|
|
A cineasta Patrícia Dantas, a museóloga Jade Morais e Luciana Ricardo,
responsável pelo setor de educação patrimonial do Mude, participarão da iniciativa
|
Já pensou em produzir um filme gratuitamente e ainda mostrar para outras comunidades as riquezas da sua cidade? Graças ao projeto Reconhecendo meu território, descobrindo possibilidades, oferecido pelo Museu da Educação do DF (Mude), em parceria com o Museu Vivo da Memória Candanga, isso será possível. Duas turmas, com 25 alunos cada, serão responsáveis por descobrir locais, eventos, festividades e pessoas importantes em uma comunidade.
Responsável pelo setor de educação patrimonial do Mude, Luciana de Maya Ricardo conta que, inicialmente, o curso era voltado para moradores da Candangolândia, local onde o museu será erguido, porém, pessoas de outras regiões demonstraram interesse. “Vai acrescentar riquezas culturais ao projeto, com mais histórias de cada cidade, já que temos matriculados alunos de diversas regiões, como Núcleo Bandeirante, Recanto das Emas e Planaltina.”
Segundo ela, o principal objetivo do curso é mostrar para as pessoas que os patrimônios de uma comunidade não são apenas coisas institucionalizadas, podem também ser simples, como o samba do fim de semana, aquela praça de que os moradores cuidam, um evento ou até mesmo uma pessoa que a comunidade respeita. “Queremos que os participantes se identifiquem com essas pessoas e esses lugares e produzam um filme para que outras sejam influenciadas e consigam identificar o patrimônio histórico da comunidade delas também”, destaca.
Quando concluído o filme, a ideia é que uma devolutiva seja feita para a comunidade, entre 17 e 18 de dezembro, nos locais onde foram gravadas as imagens. “Como vamos explorar muito esses patrimônios imateriais, dos quais as pessoas desconhecem o valor, como costumes, tradições, queremos apresentar para elas depois”, afirma Luciana. “Queremos que elas percebam que essas coisas do dia a dia delas também têm valor.”
Ao todo, serão 16 encontros, divididos em três etapas, sendo a primeira uma coleta de dados de cada local e a produção de um inventário. Em seguida, com essas informações, será montado um roteiro e definido o formato do projeto, se será documentário ou filme, por exemplo, e, por último, filmagens e edição do projeto. “Eu quero ensiná-los, principalmente, como podem se expressar por meio da linguagem audiovisual, para que eles possam apresentar as riquezas de cada local de forma sensível”, explica a cineasta Patrícia Dantas.
Jade Gabriela de Deus Morais, museóloga que auxiliará na composição dos inventários, afirma que, apesar de ministrar as aulas, também aprenderá com as histórias de cada aluno. “O mais interessante é que eu vou poder ver o que os outros têm para apresentar. Eles vão trazer a vivência deles, o que é importante no local onde moram. Isso é muito tocante.”
Pioneiro
Yussef Jorge Sarkis, 63, morador de Águas Claras e presidente da Associação dos Candangos Pioneiros de Brasília, é um dos milhares de candangos que chegaram à cidade durante a construção da capital. Seu pai e seu tio vieram para a cidade participar diretamente do processo de formação de Brasília. O pai de Yussef, José Paulo Sarkis, foi o dono da primeira loja de materiais de construção da cidade, localizada na 2ª Avenida da Cidade Livre, atualmente Núcleo Bandeirante. Local também do seu primeiro endereço na cidade, em uma casa nos fundos da loja.
Com o pai visionário, cresceu se mudando, morou no Núcleo Bandeirante, na Asa Norte, na Asa Sul e em muitos outros lugares. “O primeiro prédio da W3 Sul foi construído pelo meu pai, uma loja. Segundo minha mãe, parecíamos uma família de ciganos. Nós nos mudamos mais de 20 vezes”, afirma Yussef. Ele cresceu vendo a cidade do coração se transformar e ganhar as características de metrópole. “Brasília nasceu para ser cosmopolita, aqui é uma síntese do que é o Brasil”, acrescenta.
Para ele, iniciativas como a do curso oferecido pelo Mude, em parceria com o Museu Vivo da Memória Candanga, são fundamentais para a cidade. “Temos experimentado um crescimento rápido. Brasília é uma cidade jovem e, para qualquer lugar que olhamos, tem uma construção”, observa. “Essas histórias têm de ser contadas”, enfatiza o pioneiro.
* Estagiárias sob supervisão de Mariana Niederauer