João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto nasceu em 5/8/1881, no Rio de Janeiro, RJ. Jornalista, escritor, cronista, tradutor, teatrólogo e pioneiro da crônica-reportagem no Brasil. Foi um dos principais retratistas da sociedade carioca no início do século XX, focado nos costumes, hábitos e rituais de seus membros mais requintados, bem como dos mais pobres. Transformou a crônica social num gênero literário cultivado pela imprensa diária.
Filho de Florência dos Santos Barreto e do prof. Alfredo Coelho Barreto, teve os primeiros estudos no Colégio São Bento e no Ginásio Nacional, atual Colégio Pedro II. Seu primeiro texto foi publicado aos 17 anos, no jornal A Tribuna, uma crítica sobre a peça Casa de Bonecas, de Ibsen. No período 1900-1903 colaborou em diversos jornais: O Paiz, O Dia, Correio Mercantil, O Tagarela e O Coió, até chegar na Gazeta de Notícias, indicado por Nilo Peçanha e permanece até 1913. Aí adotou o pseudônimo João do Rio, em 16/11/1903, através do qual ficou famoso.
A fama iniciou com o texto de abertura do álbum sobre o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, lançado pelo Photo Musso, em 1913, onde divergiu de seu amigo Arthur Azevedo, ao elogiar o pano de boca do Theatro, pintado por Eliseu Visconti, cuja concepção foi muito atacada por seu amigo. Tal querela ajudou-o a ficar conhecido no público e firmar um novo tipo de jornalismo na imprensa brasileira. Até então, o exercício do jornalismo e da literatura por intelectuais era visto como “bico”, um passatempo de funcionários públicos. Foi diretor da revista Atlântida: mensário artístico literário e social para Portugal e Brazil (1915-1920), ajudou a fundar o jornal A noite e colaborou na revista Serões (1901-1911).
Em 1904 fez algumas reportagens sobre a Umbanda e o Candomblé, seguidas da publicação do livro As Religiões no Rio, inovando na temática e no modo de enfoque, adotando o “jornalismo investigativo”. Foi um bestseller na época, relançado mais tarde pela Editora Nova Aguilar (1976) e pela Editora José Olympio (2006). O livro serviu de base para todos os pesquisadores que escreveram sobre o assunto e antecipou em mais de 25 anos as publicações de Nina Rodrigues sobre o tema. Seu pioneirismo na aliança do jornalismo com a literatura contribuiu para seu ingresso na ABL-Academia Brasileira de Letras, em 1910. Era um profissional bem relacionado no meio jornalístico. Em 1911 seu colega Irineu Marinho pediu-lhe emprestado 20 contos de réis para fundar o jornal A Noite.
Seu comportamento e vestimenta era a de um “dândi de salão”, como diziam e diziam também que era homossexual. Assim, na condição de mulato foi um alvo perfeito para toda sorte de racistas e homofóbicos. Foi amigo íntimo da bailarina Isadora Duncan, que conheceu em Lisboa, e conta-se a história que ela, na temporada que passou no Rio, interpelou-o sobre sua orientação sexual. A resposta foi “Je suis trés corrompu” (Sou completamente corrupto). Pode-se dizer que ele foi o introdutor no Brasil da obra de Oscar Wilde, com a tradução de vários livros.
Em 1920 fundou o jornal A Pátria, onde defendeu os “poveiros”, pescadores lusos oriundos de Póvoa de Varzim, que abasteciam de pescado a cidade do Rio. Havia a ameaça de uma lei exigindo que a pesca fosse exercida por brasileiros, obrigando a naturalização dos lusos para poder continuar na profissão. Devido a esta defesa da colônia portuguesa, arrebanhou muitos inimigos e muitas ofensas morais, chegando a levar uma surra de nacionalistas enfurecidos. Portugal soube retribuir a simpatia de seu gesto com seu nome dado a uma rua no centro da cidade de Póvoa de Varzim.
O bom relacionamento com Portugal vem de 1913, quando se tornou sócio correspondente da Academia de Ciências de Lisboa. Após sua morte ergueram um pequeno monumento na Praça João do Rio, em Lisboa, com suas palavras: “Nada me devem os portugueses por amar e defender portugueses, porque assim amo, venero e quero duas vezes a minha pátria”. No Brasil, o nome Paulo Barreto ganhou apenas uma rua inexpressiva no bairro de Botafogo, mas quase ninguém sabe que se trata do conhecido João do Rio.
Faleceu em 23/6/1921, vitimado por um enfarte do miocárdio fulminante, dentro de um táxi. A notícia correu toda a cidade rapidamente e levou cerca de 100 mil pessoas no cortejo até o cemitério São João Batista. Seu túmulo é considerado um dos mais belos trabalhos de arte funerária. Sua vida e legado estão registrados em 2 biografias: João do Rio: uma biografia, de João Carlos Rodrigues, publicadas pela Ed. Topbooks, em 1996 e João, João do Rio, uma edição voltada ao público infantojuvenil, de Fabiano Ormaneze, publicada pela Ed. Mostarda, em 2023. A FLIP-Feira Literária de Paraty de 2024, anunciou que nesta 22ª edição, de outubro, João do Rio será o autor homenageado.