O fato de ter abandonado o marido poderia tê-la conduzido à lama e à vergonha, mas, ao contrário, com a nova união, ela conheceu o esplendor da glória. Viagens, restaurantes caros e amigos ricos logo lhe despertaram a vaidade de ser rica.
Três anos depois, o “fogo baixou” e a paixão de Jorgete se diluiu no tempo e no espaço. Entretanto, gostava do luxo e do conforto, que Vilton lhe proporcionava.
Jorgete cultuava a fortuna e a vida boa que levava. Sentia-se feliz e via aos seus pés, derretido numa chuva de ouro, o coração desse homem generoso, nobre e rico, como aquela com que Júpiter fecundou, na torre de Argos, a desditosa Dânae, mãe de Perseu, um dos heróis mais emblemáticos da mitologia grega, considerado um semideus.
Bonito, elegante e rico, o empresário não tinha motivos para temer um competidor. No entanto, mesmo consciente da sua invejável situação econômica, Vilton vivia com o coração apertado, pela insegurança que sentia, com relação a Jorgete, que não hesitara em abandonar o primeiro marido, quando o conheceu.
E foi dominado por essa fraqueza, que, certa noite, não se controlou e desabafou com a mulher, abrindo as torrentes da sua alma:
– Você não imagina, Jorgete, o que tem sido a minha vida, depois que passamos a viver juntos. Eu tenho por você uma paixão desesperada. A minha fortuna, a minha vida e o meu destino estão nas suas mãos. Dou a você, além do meu amor, tudo o que você deseja. Nunca lhe neguei nada. Realizar seus desejos sempre foi a minha religião e a minha maior alegria. Entretanto, a minha felicidade é perturbada por uma insegurança terrível, quando penso no que você fez com seu marido, abandonando-o sem dó nem piedade.
Diante dessas palavras tão sinceras, brotadas do coração do marido, a mulher franziu a testa, coroada de cabelos dourados, como quem acabava de ouvir uma novidade maravilhosa. Sentiu-se envaidecida com essa declaração de amor.
Com os cotovelos fincados na mesa do jantar, e com o rosto de boneca, muito claro e lindo, a fisionomia de Jorgete denunciava uma grave inquietação. De repente, com ar de ingenuidade, uma pergunta aflorou, na sua boca vermelha:
– Então, existe, aqui na capital, outro homem ainda mais rico do que você?!!!
E, ansiosa, disse para si mesmo, sem olhar para o marido:
– Preciso, urgente, conhecer esse homem tão rico assim…