29 de janeiro de 2020 | 03h00
O resultado do balanço de pagamentos que acaba de ser divulgado pelo Banco Central indica, porém, que as dificuldades crescentes enfrentadas pela balança comercial – que fazem prever redução das vendas externas nos próximos meses, ao mesmo tempo que se espera o crescimento das importações em razão do reaquecimento mais intenso da atividade econômica – devem continuar a pressionar as contas externas do País.
A conta corrente do balanço de pagamentos resume o saldo das transações do Brasil com os demais países na área comercial (saldo da balança comercial) e de serviços (que incluem receitas e despesas com viagens, seguros e aluguel de equipamentos, entre outros itens) e nos fluxo de rendas (por meio de operações como pagamento de juros e remessas de lucros). O principal fator de alta do déficit na conta corrente no ano passado foi a balança comercial. Com exportações de US$ 224,436 bilhões e importações de US$ 185,032 bilhões, o saldo comercial alcançou US$ 39,404 bilhões. Embora tenha alcançado um valor muito expressivo, o superávit comercial do ano passado foi US$ 13,643 bilhões menor do que o de 2018.
A despeito da reação nervosa observada nos principais mercados mundiais pelo surto de coronavírus, é difícil projetar os efeitos da doença sobre a economia mundial nos próximos meses. Provavelmente a economia da China sofrerá o que os analistas internacionais chamam de “impacto significativo” do vírus cujo desenvolvimento está sendo rápido. Se isso ocorrer, também a balança comercial brasileira sentirá algum efeito, pois a China vem sendo o principal parceiro comercial do País. Antes mesmo do surgimento do coronavírus, porém, a economia mundial apresentava sinais de desaceleração, o que já fazia prever alguma queda nas exportações brasileiras nos próximos meses.
No plano interno, vão se somando sinais de que a recuperação da atividade econômica, embora ainda lenta, tende a se consolidar e, sobretudo, se acelerar nos próximos meses. Isso faz prever aumento das importações de matérias-primas, insumos e bens de consumo final. Isso também tenderá a reduzir o superávit da balança comercial e, mantido o comportamento dos demais componentes do balanço de pagamentos, a pressionar o déficit em transações correntes.
Há, nesse cenário, um dado animador, que é o fluxo de investimentos diretos no País. No ano passado, esse fluxo foi muito mais do que suficiente para cobrir o déficit em transações correntes. Depois de atingir seu ponto mais baixo da década em 2015 – ano em que já surgiam os sinais da recessão causada pelos erros da política econômica da presidente Dilma Rousseff –, os investimentos estrangeiros no setor produtivo começaram a se recuperar. No ano passado, de acordo com relatório recente da Agência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad), o fluxo desses investimentos para o Brasil foi impulsionado em boa parte pelo programa de desestatização. A aceleração desse programa em 2020 pode favorecer ainda mais o País nesse aspecto.
O déficit de US$ 50,762 bilhões registrado na conta corrente do balanço de pagamentos em 2019 é o maior desde 2015 (quando alcançou US$ 54,472 bilhões), mas não surpreende, pois vinha se desenhando ao longo de todo o ano passado, nem chega a causar preocupações. Há dois importantes fatores que, mantidos nos níveis atuais, asseguram relativa tranquilidade no front externo: um é a manutenção de reservas internacionais expressivas, de US$ 356,9 bilhões no fim do ano passado; outro é o ingresso constante de investimentos diretos no País, que no ano passado somaram US$ 78,559 bilhões.