OS BRASILEIROS: Oswald de Andrade
José Domingos Brito
José Oswald de Sousa de Andrade nasceu em São Paulo, SP, em 11/1/1890. Poeta, escritor, advogado, jornalista e dramaturgo. Destacado integrante do modernismo literário brasileiro, é considerado -junto com Mário de Andrade- um dos “dínamos” da Semana de Arte Moderna de 1922. Era conhecido pelo estilo e temperamento irreverente, combativo e inovador. Suas ideias vieram a influenciar o Movimento Tropicalista em meados da década de 1970.
Filho de Inês Henriqueta Inglês de Souza de Andrade (irmã do escritor Inglês de Souza) e José Oswald Nogueira de Andrade, tradicional família paulista. Teve os primeiros estudos no Ginásio Caetano de Campos e iniciou no jornalismo em 1909, como colunista da seção “Teatros e Salões”, do Diário Popular. No mesmo ano ingressou na Faculdade de Direito, interropendo o curso diversas vezes. Em seguida, foi conhecer o Rio de Janeiro, onde ficou hospedado na casa do famoso tio escritor. Em 1911, com ajuda financeira da mãe, fundou o irreverente semanário O Pirralho, contando com a colaboração de Amadeu Amaral, Cornélio Pires e Alexandre Marcondes entre outros. Mais tarde, Di Cavalcanti veio a ilustrar as capas e conteúdo da revista.
Passou uma temporada de 7 meses na Europa em contato com artistas e escritores envoltos no “Movimento Modernista”, em 1912. A morte de sua mãe, apressou a volta, trazendo a tiracolo a estudante francesa Kamiá (Henriette Denise Boufflers), com a qual tem seu primeiro filho (Nonê), e reassume seu posto na redação d’O Pirralho. No ano seguinte, passa a frequentar reuniões de artistas e intelectuais na Vila Kirial e conhece o artista plástico Lasar Segall. Seu primeiro trabalho publicado se dá em 1913 com a peça A recusa, um drama em três atos. Em 1914 ingressa na Faculdade de Filosofia de São Bento e no ano seguinte torna-se membro da Sociedade Brasileira dos Homens de Letras, fundada em São Paulo por Olavo Bilac. Em 1917 namorou a jornalista Maria de Lourdes Olzani, e através dela conheceu Mário de Andrade. Conheceu também a pintora Anita Malfatti e, junto com Mário, defende a pintora das críticas acirradas feitas por Monteiro Lobato. Por esta época começa a se esboçar o grupo que viria a realizar a Semana de Arte Moderna. Em 1920 edita a revista Papel e Tinta e passa a colaborar no jornal Correio Paulistano.
Publicou o romance Os condenados em 1922 e inicia namoro com a pintora Tarsila do Amaral, seu relacionamento mais prolongado, que durou até 1929. Em novas viagens pela Europa, amplia o percurso pelo Oriente Médio e África. Em Paris participa de encontros com a intelectualidade francesa; dá palestra na Sorbonne e mantém amizade com o poeta Blaise Cendrars. De volta ao Brasil, publicou no Correio da Manhã o "Manifesto da Poesia Pau Brasil", em 18/03/1924, no mesmo ano em que foi divulgado o “Manifesto Surrealista” de André Breton. Como se vê, o Brasil seguia os passos do movimento artístico das vanguardas mundiais. Neste ano integrou a "Caravana Modernista", com Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Olívia Penteado, Blaise Cendrars, Goffredo Telles e René Thiollier, ao carnaval do Rio emendando até Belo Horizonte. Aí foram recebidos por Carlos Drummond de Andrade, Aníbal Machado e Pedro Nava e excursionam pelas cidades históricas. Em 1925 publicou Memórias sentimentais de João Miramar, viaja de novo pela Europa com Tarsila, monta apartamento em Paris, passa a frequentar a casa de campo de Blaise Cendrars e publica na França o livro de poemas Pau Brasil.
