Quando se relativizou o peso da goleada sobre o Peru, era justamente para desafios como o de ontem que se alertava: enfrentar uma defesa fechada, um rival encerrado atrás, a obrigação de achar espaço diante de um muro. Nos 5 a 0 sobre os peruanos, circunstâncias um tanto atípicas abriram os caminhos. Ontem, apesar de um domínio massacrante, naturalmente maior após a expulsão de um paraguaio, o tal primeiro gol não saiu. E embora a seleção fizesse muitas coisas corretas, o calvário foi até os pênaltis.
É importante ponderar que é natural ser assim. Se furar defesas é um desafio nas disputas de clubes, tal traço do jogo atual é ainda mais verdadeiro entre seleções. Porque as equipes nacionais têm menos tempo de treino, trabalham menos e, portanto, têm menos chances de desenvolver mecanismos, automatizar e sincronizar movimentos para abrir retrancas. Não nos esqueçamos da Copa do Mundo, vencida por uma França cheia de talentos, mas que corrigiu seu caminho quando passou a defender mais atrás e buscar o jogo em transições rápidas.
Mas por falar em desconforto, há outras situações que merecem mais atenção no momento. Tite quer laterais como armadores numa faixa mais central do campo e vê seus pontas iniciarem as jogadas mais abertos. Quanto a Éverton do lado esquerdo, nem há tantos problemas. Ele se sente à vontade. Mas Gabriel Jesus foi sacrificado demais no jogo. Como a marcação paraguaia bloqueava bem os lados e também impedia que o Brasil tivesse continuidade no campo ofensivo, raramente ele conseguia fazer a diagonal para a área. Preso pelo lado, fugia demais às suas características. E sem tantas opções de profundidade, ou seja, jogadores que se projetam para receber às costas da marcação rival, quem também se sacrifica é Roberto Firmino.
Pênalti perdido à parte, é um jogador de extrema inteligência, precisa ter opções de passe para que sejam aproveitados os espaços gerados por sua mobilidade. Aliás, o movimento que fez tirando Balbuena do lugar e gerando o lance da expulsão do paraguaio foi preciso. Assim como a jogada de Jesus, que rompeu seu confinamento à ponta e criou o lance.