RIO — A palavra que melhor define o Oscar 2019 talvez seja “trapalhada”. Nunca antes o caminho até a cerimônia sofreu tantos baques. Em retrospecto, o já icônico erro do envelope — quando o troféu de “Moonlight” foi entregue por engano a “La la land” , lembra? — parece até uma gafe rotineira se comparada aos tropeços da 91ª edição, que acontece neste domingo (24), com transmissão pelo canal TNT (tapete vermelho a partir das 20h30m); e pela TV Globo, depois do BBB .
Nos últimos meses, a Academia voltou atrás em pelo menos três decisões, todas baseadas na busca pela audiência. Pudera. A cerimônia de 2018 foi vista por apenas 26,5 milhões de pessoas — o menor número de todos os tempos (o recorde pertence à festa de 1998, com 57,2 milhões). Desde então, a Disney e a rede ABC, responsáveis pela transmissão, fizeram o possível para encurtar a duração do evento, acreditando que isso traria mais telespectadores . Afinal, quem aguenta ver quase quatro horas de Hollywood celebrando a si mesma? Mas as medidas foram muito mal recebidas.
— A Academia tem um dilema: ou promove uma celebração da arte cinematográfica ou alcança a tão sonhada audiência. Os dois não dá — sentencia o jornalista e colunista do GLOBO Artur Xexéo, que vai comentar o Oscar na Globo ao lado da atriz Dira Paes.
O imbróglio culminou na ausência de um mestre de cerimônias. É aprimeira vez desde 1989 que isso acontece . Ter um apresentador está longe de ser um capricho: é ele quem define o tom da noite e faz as piadas que ganham repercussão nos dias seguintes. Imagine só se não existisse um Chris Rock para comentar a polêmica do #OscarsSoWhite, em 2016 . Ou um Jimmy Kimmel para aliviar o clima num ano em que a indústria foi tomada por denúncias de assédio sexual . Mas nem tudo está perdido.
— Não há filme favorito claro. Para quem gosta de Oscar, isso é ótimo porque gera a expectativa da surpresa e torna a cerimônia mais atraente — pondera Xexéo.
LISTA: Os indicados ao Oscar 2019
Ele se refere ao fato de os prêmios dos sindicatos de Hollywood terem sido entregues a obras distintas durante a temporada. Como diz o chavão, essas premiações são o termômetro do Oscar porque boa parte de seus jurados também pertence à Academia. Só que o Sindicato dos Atores (SAG, em inglês) deu a láurea máxima a “Pantera Negra” ; os diretores reconheceram Alfonso Cuarón , por “Roma”; os roteiristas preferiram “Poderia me perdoar?” e “Oitava série” (que sequer está indicado ao Oscar); e os produtores foram de “Green book: o guia” . Os sites especializados até apostam em “Roma”, mas a produção original da Netflix esbarra na hesitação dos jurados de celebrar um filme de streaming num momento em que a valorização das salas de cinema está em pauta.
Veja, a seguir, as principais controvérsias que atingiram — até a noite deste sábado — esta edição do Oscar. Com resultados imprevisíveis e depois de tantas reviravoltas, bate até uma curiosidade extra de ver.
Desistência de Kevin Hart
O drama em torno da ausência de um mestre de cerimônias começou em dezembro, quando Kevin Kart desistiu da função . A razão foram os tweets homófobicos escritos pelo comediante no passado. Numa mensagem de 2011, ele chegou a expressar o temor de ter um filho gay. A Academia, então, desistiu de procurar outro nome. Nos últimos dias, porém, ganhou força na internet o boato de que Whoopi Goldberg seria uma “apresentadora surpresa” . Ninguém confirmou (nem desmentiu) a informação. A ver.
Filme “popular”?
Numa tentativa de assegurar na premiação longas vistos pelo grande público, foi criada, em agosto, a categoria de melhor filme popular.
Ninguém entendeu que critério definiria uma obra com esse perfil. E nem deu tempo de explicar, porque a instituição voltou atrás no mês seguinte , em meio a um bombardeio de críticas, segundo as quais a existência dessa nova seção menosprezava o mérito artístico de blockbusters como “Pantera Negra”.
Categorias excluídas
No dia 11, a Academia decidiu que quatro prêmios (fotografia, montagem, curta-metragem e maquiagem) seriam entregues durante os comerciais. Foi imediato: nomes de peso da indústria manifestaram repúdio à exclusão da transmissão de atividades tidas como a “alma” da arte cinematográfica. Entre os opositores, os cineastas Alfonso Cuarón , Patty Jenkins, Quentin Tarantino e Martin Scorsese. Quatro dias depois, o Oscar voltou atrás e decidiu exibir as 24 categorias.
Performances musicais
O plano era transmitir apenas as performances de duas das cinco canções indicadas: “Shallow”, de “Nasce uma estrela”, e “All the stars”, de “Pantera Negra”. Segundo o site “Deadline”, Lady Gaga considerou a medida tão desrespeitosa com os outros artistas que ameaçou cancelar sua participação.