Todas as quintas-feiras muito me divirto assistindo um evento internético coordenado pelos notáveis escrotólogos Maurício Assuero e Luiz Berto, onde a cultura popular é explicitada sem mas-mas-mas por personalidades especializadas, belas mulheres de QI arretados e homens idem, advindos de todas as regiões brasileiras. Que declamam, contam estórias, relatam acontecidos molecais, enaltecem o seu derredor regional e ainda divulgam fatos pitorescos inesquecíveis dos nossos ontens brasileiros não oficiais, que jamais deveriam ser relegados.
Rendo minhas homenagens aos construtores da cultura popular brasileira. Ela ainda não bateu pino graças aos esforços de muitos abnegados, que efetivam suas mostras tirando dos magérrimos próprios bolsos o necessário para divulgação dos seus estudos, feitos e fatos.
Nesse resistente universo, o lugar do folclorista pernambucano Mário Souto Maior, já na eternidade, está no primeiríssimo escalão. Os seus livros Nomes Próprios Pouco Comuns, Dicionário do Palavrão e Dicionário Folclórico da Cachaça, subsidiam centenas de estudiosos, que necessitam de trilhas seguras e honestas, distanciadas dos embusteiros macunaímicos e vivaldinos.
Integrando a trilogia acima, o Souto Maior, certa feira, fez entrega à sociedade, de um guia pra lá de arretado de ótimo: Geografia Popular do Pau Através da Língua Portuguesa. Trezentas e cinquenta expressões analisadas, sem resvalar para o chulo e o grotesco. Sem obscenizar seu meticuloso ensaio, ele demonstra como o pau contribuiu para as manifestações do nosso brasileiríssimo dia-a-dia, ainda não de todo tragado pelos importados modismos primeiromundistas colonizadores.
Imaginei logo uma pessoa distanciada das raizes da nossa gente entender o significado da frase “no largo da feira de Casa Amarela encontrei o Dr. Fulano a-meio-pau, caindo pelas tabelas”. Ou outra, querelosa com os atuais anos de bunda esfregada nos bancos da póspósgraduação, ao não entender o pensar de um companheiro de universidade: “o deputado fulano de tal está sujo-que-nem-pau-de-galinheiro na CPI do orçamento”.
Outro dia, uma faxineira declarava para uma madame perua que era pau-pra-toda-obra, indo logo por-cima-de-paus-e-pedras quando algum afoito desejava por-os-pauzinhos-ao-sol. E o marido da soçaite quase cai em desespero, ao ouvir da auxiliar, alto e bom som, que estava de olho grande num pauzão e que por conta disso já estava ajeitando o pauzinho-do-matrimônio. E que o casório aconteceria rapidamente, pois gostava mesmo era de pau-na-égua. Pedia apenas ao dono da casa, autoridade de primeira entrância, que fosse na sua vara bulir-com-os-pauzinhos, pois, mais que ninguém, o patrão era habituado a conhecer-o-pau-pela-raiz .
Para não fazer-casa-com-pau-bichado, li muitas vezes, de cabo a rabo, o imperdível livro do Mário Souto Maior. Também não desejando ser pau-de-amarrar-égua, nem tolerando os que adoram viver-à-sombra-do-pau, fiz questão de ganhar-os-paus para me deliciar com a leitura da pesquisa do Mário, meu ex-companheiro da Fundação Joaquim Nabuco, pai do Jan, esse arretado da informática, consultor de tudo que é gente, inclusive burra que nem eu, um metido, vez por outra, a descobrir-o-mel-de-pau na minha área de trabalho.
Tomei ciência que souto, em Portugal, é bosque espesso. E o Mário Souto Maior, folclorista popular de primeira linha, nunca desejou mudar-de-pau-pra-cacete, ficando sempre no bosque dele, convencido que nem-todo-pau-dá-esteio.
Não desejando deitar-os-pauzinhos-fora, este texto é uma demonstração de querer bem a um intelectual que jamais quis ser um dois-de-paus, em tempo algum desejando disputar-pau-a-pau com quem quer que fosse.
Um autêntico sábio nordestino, o Mário Souto Maior. Agrestino, jamais negou que se um-dia-é-do-pau-o-outro-é-do-machado. Ele certamente faria um sucesso arretado todas as quintas-feiras no Bordel do Berto gerenciado pelo Assuero.