Alguns recentes acontecimentos nacionais deixaram muito brasileiro com as orelhas ardendo, os olhos abugalhados e os eggs irritadíssimos. Um amigo de longa data, careca de saber que as searas desta terra de Cabral estão a necessitar de uma baita reestruturação moral, me envia uma fábula interessante. A historieta chama-se A Fábula dos Porcos Assados e lá vai:
“Certa vez, aconteceu um incêndio num bosque e alguns porcos morreram assados. Os homens da região experimentaram a carne assada e a acharam deliciosa. Desde então, quando queriam comer porco assado, incendiavam um bosque. Mas, como tudo não corria às mil maravilhas, o processo começou a preocupar o SISTEMA, dados os prejuízos que eram imensos. As queixas se avolumavam a exigir a reestruturação dele. Congressos, seminários e conferências passaram a ser realizadas anualmente. No XXX Congresso, os especialistas atribuíram o problema a fatores vários: a indisciplina dos porcos, que não permaneciam onde deveriam ficar; a inconstante natureza do fogo; as árvores excessivamente verdes; a umidade da terra; e o serviço de informações meteorológicas local, que não acertava o lugar, o momento e a quantidade das chuvas.
Um dia, um incendiador AB/SODM-VCH – Acendedor de Bosques, Sudoeste Diurno, Matutino, bacharelado em Verão Chuvoso –, chamado João Bom-Senso, resolveu proclamar que o problema era muito fácil de ser resolvido: bastava matar o porco, limpando e cortando adequadamente o animal, colocando-o numa armação metálica sobre brasas.
Avisado por um xeleléu, desses que vivem de congresso em congresso, o Diretor Geral de Assamento mandou chamar o João ao seu gabinete:
– Tudo o que o senhor disse está bem dito, mas não funciona. O que o senhor faria, por exemplo, com os anemotécnicos, caso viéssemos a aplicar a sua teoria?
– Não sei – disse João.
– E os especialistas em sementes e árvores importadas?
– Sei não.
– E os conferencistas e estudiosos que, ano após ano, têm trabalhado no Programa de Reformas e Melhoramentos?
– Não sei – repetiu João.
– O senhor percebe que a sua ideia não vem ao encontro do que necessitamos? O senhor não vê que, se tudo fosse simples, nossos especialistas já teriam encontrado a solução? O senhor com certeza entende que eu não posso simplesmente convocar os anemotécnicos e dizer-lhes que tudo se resume a utilizar brasinhas sem chamas! O que o senhor espera que eu faça?
– Não sei, balbuciou o João, já meio sem graça, aguardando a rebordosa.
– Diga-me se os nossos engenheiros em Porcopirotecnia não são considerados personalidades científicas?
– Sim, parece que são.
– O simples fato de possuirmos valiosos engenheiros em Porcopirotecnia indica que nosso SISTEMA é muito bom. Não é?
– Não sei.
– O senhor tem que trazer soluções para problemas específicos. Temos que melhorar o SISTEMA e não transformá-lo radicalmente, o senhor entende?
– Realmente, eu estou perplexo! – respondeu João.
– Bem, agora que o senhor conhece as dimensões do problema, não saia dizendo por aí que pode resolver tudo. O problema é bem mais sério e complexo do que o senhor imagina. Recomendo-lhe que não insista nessa sua ideia, pois lhe seria prejudicial.
João Bom-Senso, coitado, não disse mais nem um “ai”. Sem despedir-se, assustado, saiu de fininho e ninguém nunca mais o viu.
Por isso é que até hoje se diz, quando há reuniões de Reformas e Melhoramentos do SISTEMA: que falta faz o Bom-Senso!!”