A Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) mostrou que, no ano passado, 49,6% das casas do Distrito Federal tinham animais de estimação. Ainda que a parcela seja grande, a missão de colocar um pet dentro de casa é algo que nem todas as pessoas estão preparadas para enfrentar. Os bichinhos trazem alegria, mas não são objetos e necessitam de cuidados especiais.
Com o isolamento social durante o auge da pandemia da covid-19, muitos brasilienses buscaram nos pets uma forma de diminuir o desgaste psicológico provocado pela solidão. Foi nessa época o garçom Antônio Pereira, 55, começou a cogitar a possibilidade de adotar um cachorro. Durante toda a vida, Antônio gostou de cuidar de bichos de estimação e o pedido do neto foi o gatilho para que o cachorro Duque fosse adotado pelo morador de Planaltina. “Foi o filhote que me identifiquei de primeira e ele faz muito bem para mim, quando estou sozinho em casa ele é um bom parceiro'', celebra.
Antes adoção, Antônio alerta que o candidato a tutor de pet deve avaliar todos os cuidados que o animal vai demandar. “Tem que dar carinho, atenção, alimentar bem, porque ele só vai nos dar amor e carinho se cuidarmos”.
Wellington Fabiano, diretor do abrigo Flora e Fauna, instituição que acolhe cães e gatos em situação de risco, vítimas de abandono ou maus-tratos, explica que a adoção é uma oportunidade de mudar não só a vida do bichinho, como também a do tutor. "Quando você faz a adoção, o animal não tem que entrar na sua rotina, mas sim você que tem que mudar a sua rotina por ele, para que haja harmonia no convívio’’, diz o diretor.
Cautela e reflexão
O processo de adoção é fácil, mas passa por algumas etapas. Antes de tudo, quem pensa em adotar deve se perguntar se tem condições financeiras e tempo para cuidar de um animal. Essas questões são respondidas em formulários antes da adoção. Depois de escolher o pet na visita, o futuro tutor assina um termo se responsabilizando pela vida do animal. Só então, o bichinho pode ser levado para casa.
Para Wellington, que recebe diariamente candidatos à adoção, muitas pessoas vão pela emoção e pela fofura e se esquecem dos problemas que um cachorro pode trazer, como arranhar, cavar, morder e sujar. “Depois enjoam e querem devolver o animal. Isso é muito ruim, tanto para aquela pessoa que quer dar um lar para o animal, quanto para o bichinho. Ele tinha tudo, tinha uma família, todo aquele conforto é tirado”, lamenta.
Foi durante uma visita ao Flora e Fauna que Marcelo Mendes, 28, assistiu uma devolução de uma cachorro. Uma família não quis mais o animal alegando falta de espaço em casa. Marcelo chegou sem a intenção de adotar e acabou voltando com a Mave. "A cena cortou o meu coração na hora, quase chorei, as pessoas adotam animais por serem filhotes e pequenos, mas depois acham que não vale a pena cuidar depois que crescem’’, lamenta.
Cuidados
Ao assumir a responsabilidade por um pet, é preciso estar ciente dos cuidados necessários para o bem-estar do novo membro da família. Na lista estão incluídas as vacinas, visitas ao veterinário, atenção aos sinais do animal, alimentação adequada e higienização passam a fazer parte da rotina do tutor. “Um pet adotado é responsabilidade para toda vida, e não para tratar como se fosse descartável ou uma pelúcia”, alerta Lucimar Aparecida, idealizadora do Projeto Acalanto.
Além de resgatar animais abandonados, os voluntários da OnG também recebem — em suas próprias casas, uma vez que o projeto não tem sede fixa — pets de pessoas que não tem mais condições de cuidar. De acordo com Lucimar, assim que um é adotado abre espaço para que outro seja resgatado. “É rotativo, e assim vamos seguindo dia após dia”, explica.
A cadelinha Luna foi adotada durante um voluntariado no Flora e Fauna. Luisa estava com ela nos braços e pediu ao pai Tamar, 46, que a levasse para casa. A princípio, o pai não queria, mas... ”vendo aquele ser tão frágil e vulnerável, resgatado em um lixão, me fez esquecer os planos e trazê-la conosco’’, comenta.