OS BRASILEIROS: Mario Juruna
José Domingos Brito
Mário Juruna, batizado Mário Dzuruna Butsé, nasceu na aldeia Xavante Namakura, próximo a Barra do Garças, MT, em 3/9/1943. Líder indígena e político ligado ao PDT-Partido Democrático Trabalhista. Foi primeiro deputado federal indígena do Brasil.
Filho de Isaías Butsé, chefe da aldeia Namakura, o principal cacique do povo Xavante. Seu primeiro contato com os brancos se deu aos 17 anos, quando sucedeu o pai na liderança da aldeia. Pouco depois passou a viajar pelo Brasil e na década de 1970 passou a frequentar a sede da FUNAI, em Brasília, em busca da demarcação das terras indígenas e fazer denúncias contra o Estatuto do Índio.
Tal Estatuto, nos artigos 2, 17 e 22, permitia que os povos indígenas pudessem ser removidos de suas terras, de maneira permanente ou temporária, com as seguintes condições: por imposição da segurança nacional; para a realização de obras públicas que interessem ao desenvolvimento nacional; para a exploração de riquezas do subsolo de relevante interesse para a segurança e o desenvolvimento nacional. Sua atuação e visibilidade na imprensa denunciando a precária situação dos índios fizeram com que tomasse a decisão de adotar um posicionamento mais firme e efetivo em sua luta.
Assim, em 1982 telefonou para Leonel Brizola, dirigente do PDT-Partido Democrático Trabalhista, manifestando interesse em se candidatar a deputado federal. No ano seguinte foi eleito com 31 mil votos. Uma de suas primeiras iniciativas na Câmara dos Deputados foi a criação da Comissão Permanente do Índio no Congresso Nacional, em março de 1983, que dá início a atual Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial. A partir daí, amplifica sua atuação junto as comunidades e instituições de proteção aos povos indígenas.
Em 1980 foi convidado, junto com Darcy Ribeiro, a participar do Tribunal Bertrand Russel, na Holanda, onde denunciou os abusos que os indígenas do Brasil estavam sofrendo com a ocupação de suas terras pelos brancos e os assassinatos cometidos contra os índios. Ficou conhecido como um deputado combativo, tendo sempre um gravador portátil para registrar as conversas com políticos e autoridades, para cobrar depois o que era prometido. Não confiava nas promessas ou afirmações dos políticos. Em 1982 foi publicado o livro O Gravador do Juruna, organizado por Antônio Hofeld e Assis Hofman, publicado pela editora Mercado Aberto.
No prefácio, Darcy Ribeiro traça um breve perfil de Juruna: “Como e por que este líder de uma aldeia indígena com menos de 100 pessoas se impõe, assim, a todos nós? Metade da resposta se encontra certamente na forte personalidade de Mário Juruna que faz sentir, de imediato, o seu carisma. A outra metade está na autenticidade de sua encarnação da causa indígena. Ele é a grande voz índia do Brasil que calou indigenistas, antropólogos e missionários que pretendiam interpretá-la. Depois de Rondon, os índios do Brasil têm pela primeira vez um representante incontestável: Mário Juruna”.
Foi um crítico ferrenho da FUNAI, que segundo ele não representava os povos indígenas adequadamente. Como Deputado, conseguiu a aprovação do projeto que alterava a composição de sua diretoria, incluindo pessoas indicadas pelas comunidades indígenas, que podiam ser índios ou indigenistas reconhecidos.
Em 29/3/1984, a Rede Globo dedicou o programa “Globo Repórter” à análise da questão indígena no Brasil, onde Juruna foi apresentado junto com uma entrevista realçando sua luta pela demarcação das terras. Em 1986 tentou se reeleger na Câmara Federal. Não conseguiu, mas continuou participando na política mesmo sem cargo político. Em 1994 houve nova tentativa, mas não foi eleito. No ano seguinte atuou como assessor parlamentar na Câmara dos Deputados. Sua saúde era precária -sofrendo de diabetes e artrose infecciosa- e veio a falecer em 17/7/2002.