mas às vezes parecia que precisaria adiá-lo para 2028.
Neste período em que esteve afastada da seleção, a arqueira não parou de treinar. Mas precisou reorganizar sua rotina, passando a treinar em casa e contratando o treinador norte-americano Kevin Ikegami para organizar suas atividades.
— Sempre tive um campo em casa, então não precisei parar nem um dia por causa dessa mudança. Organizei os treinos com o Kevin de duas formas: uma delas online, com prioridades e periodização; e outra indo para lá sempre que possível, podendo trabalhar pessoalmente com ele e competindo em campeonatos de bom nível técnico e número gigante de atletas.
De volta à seleção brasileira e novamente se sentindo à vontade para atirar, Ana Luiza agora só quer celebrar a estreia em Jogos Olímpicos:
- Sinto que estou na minha melhor forma, e poder fazer a minha estreia nesse momento está sendo melhor do que imaginei. Competir na dupla mista ao lado do Marcus (D’Almeida) deixa tudo mais fácil, principalmente porque essa é minha prova favorita e acredito que podemos sonhar com um bom resultado.