Aos 69 anos sofreu um abalo com a morte de sua amada e passou uma temporada em Nova Friburgo visando restauração. Com o abalo escreveu seu último soneto: A Carolina, uma de suas melhores poesias, segundo Manuel Bandeira uma das peças mais comoventes da Literatura Brasileira. Alguns biógrafos garantem que Machado visitava o túmulo todos os domingos. Em seguida publicou suas últimas obras: Esaú e Jacó (1904), Relíquias de casa velha (1906), Memorial de Aires (1908) e a última peça teatral Lição de botânica (1908).
Sem ânimo, continuou participando das reuniões na ABL, mais por dever de ofício, e manteve-se no trabalho como diretor-geral do Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas. Escreveu ao amigo Joaquim Nabuco: “Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo…”. Em janeiro de 1908, entrou em licença de saúde e passa a receber a visita dos amigos e admiradores. Nas últimas semanas, escreveu muitas cartas aos amigos. Tal como Mário de Andrade, cultivava a “literatura epistolar”, reunida nos 5 volumes de sua Correspondência de Machado de Assis. Faleceu em 29/9/1908, vitimado por uma úlcera cancerosa e epilepsia.
Rui Barbosa fez o elogio fúnebre, em nome da ABL, e o ministro do interior Tavares de Lyra discursou em nome do governo. No funeral, uma multidão dirigiu-se ao Cemitério São João Batista, onde foi sepultado ao lado da amada Carolina. Em 21/4/1999, a ossada do casal foi transladada para o Mausoléu da ABL. Seu legado é composto de 10 romances, 200 contos, 10 peças teatrais, 5 coletâneas de poesias e mais de 600 crônicas. São inúmeras as homenagens recebidas em vida e pós-morte. Ainda hoje a ABL é chamada de “Casa de Machado de Assis”. Seu maior prêmio literário também recebe o nome. É o escritor mais estudado da literatura brasileira.
Na condição de crítico literário, tinha uma noção precisa de seu significado: “Estabelecei a crítica, mas a crítica fecunda, e não a estéril, que nos aborrece e nos mata, que não reflete nem discute, que abate por capricho ou levanta por vaidade; estabelecei a crítica pensadora, sincera, perseverante, elevada – será esse o meio de reerguer os ânimos, promover os estímulos, guiar os estreantes, corrigir os talentos feitos; condenai o ódio, a camaradagem e a indiferença – essas três chagas da crítica de hoje; ponde, em lugar deles, a sinceridade, a solicitude e a justiça – e só assim que teremos uma grande literatura”, escreveu no Diário do Rio de Janeiro, em 8/10/1865.
Certamente, devido a este sentido, é que foi agraciado com uma “fortuna crítica” gigantesca. Qual o tamanho dessa “fortuna”? O pesquisador Elfi Kurten Fenske teve o trabalho de realizar um levantamento dos estudos, artigos, teses, ensaios etc. publicados sobre o autor e sua obra. O levantamento conta com 2630 referências bibliográficas publicadas na revista Templo Cultural Delfos, de fevereiro/2021 e disponível na Internet.
Em termos biográficos, vale citar Machado de Assis: estudo crítico e biográfico, de Lucia Miguel Pereira, publicado em 1936 e reeditado até hoje. Trata-se de uma das maiores críticas literárias e estudiosa da obra de Machado. Sua publicação provocou uma reviravolta na interpretação psicológica do autor e renovou o interesse em sua obra. Mais tarde outro crítico literário – Raimundo Magalhães Júnior – publicou a monumental biografia em 4 volumes: Vida e obra de Machado de Assis, em 1981, e vem sendo reeditada até agora. Aí são revelados novos aspectos do autor, mostrando um homem antenado com os problemas sociais e políticos do País. Outra biografia digna de nota – A vida de Machado de Assis – foi publicada por Luiz Viana Filho, em 1965.
O Crítico inglês John Gledson, especializado em sua obra, publicou Machado de Assis: ficção e história (1986) e Por um novo Machado de Assis (2006). São tantas as biografias que a profª Maria Helena Werneck chegou a publicar, em 1996, um livro investigando as biografias machadianas, analisando o momento histórico em que foram produzidas e deu-lhe um título apropriado: O homem encadernado: Machado de Assis na escrita das biografias.
O tempo passa e novos críticos apaixonados pela obra machadiana vão surgindo. Em 2005 Daniel Piza lançou uma biografia apresentando “uma nova abordagem da vida, da morte, da obra e, sobretudo do seu quotidiano numa perspectiva histórico-jornalística”: Machado de Assis – Um gênio brasileiro, lançado pela Imprensa Oficial. Uma biografia privilegiando o universalismo, a imprevisibilidade e o talento do autor. A magnitude do gênio literário não pode ser contemplada numa só biografia e novas facetas do homem e enforques de sua obra vão surgindo com o tempo.