Ave da família dos corvídeos, o corvo é caracterizado pela sua plumagem preta e é encontrado em quase todos os continentes. Popularmente, o corvo é interpretado como o sinal místico de mau presságio, do agouro e do azar.
No entanto, também pode simbolizar algumas características positivas, como a sabedoria, a astúcia e a fertilidade, na literatura e demais artes, principalmente como tema central de histórias fantásticas e de terror.
O escritor estadunidense Edgar Allan Poe se imortalizou através do poema se sua autoria, O Corvo, (The Raven, no original em inglês), e se popularizou como um dos autores mais icônicos do romantismo sombrio.
Os corvos tem as seguintes peculiaridades, que os tornam animais misteriosos e macabros:
São necrófagos (comem cadáveres); imitam o tom de voz de alguns animais incluindo os humanos; são predominantemente pretos, a cor atribuída tradicionalmente às trevas e ao que é obscuro e maligno.
Apesar da conotação negativa atribuída ao corvo na maioria das culturas ocidentais, diversas mitologias antigas tinham esta ave como um símbolo de proteção, regeneração e de mensageiro de boas energias.
Devido ao seu tamanho, sociabilidade e suas habilidades defensivas, o corvo comum tem poucos predadores naturais. Predadores de seus ovos incluem corujas, martas e outros corvos.
Pois bem.- Contam os alfarrábios milenares, através de uma fábula, que, em uma determinada época, os homens, cansados das agruras da guerra e dos horrores da caserna, resolveram fazer um pacto de paz.
Não haveria mais guerras, e eles passariam a viver o reino da paz, com a política da boa vizinhança. Haveria controle sobre as ambições humanas, e todos seriam felizes.
A ideia mereceu os mais fortes aplausos do Olimpo e de todos os lugares.
Mas, como tudo na vida tem um “mas”, surgiu um protesto violento, e uma dissidência inesperada, naquela frente única de civismo e humanidade.
Os responsáveis pelo protesto eram os corvos, que ficaram indignados, ao saberem desse absurdo pacto de paz entre os humanos.
Houve inúmeros discursos de protesto, pois os corvos eram excelentes parlamentares. Fizeram narrativas, sustentando que o sentimento da guerra era inato ao homem, e que
ninguém mais do que eles, os corvos, entendiam desse assunto. Somente eles conheciam a delícia da guerra, coisa que fazia parte da natureza humana.
Gritavam indignados, que a paz levaria o homem à ociosidade, mãe de todos os vícios.
Diziam os corvos em seus discursos acirrados, que as vicissitudes das guerras fazem o homem forte, corajoso, apto para o trabalho e para a luta. Sem as guerras, o homem não poderia defender a Pátria ultrajada, nem poderia vingar a honra nacional conspurcada pelos inimigos. Deixaria de existir o mais belo sentimento do homem: o Amor à Pátria.
Esses eram os argumentos dos corvos, para defender as guerras.
E as narrativas dos corvos venceram. As guerras continuaram campeando.
O patriotismo dos corvos, entretanto, estava intrinsecamente ligado ao estômago. Quanto mais guerras, mais compensações eles teriam. Com as guerras, a cadeia alimentar dos corvos estaria garantida.
Os corvos fizeram a defesa das guerras, não por sentimento de patriotismo, mas por amor ao estômago, se é que corvo tem estômago.
Para os corvos, o tempo da guerra é o tempo das vacas gordas: é quando eles tem muito com que encher o papo.
Os cadáveres dos soldados insepultos oferecem aos corvos ricos banquetes.
Nos dias atuais, não falta quem, como os corvos, aferre-se com unhas e dentes, na defesa de uma ideia, falando em nome do patriotismo, da civilização e do civismo, quando,
na realidade, as causas que movem esse ardor quixotesco são interesses secundários: a maldita fome do “ouro” e a insaciável ambição das riquezas, que leva, muitas vezes o ser humano a cometer crimes.
Estamos vivendo a era dos corvos, e do seu verdadeiro “patriotismo”.