OS BRASILEIROS: Oliveira Lima
José Domingos Brito
Manuel de Oliveira Lima nasceu em 25/12/1867, em Recife, PE. Escritor, jornalista, crítico literário, professor, diplomata e destacado pesquisador da historia do Brasil. Antecipou temas como o feminismo, declarando: “quando as mulheres dispuserem algum dia da maioria parlamentar e do governo, a organização política será muito mais dotada de justiça social… e a legislação poderá, então, merecer a designação humana”.
Filho Maria Benedita de Oliveira Lima e Luís de Oliveira Lima, teve os primeiros estudos em Lisboa. Lá, aos 14 anos atuou como jornalista no Correio do Brazil, jornal fundado por ele mesmo. Realizou o curso de Humanidades no Colégio Lazarista e diplomou-se pela Faculdade de Letras de Lisboa, em 1887, dedicando-se aos estudos da história do Brasil. Entrou no serviço diplomático brasileiro em 1890, em Lisboa, e pouco depois foi transferido para Berlim e em seguida para Washington (1896) Por essa época publicou seus três primeiros livros: Sete anos de República (1895), Pernambuco: seu desenvolvimento histórico (1896) e Aspectos da literatura colonial brasileira (1896).
Mais tarde foi designado para Londres, onde conviveu com Joaquim Nabuco, Graça Arranha e Eduardo Prado. Integrou a primeira missão diplomática brasileira no Japão em princípios do séc. XX e atuou na Venezuela, em 1904, cuja nomeação desagradou-lhe bastante. A partir de 1907 passou a chefiar a legação do Brasil em Bruxelas, cumulativamente com a da Suécia. Em 1913 esteve perto de voltar à Londres como chefe da legação, mas foi vetado pela interferência do senador Pinheiro Machado. Além disso, era mal-viso pelo governo britânico por defender a neutralidade do Brasil na 1ª Guerra Mundial e por sua afininidade intelectual com a Alemanha.
Em 1897 ingressou na ABL-Academia Brasileira de Letras na condição de membro-fundador. Leitor voraz, possuía o terceiro maior acervo de livros sobre o Brasil. Sua biblioteca, com 58 mil livros, foi doada à Universidade Católica da América, em Washington, EUA, em 1916, com a condição que ele fosse o primeiro bibliotecário e organizador do acervo. Em 1920 mudou-se para os EUA, onde passou a lecionar Direito Internacional, em 1924, na universidade que recebeu sua biblioteca. Neste mesmo ano foi designado professor honorário da Faculdade de Direito do Recife.
Entre os livros publicados destacam-se alguns importantes para a historiografia brasileira, História diplomática do Brasil: o reconhecimento do Império (1901), A Língua portuguesa, A Literatura brasileira (1909), Secretário Del-Rei (teatro) e Dom João VI no Brasil (1909), considerado um clássico por muitos estudiosos, devido a sua importância para o rearranjo da historiografia brasileira. Alguns autores como Gilberto Freyre, Otávio Tarquínio de Sousa e Wilson Martins escreveram sobre esta obra. Nela consta fatos importantes sobre a situação internacional de Portugal em 1808, a chegada da corte no Brasil, a formação do primeiro ministério e as primeiras providências, a respeito da emancipação do Brasil.
Mais tarde, este livro deu origem a outro esmiuçando nosso processo de independência. Um grupo de historiadores publicaram, em 2021, Oliveira Lima e a longa história da independência, pela Alameda Editorial. Trata-se do registro de um evento, com o mesmo título, realizado em 10 e 11 de setembro de 2019 na Biblioteca Brasilina Guita e José Mindlin, tendo como objetivo resgatar e revalorizar a obra de Oliveira Lima numa perspectiva histórica de “longa duração”. Ao final do evento chegou-se a conclusão que ele é “o grande historiador da independência do Brasil”.
Além de suas contribuições para a História, teve forte influência no desenvolvimento da diplomacia brasileira. Tais influências foram analisadas por Maria Theresa Diniz Foster no livro Oliveira Lima e as relações exteriores do Brasil: o legado de um pioneiro e sua relevância atual para a diplomacia brasileira, publicado em 2011 pela FUNAG-Fundação Alexandre de Gusmão.
A publicação póstuma de seu livro Memórias, publicado em 1937, teve grande repercussão, devido as revelações íntimas e apreciações críticas. Após aposentar-se foi viver nos EUA, onde faleceu em 24/3/1928 e foi sepultado no cemitério Mont Olivet, Washington. Em sua lápide consta apenas a frase "Aqui jaz um amigo dos livros
Exibir vídeo sobre a biblioteca Oliveira Lima, nos EUA