OUTRO SONETO AO VIL INSETO
Bocage
Ha juncto do Parnaso um turvo lago,
Aonde em rans existem transformados
Os trovistas de cascos esquentados,
Cerebro frouxo, ou de miolo vago:
Por mais infamia sua, e mais estrago
Doou-lhe Phebo os animos damnados,
P'ra que exprimam em versos desasados
Os seus destinos vis, nos quaes eu cago:
Aqui Bocage, vive, e d'aqui ralha,
E co'a tartarea lingua ponctiaguda
Bons e maus, maus e bons, tudo atassalha.
É vil insecto, e o genio atroz não muda,
Bem como a escura cor não muda a gralha,
E o hediondo fedor não perde a arruda.