OS BRASILEIROS: Hermilo Borba Filho
Jose Domingos Brito
Hermilo Borba Filho nasceu em 8/7/1917, em Palmares, PE. Advogado, crítico literário, escritor, jornalista, tradutor, dramaturgo e diretor teatral. Ingressou no Teatro de Amadores de Pernambuco junto com Ariano Suassuna, com o qual fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco e mais tarde criou o Teatro Popular Nordeste e o Teatro de Arena do Recife. Um expoente destacado no Teatro Brasileiro, na Literatura e na pesquisa da cultura nordestina.
Criado numa tradicional família de usineiros no Engenho Verde na Zona da Mata, teve os primeiros estudos em Palmares e logo mudou-se para o Recife, para estudar na Faculdade de Direito. Tornou-se advogado, mas nunca exerceu a profissão. Já na faculdade tomou gosto pelo teatro e passou a atuar junto com os amigos Valdemar de Oliveira, Ariano Suassuna e Samuel Campelo. Em 1947 iniciou como crítico de teatro com a coluna “Fora de Cena”, publicada na Folha da Manhã, do Recife. Em seguida, mudou-se para São Paulo, onde viveu 5 anos e manteve a crítica teatral nos jornais Última Hora, Correio Paulistano e na revista Visão, além de integrar a Comissão Estadual de Teatro.
Em 1957 foi premiado pela APCT-Associação Paulista de Críticos Teatrais como diretor revelação, com a peça Auto da compadecida, de Ariano Suassuna. De volta ao Recife, em 1958, passou a lecionar na Universidade do Recife (atual UFPE) e fundou o TPN-Teatro Popular do Nordeste, em 1960, junto com Ariano Suassuna e outros amigos. Pouco depois criou o Teatro de Arena do Recife junto com Alfredo de Oliveira, trabalhando ao lado de Gastão de Holanda, Capiba, José Carlos Cavalcanti Borges, Aldomar Conrado e Leda Alves. Neste ano encenou peças de Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri, Dias Gomes, Osman Lins, Gogol, Ibsen e Max Frish, bem como sua peça O cabo fanfarrão.
Sua companhia teatral acumulou um déficit permanente, fazendo-o atrair operários e estudantes e manter convênios com entidades do comércio e indústria. Mas não consegue liquidar as dívidas e fecha o teatro de 90 lugares. Numa entrevista, questionado se algum dia ganhou dinheiro com teatro, ele cita a montagem de Dercy Gonçalves para sua versão de A Dama das Camélias como exemplo único, e acrescenta: "mas, de repente, verifiquei que a prostituição era muito pesada, e parei". No período 1959-1968 foi premiado diversas vezes pela Associação dos Críticos Teatrais de Pernambuco e em 1969 recebeu o título de Chevalier de L’Ordre des Arts et Letres, do governo francês. Por esta época fundou o MCP-Movimento de Cultura Popular junto com Paulo Freire e Ariano Suassuna, entre outros simpatizantes do Partido Comunista, vindo a sofrer perseguição política. Foi autor de 18 peças teatrais e 11 livros entre romances e contos.
Seu primeiro romance -Os caminhos da solidão- saiu em 1957, pela Editora José Olympio. Como dedicava-se mais ao Teatro, o segundo -Sol das almas- só veio sair em 1964 pela Ed. Civilização Brasileira. Em 1966 empreendeu a escrita de uma tetralogia -Um cavalheiro da segunda decadência-, publicada pela mesma editora e ficou conhecido em âmbito nacional: (1) Margem das lembranças (1966); (2) A porteira do mundo (1967); (3) O cavalo da noite (1968); (4) Deus no Pasto (1972). O volume 3 discorre sobre um intelectual nordestino em São Paulo, na década de 1950, numa atribulada vida boêmia. Um livro de cunho memorialístico e autobiográfico, que suscitou uma comparação entre o autor e seu dramaturgo predileto Henry Miller.
Seu legado na área teatral vai além da direção e autoria de peças. Publicou Teatro, arte do povo e reflexões sobre a mise en scène (1947), resultado de 2 palestras; História do Teatro (1950), o primeiro manual de história do teatro editado no Brasil; Teoria e prática do teatro (1960); Diálogo do encenador (1964); Espetáculos populares do Nordeste e Fisionomia e espírito do mamulengo (1966) e nova edição da História do teatro, com o título História do espetáculo, em 1968. Seu objetivo foi colocar em prática a fusão ente o popular e o erudito, o mesmo objetivo palmilhado por Ariano Suassuna, com o surgimento do “Movimento Armorial”, em 1970.
Num artigo publicado no Diário de Pernambuco, Benjamin Santos, ex-integrante do TPN, relata algumas características do teatro de Hermilo e conclui: “Mais importante, porém, que todos esses aspectos encontrados é a concretização de uma estética do espetáculo. [...] Em resumo, seria um teatro com o canto, a dança, a máscara, o boneco, o bicho... uma recriação do espírito popular nordestino [...]; o homem brasileiro posto no palco com toda a sua luta, o sofrimento, a derrota, a insistência, a vitória; um teatro de intensidade emocional e crítica, um teatro vivo, aberto, sem a ilusão da quarta parede, permitindo ao público a compreensão maior de sua própria história. O teatro como um ato político e religioso a um só tempo. Esta é a busca de Hermilo”.
Em meados da década de 1970 teve um abalo na saúde e telefonou para seu amigo José Paulo Cavalcanti Filho, em 26/5/1976. Disse-lhe que iria morrer dentro de uma semana e que precisava falar com ele. José Paulo foi até sua casa e tiveram uma conversa antológica, que deverá ser publicada em livro. A conversa ocorreu numa 4ª feira e Hermilo faleceu na 4ª feira seguinte, em 2/6/1976. José Paulo concluiu que seu amigo “era um homem de palavra”. A Prefeitura de Palmares deu seu nome à Fundação Casa de Cultura da cidade, em 1983. Em seguida a Prefeitura do Recife criou o Centro de Formação das Artes Cênicas Apolo-Hermilo, formado pelo Teatro Hermilo Borba Filho e o Teatro Apolo, em 1988. Uma coletânea de 12 de suas peças foi reeditada e incluída na Coleção Teatro Selecionado, editada pela FUNARTE. Em 2018, no centenário de seu nascimento, o Governo do Estado mudou o nome do “Prêmio Pernambuco de Literatura” para “Prêmio Hermilo Borba Filho de Literatura”.
Sua obra foi analisada no livro Hermilo Borba Filho: fisionomia e espírito de uma literatura, de Sônia Maria Van Dijck Lima, publicado pela Ed. Atual em 1986. Outra oportuna análise sobre o autor e obra encontra-se no livro Hermilo Borba Filho: memória de resistência e resistência da história, publicado por Geralda Medeiros Nóbrega pela Ed. da Universidade Estadual da Paraíba, em 2015.
Hermilo Borba Filho, o cronista dos anos 1970: