A casa é deveras malassombrada.
e os fantasmas, a passos lentos, passeiam no alpendre
onde descansam guarda-chuvas que guardaram apenas sol,
pois chuva não lhes foi oferecida.
Minha cachaça aguarda,
ao lado de uma dupla de cajás, a hora certa de ser entornada
antes que o sol se ponha.
Frutas podres, mas ainda dependuradas
em suas mães-árvores outrora frondosas,
avistam de cima a bosta de bichos vadios,
sem asas, que tentam, mas não sabem voar.
O que era Hospital, quase no começo da serra íngreme,
é um quase Hospital que cai a cada dia um pouco,
e em sua torre não mais se vê telhas. Apenas o lugar delas.
Quem é dali sabe do que falo
Um bicho magro, bode a fugir da faca, se junta à sua cabra querida,
se escondem num chiqueiro improvisado
e fazem amor à luz da lua,
que chegou de mansinho, sem fazer alarde.
A arca de Noé espera paciente a chegada de todos os bichos.
No alto da Serra do Araripe, bem longe do mar,
o casal de bodes se atrasará, por um justo motivo.
Rogo paciência a Noé.