Penelope Laingen era mulher de um alto diplomata que estave entre os 52 americanos mantidos reféns no Irã por radicais muçulmanos durante 444 dias, entre 1979 e 1981, após a Revolução Islâmica. Em meio à angústia que se espalhou pelos Estados Unidos naquela crise, ela decidiu manifestar sua esperança prendendo uma fita amarela em torno do carvalho diante de sua casa, em Bethesda, no estado de Maryland. Então aos 48 anos, Penelope tinha criado o grupo de apoio às famílias dos reféns e começou a promover, durante entrevistas, o laço de fita amarelo como ícone do sentimento de uma nação que queria a libertação dos raptados. Não demorou até que o símbolo se espalhasse pelo país.
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Penelope fora Inspirada pela música "Tie a yellow ribbon 'round the ole oak tree" (prenda uma fita amarela em volta do velho carvalho). Gravada em 1973 por Toni Orlando and Dawn, a canção foi escrita do ponto de vista de um presidiário que, ao fim de sua pena, pediu à amada para usar a fita como o sinal de que ela o aceitaria de volta. A ideia teria origem no século XIX, quando muitas mulheres, supostamente, usavam laços amarelos no cabelo enquanto seus maridos lutavam na Guerra Civil Americana (1861 - 1865). A mulher do diplomata sequestrado, no entanto, não imaginava que seu gesto inspiraria, no futuro próximo, outras campanhas de conscientização sobre temas como o câncer de mama e a Aids.
Na década de 80, não havia campanhas sobre câncer de mama, e a doença era cercada de tabus e estigmas. Foi quando Charlotte Haley, moradora de Simi Valley, Los Angeles, decidiu mudar isso. Sua irmã mais velha e sua filha sofriam de câncer de mama. Ela começou um movimento local, reivindicando mais investimentos em pesquisa e promovendo autoexame e testes de imagem. Como símbolo, criou um pequeno laço de fita pêssego, sua cor favorita, para as pessoas prenderem junto à lapela. A ideia era que outras pessoas perguntassem: "Por que você está usando essa fita?". Assim, o assunto ganharia circulação. Charlotte distribuía o lacinho em cartões onde se lia: "Fita de conscientização do câncer de mama: Junte-se a esse movimento. Ajude-nos a acordar os legisladores e a América usando essa fita".
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Em 1991, as fitas vermelhas simbolizando a conscientização sobre a Aids ganhavam fama nacional, impulsionadas por um coletivo de artistas de Nova York chamado Visual Aids. Aquele sucesso motivou Charlotte a turbinar seu lacinho cor-de-pêssego. Com ajuda da família, ela confeccionou e enviou cartões com fitas pelo correio para cerca de 40 mil destinatários. Até que um dia o telefone em sua casa tocou. Era Alexandra Penney, editora da "Self Magazine", revista de grande circulação nos EUA, que queria usar o ícone numa campanha nacional contra o câncer de mama. Temendo ver sua ideia associada a uma empreitada comercial, a moradora do subúrbio de Los Angeles disse "não". Mas isso não impediu os planos da revista.
Alexandra Penney assumira a publicação após a morte de Phyllis Starr, fundadora da revista, vítima do câncer de mama. Decidida a homenagear sua antecessora, e sabendo que a doença causava sofrimento por todo o mundo, a editora não desistiria. Só precisava de uma fita diferente para sua campanha. Foi assim que o símbolo com a cor atual chegou ao grande público.
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Em 1991, fitas cor-de-rosa foram distribuídas durante a Komen New York City Race For The Cure, corrida de rua anual promovida, em outubro, pela Susan G. Komen for the Cure, uma grande organização de combate ao câncer de mama nos Estados Unidos. Porém, os souvernirs eram um detalhe naquele evento, que acontece até hoje. Foi o modelo criado pela "Self Magazine" que realmente ganhou o país todo com a publicação da edição especial da revista dedicada ao câncer de mama, em outubro de 1992. Penney conseguira a adesão de grandes empresas da indústria dos cosméticos para distribuir exemplares da revista juntamente com as fitas cor-de-rosa nos balcões de suas lojas. Foi sucesso instantâneo.
"Tenho certeza de que vocês todos já viram a fita vermelha simbolizando a conscientização sobre a Aids em muitas lapelas. Agora, existe a fita cor-de-rosa para a conscientização sobre o câncer de mama", escreveu a editora naquela edição histórica da revista.
Hoje, o laço cor-de-rosa é um símbolo conhecido globalmente, que pode ser visto adornando de peças de roupas a grandes campanhas publicitárias de conscientização ao longo do ano todo, mas, principalmente, em outubro. Por isso, chamamos este mês de outubro rosa. Empresas de diversas áreas, publicações e organizações de saúde como o Instituto Nacional do Câncer (Inca) recorrem a esse ícone para chamar atenção para o câncer de mama, divulgando pesquisas sobre o assunto, exortando mulheres a fazer o autoexame e a marcar exames de imagem periódicos para diagnosticar a doença ainda em seu estágio inicial, quando é muito mais fácil combatê-la.
De acordo com especialistas, a pandemia de Covid-19 levou a uma redução grave no número de mulheres procurando unidades de saúde para fazer exames. Por isso, este mês, a Sociedade Brasileira de Mastologia lançou a campanha "Quanto antes, melhor", que reforça a necessidade de um estilo de vida saudável, para afastar os riscos da doença, e a importância da realização de exames periódicos, com o objetivo de identificar a eventual formação de um tumor em seu estágio inicial. No Brasil, mais de 30% dos diagnósticos acontecem em estágio avançado, o que torna o tratamento muito mais complicado.