Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Arthur Azevedo quinta, 17 de março de 2022

OS COMPADRES (CONTO DO MARANHENSE ARTHUR AZEVEDO)

OS COMPADRES

Arthur Azevedo

 

 

 

Um dia o Simeão, que não vinha ao Rio de Janeiro havia dezoito anos, abalou-se de Macaé, e o seu primeiro cuidado, ao chegar ao Pharoux, foi procurar o irmão, o José, de quem não tinha novas nem mandados.

Não lhe foi difícil encontrá-lo numa estalagem do morro do Castelo, onde vivia em companhia da mulher, que acumulava as funções de cozinheira, lavadeira e engomadeira, e de um filho de seis anos, travesso como um demônio.

O Simeão ficou muito aborrecido quando o irmão lhe confessou que não tinha ofício nem benefício, e vivia de expedientes.

- Não tens de que te aborrecer, Símeão: podia ser pior! O grande caso é que nesta choupana almoça-se, janta-se e há mesmo épocas em que se ceia! £ preciso que saibas uma coisa: não ganho vintém que não seja honestamente ganhado. Meto por aí, furo daqui, furo dacolá, e arranjo sempre alguma coisa com que aguentar a vida! Que horas tens no teu relógio?

- Três e um quarto.

- As cinco devo estar em casa do Dr. Paiva, que me mandou chamar. Para quê? Não sei; mas com certeza é para me dar alguma coisa a ganhar. Sei que ele está para amarrar-se com a filha de um negociante da Rua de São Pedro; é, talvez, para alguma comissão relativa ao casamento.

Às 4 horas o José saiu de casa, em companhia do irmão. Desceram o morro e subiram a Rua de São José.

Em caminho encontraram-se com um sujeito gordo, que, ao passar pelo José, gritou:

- Adeus, compadre!

- Quem é? - perguntou Simeão.

- O Rodrigues, uma das primeiras fortunas do Rio de Janeiro.

- É teu compadre?

- É.

Chegaram à avenida, e cruzaram-se com um coronel do Exército, a quem o José saudou com estes termos:

- Boa tarde, Sr. Compadre.

- Boa tarde.

- Também é seu compadre? - perguntou o irmão.

- Também; eu tenho muitos compadres, e são todos homens de posição e fortuna!

- Tens muitos compadres? Quantos?

- Oito.

- Ora essa!

- De que te admiras?

- Eles convidaram-te para padrinhos dos filhos?

- Não; fui eu que os convidei para padrinhos do meu.

- Que diabo de trapalhada é esta? Tu só tens um filho; como podes ter oito compadres?

- A ti o digo porque és meu irmão: meu filho foi batizado oito vezes!

- Oh! sacrilégio!.

- Sacrilégio por quê?... Ele é oito vezes cristão!.

- Mas que ideia a tua!

- Pois então! Eu já não te disse que vivo de expedientes?

 


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