26 de abril de 2020 | 07h00
Sem receber uma partida oficial desde 29 de fevereiro, o Estádio Paulo Machado de Carvalho, conhecido como Pacaembu pela sua localização, completa 80 anos da sua inauguração amanhã até mais ativo do que anteriormente. Afinal, teve sua estrutura transformada em hospital para ajudar no combate à pandemia do novo coronavírus e a salvar vidas.
Foi o primeiro hospital de campanha a entrar em funcionamento em São Paulo, epicentro da doença no País. A construção da infraestrutura de 6.300m² levou 12 dias, tendo sido entregue em 1.º de abril, quando a Organização Social de Saúde Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein, assumiu a unidade e instalação da estrutura e dos equipamentos hospitalares, fez a higienização e deu treinamento aos funcionários.
Idealizado para atender apenas pacientes de baixa e média complexidade, transferidos de outros equipamentos de saúde da capital, o hospital temporário possui 200 leitos, com oxigênio disponível para todos, além de salas de estabilização e de acolhimento dos familiares, tendo estrutura para realizar diagnóstico por imagem e exames de sangue e de urina.
“O Pacaembu é um local onde muita gente foi chorar, de tristeza ou alegria, para o seu time de futebol. É icônico para São Paulo, um cartão-postal. E agora se reveste de mais importância, atendendo a população nessa pandemia”, disse o prefeito de São Paulo, Bruno Covas.
O “jogo” contra o vírus é o mais importante de uma história de glórias do octogenário Pacaembu, um estádio que nasceu e construiu a sua trajetória como um dos símbolos da cidade. A arquitetura, com traços de art déco, o que incluía em seu projeto original a concha acústica, posteriormente substituída pelo tobogã, é ainda considerada uma das mais belas dos estádios brasileiros, mesmo com a construção e inauguração de vários outros nos últimos anos.
“É o estádio onde você está mais próximo do campo. Perto o bastante para ver o jogo e longe o suficiente para observar o campo todo”, define o jornalista José Maria de Aquino.
Além de ter se transformado em hospital de campanha, 2020 está marcado na história do Pacaembu por ter passado para as mãos da iniciativa privada. A Allegra Pacaembu assumiu a gestão pelos próximos 35 anos. Neste primeiro, foram realizados três jogos: a decisão da Copa São Paulo, uma partida do Palmeiras e um clássico entre o clube alviverde e o Santos.
A administradora assumiu o estádio, a piscina, as quadras de tênis, o estacionamento e o ginásio poliesportivo. O Museu do Futebol, que funciona embaixo das arquibancadas, e a Praça Charles Miller seguem sob gestão do município. A reforma do complexo, que inclui a demolição do tobogã, deverá começar em meados de 2021.
Nesse contexto, sua utilização como hospital de campanha parece ter vindo para confirmar o conceito de patrimônio da população logo no momento em que foi repassado para a iniciativa privada. “Nunca imaginamos que viveríamos um momento como esse, como cidadão ou empresário”, diz Eduardo Barella, presidente da concessionária que o administra.
Ele aponta, porém, para o peso histórico do momento em que assumiu a gestão do estádio. “É mais um capítulo bonito, que vai ficar marcado em sua história. Vai passar e o Pacaembu continuará a contar casos importantes da cidade. É o lugar onde todo mundo tem uma história e uma relação afetiva. Isso vai torná-lo ainda mais bonito, como uma marca”, avalia.
A opinião é compartilhada por Muricy Ramalho, que trabalhou no estádio como jogador e técnico e frequentou as arquibancadas como torcedor. “É o estádio de todo mundo. É engraçado que todas as torcidas e times gostam de jogar lá. Ele representa a cidade de São Paulo. Eu adorava”, afirma. “Para a história do Pacaembu ficar completa, só faltava essa parte social, ajudando a salvar vidas.”
Inaugurado em 27 de abril de 1940, o Pacaembu foi palco de momentos marcantes da cidade e dos seus clubes. Vivenciou feitos que ultrapassaram os limites territoriais paulistas. Um dia após ser inaugurado, recebeu os primeiros jogos, a goleada do Palestra Itália (hoje Palmeiras) por 6 a 2 sobre o Coritiba e o triunfo do Corinthians, 4 a 2, contra o Atlético-MG. Dois anos depois, teria seu maior público, os inimagináveis 71.281 torcedores, para ver o 3 a 3 do São Paulo, de Leônidas da Silva, com o Corinthians.
Em 1950, o Pacaembu recebeu seis jogos da Copa do Mundo. Também foi no estádio que o Santos de Pelé exibiu o talento do maior esquadrão do futebol brasileiro, levando o Rei a ser o maior artilheiro da história do estádio, com 115 gols.
Na atual década, o Pacaembu foi palco da conquista do título da Libertadores pelos dois alvinegros paulistas. Em 2011, o Santos, de Neymar, venceu o Peñarol na decisão; no ano seguinte foi a vez de o Corinthians ser campeão no estádio, diante do Boca Juniors.