Brônquios de um peixe semelhante à baleia
Certa feira, na década de 70, fizemos uma visita a João Pessoa, onde fomos ver a suposta “pesca da baleia”, a pedido de amigos do Rio de Janeiro.
Era inverdade o que diziam algumas agências de turismo. Não deveriam promover a Paraíba daquela maneira, pois, o que se veria não era a pesca propriamente dita, mas a chegada dos animais abatidos e sua industrialização, o que se tornou para mim um espetáculo, tenebroso.
O que se chamava “caça às baleias” era a visão de uma atividade industrial desenvolvida no distrito de Costinha, proximidades de João Pessoa.
O auge da industrialização aconteceu quando a Copesbra – Cia. de Pesca Norte do Brasil, fábrica de capital japonês, estabeleceu uma base naquele distrito, em 1958, que na verdade era uma subsidiária da Nippon Reizo KK, onde só se via japonês trabalhando.
Segundo registros oficiais a Copesbra havia pescado 793 baleias até 1974. O óleo e a carne eram exportados para o Japão.
Depois de um giro na acolhedora capital da Paraíba, fomos à praia de Costinha, para ver a chegada das baleias capturadas. Esperamos até o começo da madrugada quando o primeiro dos dois navios chegou.
Lá já estavam vários grupos de turistas. Participei de um espetáculo que jamais desejei ver novamente. Os animais serviam como partícipes de um espetáculo de horrores.
Era madrugada quando um pequeno navio pesqueiro japonês aportou, trazendo penduradas pelos lados de fora da embarcação, quatro baleias. Começa o desembarque, iniciando-se em amplo pátio próximo ao cais, o drama. Homens e máquinas começam a processar a industrialização, cortando o animal em pedaços.
Eu e as outras pessoas que me acompanharam jamais havíamos visto de perto um daqueles animais, e por isso a grande curiosidade. Sabíamos que as baleias não eram animais agressivos e isto aumentou a angústia das pessoas que estavam comigo.
Um guindaste retira do navio a primeira baleia, que é jogada em cima de um grande tablado de piso metálico, onde a serra elétrica cortava a parte da cabeça, enquanto outros operários especializados – todos japoneses – vão conduzindo mangueiras d’água de grande potência, que afastavam o sangue.
Dentro de 30 minutos só havia pedaços, que eram colocados em caixotes de plásticos que depois seguiriam para o porto em caminhões frigoríficos, com destino aos mercados do exterior.
Saímos logo que vimos o primeiro sacrifício. Todos os turistas estavam tristes. Na rua, numa loja comercial, ao lado havia uma vasta quantidade de material que os visitantes compravam para servir como peças de enfeite.
Fascinado, comprei uma guelra de baleia, fim de decorar a parede de nossa sala.
O vendedor transformava as guelras que eram postas à venda, prendendo-as com um grampo, de forma que ela tomava um jeito arredondado e encantador.
Mantive o adorno em casa por algum tempo, mas depois me livrei dele, porque todas as vezes que o apreciava me lembrava do sofrimento das baleias.