Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo nasceu no Recife, em 19/8/1849. Advogado, político, orador, memorialista e diplomata reconhecido como um dos maiores homens públicos do Brasil. Liderou a campanha Abolicionista, tendo nascido e criado no meio da aristocracia escravista. Viveu até os oito anos, com a madrinha no engenho Massangana. Em seguida mudou-se com os pais para o Rio de Janeiro, onde estudou no Colégio Pedro II. Em 1865, foi morar em São Paulo, onde fez os três primeiros anos do curso de Direito e concluiu no Recife, em 1870. Foi colega de Castro Alves, que lhe incutiu as bases de seu caráter literário e abolicionista. Aos 20 anos, ainda estudante, assumiu o caso de um escravo acusado de assassinato, defendendo-o perante o tribunal do júri de Recife.
Em 1873, durante uma viagem à Europa, manteve um relacionamento amoroso com a investidora financeira e filantropa Eufrásia Teixeira Leite, detentora de uma das maiores fortunas do mundo na época. Ela herdou, em 1872, uma fortuna equivalente a 5% do valor das exportações brasileiras. O romance durou até 1887 e dois anos depois, aos 38 anos, casou-se com Evelina Torres Soares Ribeiro. Foi adido de primeira classe na Embaixada de Londres e depois em Washington, de 1876 a 1879. Como era filho do Senador José Tomás Nabuco de Araújo e de Ana Benigna Barreto Nabuco de Araújo, estava destinado a ter uma atividade política. Porém se opunha aos interesses dos poderosos senhores de engenho, e isto dificultou sua entrada na vida política. Começou escrevendo artigos abolicionistas para diversas revistas.
Em 1878, com a volta ao poder do Partido Liberal, onde seu pai era influente, foi eleito deputado geral e lutou pela eleição direta, pela participação dos não católicos no Parlamento e, principalmente, pela abolição total da escravidão sem indenizações aos donos de escravos. Criou a Sociedade Anti-Escravidão Brasileira, escrevendo um manifesto; fundou o jornal “O Abolicionista”: e viajou pelo exterior para divulgar a causa e obter apoio. Teve o apoio imediato da Inglaterra, uma das nações que mais combatia a escravidão, que se constituía num empecilho à sua expansão industrial e comercial em todo o mundo. Porém, mesmo assim, não conseguiu demover o conservadorismo na política nacional e foi derrotado nas eleições seguintes. Foi morar em Londres, onde viveu entre 1882-1884, e escreveu O abolicionismo, livro em que aproveitou para expor suas ideias sobre a reforma agrária. Seu plano era perfeito: beneficiar os negros libertos com terras para viver e trabalhar. Se fosse implantado, hoje o Brasil estaria noutro patamar de desenvolvimento.
De volta ao Brasil foi novamente deputado, e continuou com sua campanha abolicionista escrevendo diversos livretos antiescravagistas. Noutra viagem à Londres, apresentou uma proposta na Associação de Direito Internacional e, em Roma, fez uma visita ao Papa Leão XIII, que chegou a lhe prometer uma encíclica em favor da abolição. Apesar das ideias progressistas, mantinha o ideal monarquista com receio da perda da unificação territorial, como ocorreu com a América espanhola desmembrada em 18 repúblicas. No entanto, o ideal republicano crescia a cada dia. Para defender a monarquia, apresentou, em 1885, um projeto de monarquia federativa, defendendo a descentralização do poder para dar mais autonomia às províncias. Tal estratégia visava atender os anseios republicanos sem abrir mão da monarquia. Ele não via contradição política neste posicionamento, pois admirava o sistema presidencialista dos EUA e a monarquia parlamentar inglesa. Deixou registrado seu apreço pela monarquia no livro Por que continuo a ser monarquista (1890).
Em 1888, com fim da escravidão, recebeu o título de visconde, mas recusou a comenda do governo imperial. Em seguida, com a proclamação da República, em 1889, passou a dedicar-se mais à vida de escritor memorialista. Nessa fase de espontâneo afastamento, viveu no Rio de Janeiro, exercendo a advocacia e fazendo jornalismo. Frequentava a redação da Revista Brasileira, onde estreitou relações e amizade com altas figuras da vida literária brasileira, Machado de Assis, José Veríssimo, Lúcio de Mendonça, de cujo convívio nasceria a Academia Brasileira de Letras. Ele foi o fundador da Cadeira nº 27 e secretário-geral até 1899 e de 1908 a 1910.
