Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial quarta, 05 de julho de 2023

OS BRASILEIROS: MATIAS AIRES (CRÔNICA DE JOSÉ DOMINGOS BRITO, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

OS BRASILEIROS: Matias Aires

José Domingos Brito

 


 

Matias Aires Ramos da Silva de Eça nasceu em 27/3/1705, na Capitania de São Paulo. Filósofo, escritor e tradutor, considerado o maior nome da Filosofia de Língua Portuguesa do século XVIII. Foi Cavaleiro da Ordem de Cristo, provedor da Casa da Moeda de Lisboa e autor do famoso livro Reflexões sobre a vaidade dos homens, publicado em 1752.

 

Filho de Catarina de Orta e José Ramos da Silva, provedor das expedições que encontraram ouro nas Minas Gerais.  Segundo Alceu Amoroso Lima, “a figura de José Ramos da Silva, e a sua ascensão de criado de servir a magnata máximo da fortuna paulista do século XVIII, tornou-se um dos tipos mais representativos do Brasil Colonial.” Seu filho Matias estudou no colégio jesuíta de São Paulo e aos 11 anos, a família mudou-se para Lisboa, onde o pai era amigo de D. João V e foi designado para o cargo de Provedor das Casas de Fundição. As filhas foram estudar no Convento de Odivelas e Matias ingressou no tradicional Colégio de Santo Antão. Em 1722 entrou na Faculdade de Direito de Coimbra.

 

Continuou os estudos na Galiza, obtendo os diplomas de Bacharel em Filosofia e Mestre em Artes. Em 1728 foi estudar na Sorbonne, em Paris, e obteve diplomas em Direito Civil e Canônico. Retornou a Lisboa em 1733 e passa a viver numa de suas Quintas, tornando-se notável literato e naturalista. Por essa época manteve longa amizade com Antonio José da Silva, “o Judeu”, que procurou salvá-lo da fogueira da Inquisição, sem sucesso. Com a morte do pai, em 1743, o substitui no cargo de Provedor da Casa da Moeda. Passa a residir no Solar das Janelas, atual Museu de Arte Antiga, levando uma vida suntuosa e dilapidando a herança paterna. Por esta época inicia uma disputa jurídica com a irmã Teresa Margarida (conhecida como a primeira romancista em língua portuguesa) visando obter a melhor parte da herança, sem sucesso. Em 1761 não se deu bem com as reformas do Marquês de Pombal e foi destituído do cargo de Provedor, agravando sua situação econômica. Veio a falecer em 10/10/1763 numa condição distinta daquela vida de riqueza levada até então.

 

Foi nesse contexto que escreveu, num tom pessimista, a Carta sobre a fortuna, onde declara “E assim nada espero da fortuna, nem a fortuna de mim pode esperar nada; porque o meu talento foi discursivo sempre, operativo nunca, e a fortuna quer obras e não palavras...  Tudo sei para dizer, mas para fazer só sei que não sei nada. As minhas artes são todas em pensamento e por isso são justamente desgraçadas, porque a fortuna não pode fazer milagres” A Carta foi incluída, a partir de 1778, em sua obra mais conhecida Reflexões sobre vaidade dos homens: discursos morais sobre os efeitos da vaidade, publicada em 1752.

 

Esta é sua obra mais conhecida e teve origem, segundo o estudioso Carvalho Reis, na vida faustosa levada pelo seu pai e que foi continuada pelo filho, que não obstante a deferência com que era tratado no Brasil, “agora era apenas o filho de um dos tais mineiros que o povo da corte invejava, mas não estimava”. Tais experiências terão ensinado, posteriormente, ao filho que a vaidade própria tende a ofender a vaidade alheia, dando início ao seu interesse em refletir sobre o assunto. Tais reflexões ocorreram a partir do trecho bíblico extraído do Eclesiastes: “Vanitas vanitatum et omnia vanitas” (Vaidade das vaidades, tudo é vaidade).

 

Antes dele, o Padre Antônio Vieira também refletiu sobre a vaidade, mesmo não considerando a vaidade como um pivô, tal como Matias Aires. Segundo Vieira "Os homens, como somos camaleões da vaidade, mudamos de cor a cada mudança de vento: quantos são os ventos de que nos sustentamos, tantas são as cores de que nos vestimos". Claro que esta falha moral foi criticada pelo Padre: “Portai-vos de tal maneira, sendo sempre o mesmo, que vos possam todos louvar, ao menos que vos possam conhecer”.

 

Ainda segundo Alceu de Amoroso Lima, o culto à ciência foi levado para Portugal por Matias Aires, completamente embebido de cartesianismo e influenciado pelo naturalismo científico que o século XVII legara ao século XVIII. Assim ele foi um dos grandes humanistas do século XVIII, comparado à Montaigne e La Rochefoucauld. É considerado um dos que abriram caminho aos estudos e ao cientificismo em Portugal. Trata-se de um filósofo  relativamente pouco conhecido no Brasil, talvez devido ao fato de apenas ter nascido no Brasil colonial e ter vivido em Portugal desde os 11 anos. Isto tem levado a uma discussão se ele era português ou brasileiro. Tal discussão se deve ao fato de na primeira Constituição Brasileira, de 1824, e primeira Constituição Portuguesa, de 1822, não existirem referências sobre “nacionalidade”. Assim, ele pode ser considerado paulista, brasileiro e português, i.é um polipátrida.

 

É patrono da cadeira nº 6 da Academia Brasileira de Letras e da cadeira nº 3 da Academia Paulista de Letras, onde é considerado o primeiro filósofo brasileiro. O professor Antonio Pedro Mesquita, doutor pela Universidade de Lisboa, deixou um alentado estudo sobre o filósofo: Homem, sociedade e comunidade: o pensamento de Matias Aires, publicado em 1998 pela Imprensa Nacional, em Lisboa.


Matias Aires | "Reflexões Sobre A Vaidade Dos Homens"

 

 

 


Escreva seu comentário

Busca


Leitores on-line

Carregando

Arquivos


Colunistas e assuntos


Parceiros