Em 1928 divulgou o “Manifesto Antropófago” na Revista de Antropofagia, criada junto com os amigos Raul Bopp e Antônio de Alcântara Machado. A ideia do Movimento Antropofágico era assimilar, deglutir outras culturas, mas não copiar. Na crise econômica mundial de 1929, deu-se uma crise também no seu casamento e no relacionamento com o amigo Mário de Andrade. Seu novo amor agora é uma jovem de 20 anos: Pagu, com quem se casou em 1930. O “casamento” se deu no Cemitério da Consolação, causando certo alvoroço na imprensa. No mês seguinte, a união foi oficializada na igreja e no cartório, com Pagu já grávida do filho, que foi batizado com o nome Rudá Poronominare Galvão de Andrade. O primeiro nome significa o deus do amor e o segundo o nome indígena para um ser malicioso. Com Pagu, uma moça politizada e ligada ao teatro, ele aproxima-se da política, torna-se militante do Partido Comunista e fundam o jornal O Homem do Povo, que durou até 1945.
Em 1933 publicou o romance Serafim Ponte Grande e patrocinou a publicação do livro Parque industrial, romance de Pagu. No ano seguinte, deixa Pagu e une-se à pianista Pilar Ferrer. Publica A Escada Vermelha, terceiro romance d'A trilogia do exílio, e O homem e o cavalo. Quando Lévi-Strauss esteve em São Paulo, em 1935, foi seu cicerone e acompanhou-o numa excursão até Foz do Iguaçu. Passa a escrever sátira política para a revista A Platéia; integra o movimento artístico cultural “Quarteirão” e a tocar sua vida boêmia. Em dezembro de 1936, aos 46 anos é hora de casar-se mais uma vez, agora com a escritora Julieta Bárbara Guerrini, tendo como padrinhos o jornalista Casper Líbero e o pintor Portinari. Seu estilo de vida boêmia era conhecido de todos, tanto como casamenteiro em grande estilo.
Passa a residir no Rio de Janeiro e em São Paulo simultaneamente. Sua atuação política se dá com artigos publicados na revista Problemas. Na área da dramaturgia, sua peça mais conhecida é O rei da vela, publicada em 1937 e representada apenas em 1967 pelo Grupo Oficina, com direção de José Celso Martinez Corrêa. Em 1943 começou a publicar a coluna "Feira das Sextas" no Diário de São Paulo e casa-se com Maria Antonieta d'Alkmin. No ano seguinte reúne no volume Ponta de Lança artigos esparsos publicados na imprensa. Pouco depois ciceroneou Pablo Neruda em visita ao Brasil e iniciou a organização da Ala Progressista Brasileira, reunindo alguns políticos num programa de conciliação nacional. Em seguida lançou um “Manifesto ao Povo de São Paulo” e rompeu com o Partido Comunista em 1945. No final da década publicou na revista Anhembi o ensaio O modernismo e manteve contato com um outro modernista. Recepcionou o escritor Albert Camus e realizaram uma excursão à Iguape, em 1949, para assistir às tradicionais festas do Divino. Como bom anfitrião, foi encarregado de receber o escritor francês de passagem por São Paulo para fazer conferências.
Em fins da década de 1940 e início de 1950, dedicou-se mais ao jornalismo e manteve a coluna “3 linhas e 4 verdades” na Folha de São Paulo e a série “A Marcha das Utopias” n’O Estado de São Paulo. Em 1954, a saúde sofre uns abalos e passa a escrever o primeiro volume de sua autobiografia: Memórias: Um homem sem profissão, publicado pela José Olympio Editora. Por esta época o escritor Marcos Rey foi encontrá-lo para tratar da edição de um livro de depoimentos e entrevista, que não chegou a ser concluído. Via-se que não ia bem de saúde e veio a falecer pouco depois, em 22/10/1954. Veja sua última entrevista no link Oswald de Andrade (tirodeletra.com.br). Sua trajetória ficou registrada no trabalho de Maria Augusta Fonseca -Oswald de Andrade–Biografia-, publicado em 1985. Um trabalho que segundo ela: "o resgate da vida do artista não leva apenas às suas agruras pessoais, mas recobre uma parte substantiva da tumultuada história do país, que vai de fins do século XIX à primeira metade do século XX".