Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial domingo, 29 de setembro de 2024

OS BRASILEIROS: Guimarães Rosa II (CRÔNICA DO COLUNISTA JOSÉ DOMINGOS BRITO)

OS BRASILEIROS: Guimarães Rosa II

José Domingos Brito

Não deixa de ser um prenúncio do que viria 12 anos depois com a publicação de sua obra-prima Grande sertão: Veredas, em 1958. Considerada uma das grandes obras da literatura brasileira, segundo os críticos, a obra “renova a linguagem narrativa, sobretudo as noções de tempo, espaço e personagem. O andamento do enredo não segue a cronologia linear. Os episódios têm ritmo aparentemente caótico, sem obedecer à sequência temporal própria do romance realista, e o espaço é dimensionado pelo fluxo de viagem”.

 

 

Para escrevê-lo, o autor realizou duas viagens: em 1945, foi ao interior de Minas Gerais rever as paisagens de sua infância, e em 1952, acompanhou a condução de uma boiada pelo sertão mineiro que marcaria sua vida e sua obra. Junto com 8 vaqueiros e levando 300 cabeças de gado, percorreu em 11 dias os 240 quilômetros que separam Três Marias e Araçaí, na região central de Minas Gerais. A viagem foi toda feita a cavalo e durou 11 dias. Munido de pequenas cadernetas e lápis de duas pontas pendurado no pescoço, ele perguntava tudo aos vaqueiros e anotava na caderneta.

O próprio Rosa qualificou esta obra como uma “autobiografia irracional”, marcada por elementos regionalistas, existencialistas e religiosos. Ainda, segundo os críticos, sua prosa faz uso de “uma linguagem levada ao limite por meio de recursos como a fusão de fala popular, expressões regionais, neologismos, palavras indígenas e construções inusitadas de frases que, por vezes, se chocam com a própria sintaxe da língua portuguesa. O escritor traz à tona a complexidade da experiência humana com uma linguagem única e inventiva. Explora as formas de narrar subvertendo a cronologia linear e cria cenários tão profundamente brasileiros quanto imaginativos e oníricos”.

Diante de tantas análises e questões sobre seu estilo literário, ele chegou a ensaiar uma reposta: “Escrevo, e creio que este é o meu aparelho de controle: o idioma português, tal como o usamos no Brasil; entretanto, no fundo, enquanto vou escrevendo, eu traduzo, extraio de muitos outros idiomas. Disso resultam meus livros, escritos em um idioma próprio, meu, e pode-se deduzir daí que não me submeto à tirania da gramática e dos dicionários dos outros. A gramática e a chamada filologia, ciência linguística, foram inventadas pelos inimigos da poesia”. Mas poderia responder de modo diferente, como o fez noutra oportunidade, de modo mais poético: “Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens”.

Sua literatura recupera também o universo onírico da cultura popular, o gosto pela história e o estilo assombroso dos “casos”, de enredo curto e cheio de surpresas. “Em muitos desses textos breves, o sertão continua vestido de Idade Média, com cavaleiros corteses, e mulheres-damas, que jamais perdem a condição de senhora a quem se serve por amor e por quem se guerreia, e para quem se empreende a travessia dos medos. Nas narrativas, porém, os tipos medievais aparecem travestidos de jagunços, fazendeiros, prostitutas, beatos e loucos”.

Sua obra foi estudada em muitas teses e dissertações acadêmicas e por diversos críticos sob diversos ângulos, com destaque para alguns livros: WILLI BOLLE (2004), com grandesertão.br: o romance de formação do Brasil. Editoras Duas Cidades/Ed. 34; EDUARDO COUTINHO (1991), com Guimarães Rosa. Editora Civilização Brasileira; WALNICE NOGUEIRA GALVÃO (1986), com As formas do falso: um estudo sobre a ambiguidade no Grande sertão: veredas. Editora Perspectiva; ETTORE FINAZZI-AGRÒ (2001), com Um lugar do tamanho do mundo: tempos e espaços da ficção em João Guimarães Rosa. Editora da UFMG; FRANCIS UTÉZA (1994), com João Guimarães Rosa: metafísica do Grande sertão. Editora da USP, entre outros.

A partir de 1961, passou a escrever uma coluna semanal de contos no jornal O Globo e no mesmo ano ganhou o Prêmio Machado de Assis, da ABL, pelo conjunto da obra. Muitos dos contos publicados são compilados nas coletâneas Primeiras Estórias (1962) e Tutameia (1967), seu último livro, uma nova coletânea de contos e nova efervescência no meio literário, novo êxito de público. A obra, aparentemente hermética, divide a crítica. Uns veem o livro como “a bomba atômica da literatura brasileira”; outros consideram que em suas páginas encontra-se a “chave estilística da obra de Guimarães Rosa, um resumo didático de sua criação”. Por esta época suas obras são continuamente editadas e reeditadas em todo o mundo, e seu nome foi indicado para o Prêmio Nobel de Literatura, numa iniciativa de seus editores alemães, franceses e italianos.

Foi eleito por unanimidade para a ABL em 1963, mas não tomou posse. Supersticioso, temendo ser tomado por uma forte emoção no momento de sua consagração, adiou a cerimônia de posse por quatro anos. Em 1967, na cerimônia de posse, chegou a afirmar, em tom de despedida, como se soubesse o que se passaria ao entardecer do domingo seguinte: “…a gente morre é para provar que viveu.” e faleceu 3 dias depois, em 19/11/1967, vitimado por um infarto fulminante, prematuramente aos 59 anos, no auge da carreira literária e diplomática.

 


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