Nesse período publicou duas de suas obras mais importantes: Um estadista do Império (1897-1899), em 3 volumes, uma biografia de seu pai e relato da história do Brasil naquele período e Minha formação (1900), livro de memórias. Na época o Brasil ainda não tinha embaixadas em outros países; o que havia eram legações para discutir questões diplomáticas. Mas, com a República era preciso estreitar os laços com outras nações através de embaixadas. Em 1900, o Presidente Campos Sales conseguiu convencê-lo a aceitar o posto de enviado extraordinário e ministro plenipotenciário em missão especial em Londres, na questão do Brasil com a Inglaterra, a respeito dos limites da Guiana Inglesa. Em 1901, foi acreditado em missão ordinária, como embaixador do Brasil em Londres e, a partir de 1905, foi indicado pelo barão do Rio Branco, para assumir a primeira embaixada brasileira no exterior, em Washington, onde permaneceu até a morte. Ao lado de tantas atividades, vale acrescentar que, junto com Rui Barbosa, assumiu posição de destaque na luta pela liberdade religiosa no Brasil. Na época, a religião católica era oficial, fazendo do Brasil um Estado confessional. Ele defendia a separação entre Estado e Religião, bem como a laicidade do ensino público.
Em 1906, veio ao Rio de Janeiro para presidir a 3ª. Conferência Pan-Americana, em companhia do Secretário de Estado norte-americano Elihu Root. Ambos eram defensores do pan-americanismo, no sentido de uma ampla e efetiva aproximação continental. Foi muito prestigiado não apenas junto ao governo norte-americano, bem como ao povo e a comunidade acadêmica. Proferiu diversas palestras nas universidades sobre a cultura brasileira e foi um grande propagador dos Lusíadas, de Camões. Tais incursões na área literária lhe garantiram o grau de “doutor em letras” pela universidade de Yale. Quando faleceu, em Washington, em 17/1/1910, seu corpo foi reverenciado em solenidade excepcional, conforme fotos abaixo, e trasladado para o Brasil, no cruzador North Caroline. Do Rio de Janeiro foi transportado para o Recife, onde foi sepultado no Cemitério de Santo Amaro. As solenidades de sepultamento em Washington, Rio de Janeiro e Recife duraram em torno de um mês.
Após o falecimento, as homenagens são frequentes até agora. Em 1949 foi criada a Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), vinculada ao Ministério da Educação, com o propósito de preservar seu legado histórico-cultural; na década de 1990, o Engenho Massangana, onde ele passou a infância, foi tombado pelo Patrimônio Histórico sob o nome de Parque Nacional da Abolição. Em seguida, a FUNDAJ criou em suas dependências o Centro Científico e Cultural Engenho Massangana (CCEM). Outras homenagens: na data de seu nascimento, 19 de agosto, comemora-se o Dia do historiador; a lei nº ei nº 11.946, de 15/6/2009, instituiu o ano de 2010 como “Ano Nacional Joaquim Nabuco”; em 2/6/2014, seu nome foi inscrito no “Livro dos Heróis da Pátria”, pela Lei nº 12.988; em 28/9/1915, seu nome passou a designar uma das praças públicas mais importantes do Recife, onde se encontra sua estátua.
Praça Joaquim Nabuco e sua estátua frente ao Restaurante Leite, o mais antigo do Brasil
Cenas do funeral de Joaquim Nabuco em Washington, em abril de 1910:
Na primeira foto: Chegada do ataúde, numa carreta de artilharia, à Igreja de São Mateus. Na segunda: O Presidente dos EUA, William H. Taft e a Sra Taft chegando à Igreja.
Na primeira foto: Os marinheiros do North Carolina formados em frente ao Palácio Monroe. Na segunda: As representações oficiais ao saírem do Palácio Monroe, onde ficou exposto o corpo de Joaquim Nabuco.