José Inácio Ribeiro de Abreu e Lima, mais conhecido como Padre Roma, nasceu no Recife, PE, em 1768. Advogado, religioso e um dos líderes da Revolução Pernambucana de 1817. Demonstrou vocação religiosa aos 16 anos e entrou para o Convento do Carmo, em Goiana. Em seguida foi para Portugal e fez o curso de Teologia na Universidade de Coimbra. Depois partiu para Roma, onde concluiu os estudos religiosos e ordenou-se padre. Mais tarde a vocação religiosa foi colocada em dúvida; pediu dispensa da Ordem Carmelita, em 1807. No Recife; casou-se; abriu uma banca de advocacia e passou a conspirar contra o domínio português e lutar pela independência do Brasil.
Era um homem culto com conhecimentos de grego e latim e por ter vivido em Roma recebeu este apelido. Possuía o dom da oratória e era dotado de sólidos conhecimentos jurídicos. Assim, ficou famoso no Recife, particularmente por defender causas populares e adesão às ideias liberais em voga na época. Com a vinda de Dom João VI, em 1808, foram criados muitos impostos para manter a família imperial, e o Brasil passou por profundas mudanças com uma opressiva administração da colônia. Ao mesmo tempo, ideais nativistas e anticolonialistas eram defendidos pela maçonaria e propagados em centros como o Areópago de Itambé e o Seminário de Olinda. Dessa forma, os interesses de alguns militares, dos padres e maçons uniram-se num mesmo ideal de emancipação política do Brasil.
Estes grupos passaram a conspirar abertamente contra o poder imperial e as ordens vindas do Rio de Janeiro. Os padres tinham um papel relevante na conspiração, incitando os fiéis à causa libertária do jugo português. Os preparativos para a revolta popular foram se acumulando até 6/3/1817, quando o governador da província – Caetano Pinto de Miranda Montenegro – mandou prender os revoltosos implicados na conspiração. O primeiro a receber ordem de prisão foi o capitão José de Barros Lima, apelidado de “Leão Coroado”, que atravessou com uma espada o oficial português encarregado de prendê-lo. A revolta alastrou-se rapidamente e tomou as ruas do Recife. Em seguida os revoltosos elegeram o Governo Provisório, composto por 5 membros representantes do exército, clero, comércio, agricultura e magistratura.
A revolta logo teve a adesão do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Padre Roma, devido a sua eloquência e poder de convencimento, foi designado para ir clandestinamente até a Bahia para obter adesão ao movimento. Levou mais de 50 correspondências endereçadas a membros da maçonaria baiana e outros simpatizantes. Depois de velejar numa jangada pela costa de Alagoas até a praia de Itapuã, em Salvador, avistou as tropas portuguesas que o aguardava. Jogou todos os papéis no mar, para não incriminar os aliados baianos, e foi preso. Junto com ele, vinha seu filho mais novo, Luís Ignácio. O mais velho, com o mesmo nome do pai e futuro General Abreu e Lima, já estava preso em Salvador.
Foi preso em 26/6/1817 e nos três dias em que foi torturado não entregou os companheiros que contataria em Salvador. A tortura incluía a visita ao cárcere do filho mais jovem nu e estendido sobre a lama, mais parecendo um espectro do que ser vivente. O filho mais velho – Abreu e Lima – que já estava preso há mais tempo, manifestou o desejo de ver o pai antes do fuzilamento. Seus algozes portugueses atenderam o pedido. Foi obrigado a assistir o fuzilamento do pai, por ordem do Conde dos Arcos, em 29/6/1817. Ele já foi incluído neste Memorial e pode ser visto clicando aqui.
Segundo o historiador Pereira da Costa, autor do Dicionário Biográfico de Pernambucanos Célebres, a morte do Padre Roma foi assim descrita pelo filho Abreu e Lima, presente na execução: “O seu porte em presença do conselho, no oratório e durante o trajeto para o lugar do suplício, foi sempre o de um filósofo cristão, corajoso, senhor de si, mas tranquilo e designado. Suas faces não se desbotaram senão quando o sangue que as tingia correu de suas feridas, regando o solo onde, cinco anos depois, se firmou para sempre a independência de sua pátria”. Conta ainda a história que em seus últimos instantes, ele dispensou a venda nos olhos, encarou o pelotão de fuzilamento, pôs a mão sobre o coração e gritou: “Camaradas eu vos perdôo a minha morte. Lembrai-vos que aqui é a fonte da vida!”.
Procurei na Internet alguma biografia do Padre Roma e não encontrei. Achei apenas alguns curtos verbetes, mas ele é um nome conhecido em muitas cidades do País com seu nome dado a diversos logradouros. Aqui mesmo, em São Paulo, no bairro da Lapa temos uma importante rua chamada Padre Roma. Porém, acho que muitas pessoas não sabem a quem se refere aquele nome. Já perguntei a alguns moradores e tive mais de uma resposta dizendo a mesma coisa: “Não sei, mas deve ser ao Papa, né? O padre de Roma.”
Clique aqui e assisto ao vídeo Lula, padre Roma e a luta pela liberdade e a soberania