Guilherme Fiuza
O governador de São Paulo, João Dória, deu um telefonema particular para o ministro da Economia, Paulo Guedes, logo após o pedido de demissão do ministro Sergio Moro. Segundo relatos não desmentidos pelo governador, Dória recomendou a Guedes que pedisse demissão também – retirando a última sustentação do governo Bolsonaro, segundo ele.
Paulo Guedes é o principal condutor da agenda de reconstrução do país, o homem que regeu reformas vitais como a da Previdência e cujas ações afetam diretamente a vida de toda a população. No meio de uma crise grave e inusitada provocada por uma pandemia, o governador do maior estado da Federação pede que o comandante do navio largue o leme – o que, pelos cálculos de Dória, deixaria o país à deriva.
Paulo Guedes respondeu que a sustentação do governo não vem dele, mas do apoio do povo. E que seu plano não é deixar o barco afundar, pois acredita que após a superação da crise o apoio popular que sustenta o governo se multiplicará.
Você acaba de testemunhar a conversa entre um homem e um rato.
Assim como João Dória tinha uma mensagem para Paulo Guedes (será que algum outro ministro recebeu a mesma sugestão?), também temos uma mensagem para João Dória. Mas não vamos telefonar escondido para ele, porque só trabalhamos à luz do dia.
Prezado governador, como vai o Lula? O enlace entre vocês continua progredindo, ou ele já teve uma crise de ciúmes diante do seu talento para a destruição? É bem verdade que as obras completas do ex-presidente continuam imbatíveis, mas também é certo que ele nunca conseguiu a sua eficácia destrutiva no intervalo de um mês.
Lula deve estar encantado com você. Segundo Leonel Brizola, o “sapo barbudo” era um maníaco pelo poder e, para chegar aonde queria, era capaz de “pisar no pescoço da mãe”. E você, Dória, que não é um sapo barbudo e não tem um fio de cabelo fora do gel, veio derrubar os velhos modelos de ambição porca. O novo maníaco é limpinho, não se descabela, não se altera, não se perturba, não se envergonha e é, portanto, à prova de remorso e comiseração. Tudo isso graças a um dom muito simples e discreto: não ter coração. E os tolos aí tentando criticar você com códigos humanos…
Os mais atentos jamais vão se esquecer do brilho nos seus olhos quando você disse que não ia deixar nada funcionar. E quando você constrangeu todos os empreendedores insinuando que eles estavam pensando em lucros, enquanto você estava pensando em vidas. Logo você…
Aí recentemente a Organização Mundial da Saúde, que é a madrinha da quarentena burra, admitiu que o lockdown horizontal não é necessariamente a medida certa contra a epidemia, dependendo da região. E o diretor-geral Tedros Adhanom, porta-voz planetário do “fique em casa” (e cale a boca), recomendou com todas as letras que regiões onde há vulnerabilidade social (gente que cava a subsistência todo dia) devem relativizar o confinamento, protegendo os grupos de risco. Aí você e aquela sua junta médica do apocalipse, até então devotos fervorosos da OMS, ficaram surdos. Quem é Tedros para desafiar a ciência da destruição?
Vieram mais e mais dados, também da OMS, sobre o avanço do contágio por coronavírus dentro das casas. A entidade já chegou a considerar que a pandemia pode estar sendo estendida pela pouca circulação do vírus entre os saudáveis – o que levaria à imunização natural das populações. E você e suas cassandras ficaram firmes, continuando a apavorar todo mundo com equações inventadas relacionando rigorosamente percentual de confinados com demanda por leitos. E com aquele show de óbitos “presumidos” por covid-19 – um escândalo estatístico que, para a sorte de vocês, ninguém questiona.
Prezado João Dória, este bilhete é só para lhe dizer que, a partir do seu telefonema sórdido para Paulo Guedes, ninguém tem mais o direito de negar a sua ciência da ruína. Não vamos pedir a você o que você pediu ao ministro da Economia, porque androides não desistem. Mas saiba que o surto de catatonia geral vai passar, e ninguém no porão ficará imune. Nem os ratos.