A felicidade, de surpresa, avizinhou-se, bateu-me à porta, entrou e sentou à minha frente, pertinho dos livros, entre um Bandeira e um Graciliano. Usou a cadeira de balanço em que eu cochilo como se em casa estivesse. E estava. Foi quando todas as letras deram-se as mãos, arrumaram-se entre si e formaram versos bonitos, belas prosas. Pela janela, os relâmpagos, cor de arco-íris, enfeitavam tudo o que não era terra. Foi quando percebi que todas as estrelas esqueceram de dormir e brincavam naquele céu de pré-chuva, antes que as nuvens virassem neblinas perfumadas. Na calçada, sentados ao chão, os homens conversavam e brincavam que nem as crianças que lhes tinham ensinado a recitar o verbo amar. Ao longe, mas nem tanto, ouviam-se serenatas acompanhadas por violões afinados, tão diferentes dos fuzis que se anunciam, estes usados para fim ignóbil. Estávamos em plena terça-feira de carnaval e todos torcíamos para que aquela festa não se quarta-feirasse. Aos quatro ventos, meninos brancos, pretos e pardos, buchudos e magrelos, ricos e pobres bradavam anúncios de cursos intensivos de abraços e beijos na faculdade de carinho ali próxima, na outra esquina. Todos riam e cantavam e ninguém sonhava com o Paraíso. Precisava? Existia um outro além daquele?
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