Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu em 13/5/1881, no Rio de Janeiro, RJ. Jornalista, escritor, cronista e um dos precursores da reportagem, junto com João do Rio. Suas 440 crônicas apresentam um retrato vívido do Rio de Janeiro em princípios do século XX, quando a cidade passava por uma radical transformação urbana, alterando a estrutura social da cidade.
Filho de Amália Augusta, filha de escravizada e agregada da família Pereira Carvalho e de João Henriques de Lima Barreto, filho de uma antiga escravizada. Moravam próximo ao Largo do Machado e o pai era tipógrafo e funcionário da Imprensa Oficial. A mãe foi professora e faleceu quando o garoto tinha 6 anos. Em 1907, aos 26 anos, fez suas primeiras publicações na revista Fon-Fon, da qual tornou-se secretário, a pedido do poeta e jornalista Mário Pederneiras.
Sentindo-se desvalorizado no serviço, logo demitiu-se e lançou sua própria revista Floreal. Sua textos tiveram espaço nas principais revistas populares ilustradas e periódicos anarquistas do início do século XX, tais como as revistas ABC e Careta. Em 1911 iniciou a publicação do romance Triste fim de Policarpo Quaresma no Jornal do Commercio e lançou o livro em 1915, tendo a edição bancada com seus próprios recursos. Por esta época, as crises de alcoolismo e depressão tornaram-se mais agudas, provocando sua primeira internação no Hospital dos Alienados, em 1914. Voltou a trabalhar em algumas revistas, em 1916, publicando artigos de viés político. Em seguida os problemas de saúde retornaram e ele teve que ser aposentado em 1918. No ano seguinte, publicou o romance Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá pela editora Revista do Brasil, de Monteiro Lobato. Os períodos de internação no hospício resultaram na composição de diversos diários e no romance inacabado Cemitério dos vivos.
Foi excluído da crítica oficial – no período 1909-1922 – com um silêncio implacável quanto aos seus escritos. Mesmo antes disso já não encontrava editores interessados em sua obra, levando-o a tentar a edição em Portugal. Assim, foi publicado o romance Recordações do Escrivão Isaías Caminha, em 1907, pela Livraria Clássica de Lisboa. Sua posição combativa e crítica contundente, aliado ao preconceito de cor e ao alcoolismo, custaram-lhe a marginalidade e a indiferença da elite cultural. Tal fato pode se comprovar na descoberta e valorização de sua obra após sua morte, em 1/11/1922 aos 41 anos.
A maior parte de sua obra foi redescoberta e publicada após sua morte através do esforço de seu biógrafo Francisco de Assis Barbosa. Logo após seu falecimento, o editor Jacinto Ribeiro dos Santos publicou Os Bruzundangas, uma sátira da vida brasileira nos primeiros anos da República. Além deste, foram publicados Bagatelas, em 1923, e Clara dos Anjos, em série, na Revista Santa Cruz em 1923-1924. Outras obras, como Cemitério dos vivos, Diário íntimo e parte da correspondência pessoal, foram publicadas nas décadas de 1940 e 1950, a partir das pesquisas de Francisco de Assis Barbosa.
Seu talento como escritor foi reconhecido por Monteiro Lobato, conforme escreveu, em 1/19/1916, ao seu amigo Godofredo Rangel: “Conheces Lima Barreto? Li dele, na Águia, dois contos, e pelos jornais soube do triunfo do Policarpo Quaresma, cuja segunda edição já lá se foi. A ajuizar pelo que li, este sujeito me é romancista de deitar sombras em todos os seus colegas coevos e coelhos, inclusive o Neto. Facílimo na língua, engenhoso, fino, dá impressão de escrever sem torturamento – ao modo das torneiras que fluem uniformemente a sua corda-d’água”.
Outros críticos se manifestaram de modo diverso, porém reconhecendo o talento do autor. Antônio Cândido, ao observar sua concepção literária, considera que “de um lado favoreceu nele a expressão escrita da personalidade”, enquanto “de outro pode ter contribuído para atrapalhar a realização plena do ficcionista”. Ressalta o valor de sua “inteligência voltada com lucidez para o desmascaramento da sociedade e a análise das próprias emoções”, mas também afirma ser ele um escritor que não atingiu toda a sua potencialidade como narrador. Osman Lins afirmou que, para além de realizações estéticas desiguais, há “certas características de ordem literária e humana que atravessam todos os seus livros – ou, até, todas as suas páginas –, dando-lhes grande homogeneidade”, concluindo que “sua obra tão variada é um bloco coerente e em toda ela reconhecemos, inconfundível, nítida, a personalidade do autor”.
Foi o crítico mais agudo de sua época, rompendo com o nacionalismo ufanista e pondo a nu a roupagem republicana que manteve os privilégios de famílias aristocráticas e dos militares. Definindo seu projeto literário como o de escrever uma “literatura militante” — apropriando-se da expressão de Eça de Queirós — sua obra está quase inteiramente voltada para a investigação das desigualdades sociais, da hipocrisia e da falsidade dos homens e das mulheres em suas relações dentro da sociedade. Em muitas obras, o método adotado para tratar desses temas é o da sátira, cheia de ironia, humor e sarcasmo. Foi severamente criticado por alguns escritores de seu tempo por seu estilo despojado e coloquial, que Manuel Bandeira chamou de “fala brasileira” e que acabou influenciando os escritores modernistas.
Foi Homenageado, no carnaval do Rio de Janeiro de 1982, pela Escola de Samba Unidos da Tijuca, com o samba-enredo Lima Barreto, mulato pobre mas livre e 15ª edição Flip-Festa Literária Internacional de Paraty, em 2017. Duas excelentes biografias dão conta de seu legado literário: A vida de Lima Barreto, de Francisco de Assis Barbosa, publicada em 2002 pela José Olympio Editora e Lima Barreto: triste visionário, de Lilia Moritz Schwarcz, pela Cia. das Letras em 2017.