Zeferino Vaz nasceu em São Paulo, em 27/5/1908. Médico, professor e fundador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e reitor da Universidade de Brasília (UnB). Os primeiros estudos se deram no Liceu Coração de Jesus. Poderia ter sido um grande ator, pois atuou no teatro do colégio, ao lado de Rodolfo Mayer, em várias peças e também no cinema. Perdemos um ator e ganhamos um reitor. Uma troca da qual não podemos reclamar.
Em 1926 ingressou na Faculdade de Medicina de São Paulo e, logo, tornou-se monitor da cadeira de parasitologia. Em seguida foi estagiário no Instituto Biológico de São Paulo, onde foi nomeado assistente, em 1930, e fundou, junto com Clemente Pereira, a seção de parasitologia animal. Formou-se médico em 1931 e foi assistente do professor André Dreyfuss na cadeira de histologia e embriologia da recém fundada Escola Paulista de Medicina, atual UNIFESP-Universidade Federal de São Paulo. Em 1932 participou ativamente da Revolução Constitucionalista, deflagrada em São Paulo. Aprofundou os estudos em sua especialidade e pouco depois foi lecionar Zoologia e Parasitologia na Escola de Medicina Veterinária da USP, onde foi diretor entre 1936-1947 e 1951-1964.
Em 1947 coordenou a Comissão criada para implantar uma faculdade de medicina no interior de São Paulo. Quatro anos após organizar o currículo e planejar a instalação numa antiga fazenda de café, foi criada a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. No discurso de posse como diretor, em 1951, deixou claro suas intenções: “Minha gente, vim criar uma Faculdade de Medicina. Mas não vim criar uma Faculdade de Medicina qualquer. Vou fazer daqui o melhor Centro de Educação Médica e de pesquisas científicas, no campo da medicina, do Hemisfério Sul”. Hoje a FMRP é o maior centro de formação de médicos em nível de pós-graduação do País. Em 1963, foi secretário estadual de Saúde Pública. De 1964 a 1965 foi o primeiro presidente do Conselho de Educação do Estado de São Paulo.
Logo após o Golpe Militar de 1964, foi nomeado reitor da Universidade de Brasília-UnB em substituição a Anísio Teixeira, cassado pelos militares. Fez o que pode para manter a estrutura inovadora da UnB, realizando inclusive gestões bem-sucedidas para libertar os professores que haviam sido presos durante a invasão do campus universitário por tropas da Polícia Militar e do Exército, em 9/4/1964. Apesar das limitações de verbas e das demissões de 13 professores e instrutores, o trabalho de implantação da UnB prosseguiu, segundo ele mesmo, com o intuito de “salvar a universidade da destruição”. Nessa lida, chegou a impedir o afastamento de indivíduos de alta qualificação, como Oscar Niemeyer e Almir Azevedo, acusados de subversão. Em certa ocasião foi chamado de “o reitor de direita que protegia as esquerdas”. Em 1965 pediu demissão do cargo devido ao impasse gerado pela contratação do professor Ernâni Maria Fiori, pensador católico gaúcho demitido da Universidade de Porto Alegre e aposentado com base no Ato Institucional nº 1 (9/4/1964). Foi substituído na reitoria da UnB por Laerte Ramos de Carvalho, mas continuou integrando o Conselho Diretor da Fundação Universidade de Brasília.
Em seguida, retornou a São Paulo com a missão de fundar a primeira universidade no interior do estado, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Nomeado reitor em 1966, lutou para reunir alguns dos melhores cientistas brasileiros para formar uma instituição de pesquisa sólida e respeitada, tornando a Unicamp uma das mais produtivas e respeitadas instituições de pesquisa da América. Sua filosofia de trabalho era simples até no modo de se expressar: “para funcionar uma universidade precisava primeiro de homens, segundo de homens, terceiro de homens, depois bibliotecas, depois equipamento e, finalmente, edifícios”. Assim, preocupou-se primeiramente com a contratação de pessoas capazes intelectualmente e com experiência pedagógica. Convidou cientistas e brasileiros que atuavam nos EUA e na Europa, e trouxe também professores estrangeiros.
Em 1979 a Unicamp já contava com um quadro de expressivos cientistas e pesquisadores de nível internacional: César Lattes, Gleb Wataghin, Vital Brasil, Rogério Cerqueira Leite, Giuseppe Cilento, André Tosello entre outros. No movimento de reivindicação das liberdades democráticas, mostrou-se favorável ao ressurgimento do movimento estudantil, lutou pela autonomia universitária e buscou a integração entre a universidade e a comunidade local. Manifestou-se favorável à reintegração dos professores e cientistas aposentados pelo Ato Institucional nº 5, sugerindo a imediata revisão de seus casos. Porém, com o acirramento dos movimentos políticos, foi contra a reivindicação do movimento estudantil de retorno à legalidade da UNE-União Nacional dos Estudantes, afirmando que a entidade teria sua atuação desviada para questões alheias aos interesses universitários.
Ocupou diversos cargos públicos e civis, tais como membro do Conselho Federal de Educação, Conselho Curador da Fundação SEADE, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Academia de Letras de Ribeirão Preto, Associação Paulista de Medicina, Associação Médica Brasileira, Sociedade de Biologia de São Paulo e da American Society of Parasitologists. Foi também assessor para assuntos de educação e saúde do Grupo de Assessoria e Participação (GAP) do governo de São Paulo. Na vida acadêmica participou de vários congressos científicos, destacando-se como convidado da IV Conferência Internacional de Educação em Washington.
Além do seu legado como empreendedor de sólidas instituições, deixou publicado 65 trabalhos de investigação científica no campo da parasitologia (helmintologia) em revistas americanas, inglesas, francesas e brasileiras. Em 1978 deu-se por encerrada a implantação da Unicamp e a administração pro tempore de seu fundador e reitor, que se aposentou compulsoriamente aos 70 anos e passou a presidir a Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp). Em 1980 a saúde deu sinais de alerta e foi vitimado por um aneurisma de aorta, vindo a falecer em 9/2/1981. Entre as tantas homenagens que amealhou, seu nome foi dado ao Campus da Unicamp e ao trecho da Rodovia SP-332. A Unicamp concede, anualmente, o “Prêmio de Reconhecimento Zeferino Vaz” a docentes ativos que atuam em regime de dedicação exclusiva e que tenham se destacado nas suas funções de docência e pesquisa.